O ano 2024 e desafios para 2025
1. Decorridos uns breves oito dias sobre a passagem do ano 2024 para 2025, é tempo para recordar alguns
dos acontecimentos que ficaram a marcar o ano findo e referir alguns desafios que se colocam no que agora se inicia.
Depois, a nível nacional e no plano político, poder-se-á dizer que as eleições legislativas antecipadas de 10 de Março na sequência da demissão do
primeiro-ministro António Costa em Novembro de 2023 terão constituído o principal acontecimento de 2025, eleições que acabaram por dar a vitória por
reduzida margem à Aliança Democrática liderada por Luís Montenegro e uma subida vertiginosa ao partido de André Ventura, com 50 deputados, gerando um Parlamento fortemente fragmentado. Neste plano ainda, merecem especial destaque as comemorações dos 50 anos do 25 de abril, a Revolução dos Cravos, a qual, depois de um conturbado período haveria de conduzir Portugal ao grupo dos países democráticos.
Outro facto relevante no panorama político foi a nomeação de António Costa como Presidente do Conselho Europeu, seja pelo prestígio alcançado junto dos seus pares aquando da função de primeiro-ministro de Portugal, seja pelo seu perfil propício a conseguir pontes numa União cada vez mais fragilizada pela presença de governos iliberais instalados em alguns países do antigo Leste europeu.
No plano da segurança poder-se-á referir a fuga mal explicada de 5 perigosos reclusos da prisão de alta segurança de Vale de Judeus dos quais foram capturados apenas 3; os violentos incidentes desencadeados na área de Lisboa com tiroteio num salão de cabeleireiro de que resultaram 3 mortos, assim como o caso da morte de um homem de origem Cabo-Verdiana, Odair Moniz, por um polícia da Amadora que originou, durante vários dias, uma série de gravíssimos actos de vandalismo. Ainda neste plano, merecem destaque os incêndios florestais de grande escala ocorridos em Setembro na Região Norte e Centro de que resultaram 9 mortos,170 feridos e 135.000 hectares destruídos.
Ao nível do desporto fica a nomeação de Portugal, conjuntamente com Espanha e Marrocos, como países anfitriões do Campeonato do Mundo de
Futebol de 2030.
3. A marcar o ano 2024 a nível Internacional figurará a eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, consequência da ausência de
eleições primárias do Partido Democrático que, na sequência da desistência do presidente Joe Biden, se viu obrigado a lançar como candidato a frágil vicepresidente em exercício, Kamala Harris, assim trazendo uma grande incógnita para o futuro face às graves crises que no momento apoquentam o mundo, como sejam as guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, a crise económica e social que afecta as principais economias europeias e, sobretudo, o confronto pela hegemonia económica e tecnológica mundial disputada pela China aos Estados Unidos da América.
4. O ano 2025 que agora se iniciou aparece carregado de incertezas e desafios para o mundo inteiro. Para Portugal, sendo possível dizer que a
habitação, a saúde e a educação são o que mais directamente afligem o quotidiano dos portugueses, aquilo que na verdade mais ameaça o seu futuro
serão o envelhecimento da população, a baixa produtividade da economia e a escassez de recursos humanos, sobretudo os mais qualificados, devendo, por isso, constituírem claramente, os principais desígnios das acções dos nossos governantes.
Alguns passos, nesse sentido, vão-se manifestando através de algumas medidas avulsas vindas a público nos últimos meses, manifestamente
insuficientes e ineficazes pela dimensão conseguida, consequência do actual espectro parlamentar. Assim, a luta contra a fuga dos jovens qualificados para os países europeus mais desenvolvidos que neste mercado global concorrem com Portugal, dificilmente poderá ser bem sucedida com os incentivos fiscais apontados no orçamento deste ano. Na verdade, o valor dos impostos sobre o seu rendimento em Portugal que agora se pretende reduzir, está longe do nível de vencimento obtido lá fora que chega a ser três a quatro vezes superior ao cá conseguido.
Também a descida do IRC das empresas de 21% para 20%, não passando de um simples gesto inócuo, está longe de obter a desejada captação das
empresas necessárias ao aumento da produtividade, aquelas que pela sua alta capacidade de gerar importantes valores acrescentados poderão pagar
vencimentos semelhantes aos conseguidos nos países desenvolvidos. Essas, que facturam valores superiores a 50 milhões de euros anuais, não ignoram também as derramas estaduais e municipais que chegam aos 10,5 %, empurrando assim os impostos sobre os lucros para os 31,5 %.
Apesar das pesadas nuvens negras que despontam no horizonte do mundo inteiro, que não devemos ignorar, tenhamos fé e acreditemos que prevalecerá o bom senso na condução dos nossos destinos.
Votos de Bom Ano para todos.
Guimarães, 6 de Janeiro de 2025
António Monteiro de Castro