Tempo de reflexão quaresmal e eleitoral
1.Com a cerimónia religiosa da “Quarta-feira de Cinzas”, celebrada na passada semana, teve início a Quaresma, tempo privilegiado de peregrinação interior rumo
Àquele que é a fonte de misericórdia e cuja ressurreição celebraremos no dia de Páscoa, neste ano, a 31 de Março.
É o tempo mais rico do ano litúrgico no qual somos todos convidados a uma profunda reflexão interior que nos permita identificar as fragilidades que mais nos apoquentam e curá-las, recorrendo às três práticas penitenciais habitualmente recomendadas pela Igreja: a oração, o jejum e a esmola.
O jejum é indissociável da Quaresma já que este tempo litúrgico nos recorda os quarenta dias que Jesus viveu no deserto antes de dar início à sua vida pública depois do apagamento do seu precursor João Batista. O jejum é a alma da oração porque, libertando-nos de dependência terrena, nos aproxima mais de Deus. Para além deste importante aspecto, ajuda-nos também a tomar consciência da situação em que vivem tantos irmãos nossos, tendo servido, nos primórdios do cristianismo, para poupar e assim assegurar a concretização da esmola.
A prática da esmola representa uma forma concreta de socorrer quem se encontra em necessidade e, ao mesmo tempo, uma prática ascética de libertação da afeição aos bens terrenos que vem já dos primeiros tempos do cristianismo tal, como por exemplo, nos refere S. Paulo na sua carta aos Coríntios, acerca da coleta destinada à comunidade de Jerusalém.
A esmola evangélica, porém, não é para o cristão uma açção de filantropia, mas sim a concretização da caridade, uma das três virtudes teologais que exige a conversão interior ao amor de Deus e dos irmãos.
2. Também na semana passada tiveram início os debates televisivos entre os líderes dos diferentes partidos com representação parlamentar concorrentes às próximas eleições legislativas a realizar no próximo dia 10 de Março.
Na sequência do pedido de demissão do primeiro-ministro António Costa no âmbito do processo “Influencer”, e depois de dois atribulados anos de governação com maioria absoluta com 14 demissões - 12 secretários de estado e 2 ministros - dissolveu o senhor Presidente da República a Assembleia marcando eleições para o próximo dia 10 de março.
Os debates ocorridos e transmitidos pelos diferentes canais televisivos têm merecido grande interesse pelos portugueses, conforme provam as elevadas audiências, tendo sido, alguns deles, apesar do limitado tempo imposto, esclarecedores acerca das ideias e propostas que acompanham os seus programas eleitorais, assim como desenvolvidos com nível de respeito e maturidade política.
Os principais temas abordados em todos os debates andaram praticamente à volta das grandes preocupações que afligem os portugueses, nomeadamente a habitação, a saúde e a educação.
Tema sumamente importante e apenas abordado pela AD - Aliança Democrática e pela IL - Iniciativa Liberal é o respeitante ao crescimento económico pelo impacto que tem na criação de riqueza, factor fundamental para poder dar resposta às graves insuficiências que afligem o nosso país.
Na verdade, a palavra-chave para o salto, para a mudança estrutural do nosso país é, claramente, crescimento económico. Sem ele estaremos condenados ao fracasso. Baixos salários, desmotivação profissional, enfraquecimento e degradação progressiva dos diferentes serviços do estado, – saúde, ensino, justiça, segurança, habitação pública. Definhamento que se estenderá aos vários sectores da vida social, cultural, académica e empresarial.
A paralisação económica do país continuará a contribuir para a fuga dos mais capazes, dos mais ambiciosos, daqueles que pela sua capacidade e dinâmica empreendedora poderiam relançar e colocar Portugal na senda dos mais desenvolvidos da Europa.
Ora, para haver crescimento económico é fundamentalmente necessário captar empresas inovadoras capazes de gerar riqueza, que criem um ecossistema arrastador de actividade empresarial de alto valor acrescentado. Tal desiderato obriga ao estabelecimento de um programa que contenha as medidas adequadas para esse efeito, tais como algumas que propõem a AD ou a IL, destacando-se, desde logo, o Choque fiscal.
Não se pode esperar que continuando a utilizar as soluções postas em prática ao longo dos últimos oito anos se possam esperar resultados diferentes daqueles que temos obtido.
Não podemos deixar-nos enganar por gente voluntariosa, de fala estridente, cuja experiência que advoga não passa de erros sucessivos, de atropelos grosseiros às boas regras de gestão e de legalidade, de algumas faltas à verdade, de currículos que constituem verdadeiros cadastros. Gente assim não terá condições para bem governar o país.
Que este tempo que agora vivemos, propício à reflexão, nos traga a lucidez e o discernimento necessários a uma escolha que possa constituir a solução para um futuro promissor dos nossos filhos e netos.
Guimarães, 20 de Fevereiro de 2024
António Monteiro de Castro