Irmandade empenhada em reactivar culto a São Crispim e São Crispiniano, padroeiros dos sapateiros
A festividade aos patronos dos sapateiros, curtidores, surradores e tamanqueiros está a ser reactivada em Guimarães. A Irmandade de São Crispim e São Crispiniano está empenhada em incrementar o culto, organizado esta terça-feira uma celebração simbólica: pelas 19h00 realiza-se uma eucaristia, seguida de um momento musical, na capela situada na Rua da Rainha D. Maria II.
"A mensagem dos nossos patronos está sempre presente na vida da Irmandade de S. Crispim e de S. Crispiniano". As palavras de José Pereira, Juiz daquela instituição, sintetizam o sentimento que orienta a organização que, ano após ano, serve a Ceia de Natal no albergue de S. Crispim, naquela que é a manifestação principal dessa missão.
"Este ano", afirma o responsável, "entendeu-se que era preciso assinalar com dignidade o São Crispim e São Crispiniano, dois irmãos que dedicaram a vida a espalhar a mensagem de amor e solidariedade; dois mártires do cristianismo que, concerteza, influenciaram determinantemente os dois mestres sapateiros que, em 1315, fundaram a Irmandade em Guimarães".
O Albergue fundado na Idade Média, durante muitos anos, serviu para o recolhimento dos pobres, tendo sido também local de abrigo para os peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela.
Com a capela e sacristia, todo o conjunto arquitectónico é um peça-chave para o entendimento da evolução urbanística e das técnicas tradicionais de construção características da singularidade do Centro Histórico. "Temos aqui um tesouro que é preciso cuidar constantemente", observa José Pereira que por estes dias tem acompanhado as pequenas intervenções de manutenção das pinturas e das madeiras nos diversos espaços da Instituição, de forma a que a festividade tenha o brilho necessário, ficando todo o conjunto também preparado para receber os convivas na ceia de Natal. "Vem aqui quem quiser, as portas estarão abertas para todos", comentou, dando conta que essa alegria da partilha da época natalícia foi incentivada pelo legado dos seus patronos.
De facto, conta-se que São Crispim e São Crispiniano eram dois irmãos nobres, romanos, que foram considerados pela igreja católica como mártires. Ficaram conhecidos como os apóstolos do Norte de França, onde dedicaram-se ao ofício de sapateiros para sobreviver.
Com as perseguições aos cristãos, ordenadas pelo Imperador Diocleciano, em 303, os dois irmãos foram presos e martirizados. As cabeças foram-lhes cortadas e, mais tarde, levadas para Roma e guardadas numa Igreja, enquanto os corpos ficaram em França, na cidade Soissons, depositados numa igreja que lhes foi erigida e dedicada pelos sapateiros da região. São venerados como oragos dos sapateiros, celebrando-se a sua festa a 25 de Outubro.
Pensa-se que a eles se deve o costume tradicional de colocar os sapatos das crianças, nas chaminés, na véspera de Natal.
Segundo a lenda, ao fugirem das perseguições, foram acolhidos por uma mulher pobre que vivia com um filho num bosque e que dividiu o pouco que tinha com eles naquela noite.
Comovidos com a atitude, São Crispim e São Crispiniano passaram a madrugada do dia confeccionando um par de sapatos para o filho e fizeram uma oração pedindo que a família fosse amparada. Deixaram o par de sapatos do lado da lareira e foram embora sem acordar os moradores da casa. Na manhã seguinte, quando a mulher acordou, encontrou os sapatos com moedas de ouro e assim a história se espalhou por toda a Europa, chegando também a Guimarães.
Por isso, acredita-se que deixar meias ou sapatos perto da lareira no Natal atrai prosperidade e fartura para o lar.
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