«Simão Freitas, 25 de Abril» retrata a esperança que a "Revolução dos Cravos" trouxe a Guimarães

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"É um magnífico testemunho do tempo e do ambiente gerado pelo 25 de Abril de 1974 e do ano seguinte em Guimarães". O comentário foi partilhado por César Machado, na apresentação pública do livro "Simão Freitas, 25 de Abril", um documento que retrata para memória futura os momentos de esperança em manifestações colectivas e reuniões muito participadas, vividos em Guimarães após quase meio século de ditadura.

Na cerimónia realizada ontem à tarde no Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, a sua Directora enalteceu as características do fundo do fotógrafo Simão Freitas, com um espólio "único e multifacetado" que está a ser tratado e estudado, constituindo "um prestígio e uma oportunidade para a Instituição cumprir a sua missão na divulgação do património". Alexandra Marques agradeceu à família, na pessoa de Maria Odete Machado Ferreira, viúva de Simão Freitas, a facilidade com que aceitou colaborar com o Município disponibilizando e tornando acessível a todos os negativos recolhidos pela lente do vimaranense que fazia da fotografia uma forma de expressão artística e de intervenção social e cultural.

No mesmo sentido, o fotógrafo Paulo Pacheco salientou a mestria com que Simão Freitas registou imagens dos acontecimentos de maior envolvência colectiva, (como os jogos de futebol que fotografava e que imediatamente revelava para que os adeptos pudessem apreciar numa vitrine os lances dos jogos do Vitória ou as festas e romarias mais concorridas), mas também a singularidade com que retratou outros quadros e pessoas do quotidiano. "A sua sensibilidade pode ser apreciada na obra de fotoreportagem que deixou e que o Arquivo está a digitalizar", referiu.

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A obra mereceu a análise pormenorizada de César Machado, numa intervenção em que fez questão de mencionar os nomes da resistência à ditadura, indicando o nome daqueles que conheceram os calabouços e as técnicas utilizadas pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado. "Em 1944, foram detidos César Machado, Joaquim Fernandes, fotógrafo, João Brás Teixeira, João da Silva Mendes, Jerónimo Gomes da Silva, Izildo Ventura Barreira, Armando Ferreira da Costa, Jerónimo da Costa Cosme, Camilo Plácido Pereira, José Rodrigo da Costa Mendes; em 1948, Joaquim Fernandes e Abel, afinador da Fábrica de Tecidos Vila Pouca; em 1962 e 1968, Eduardo Ribeiro; em 1968, Santos Simões; e em 1973 Casimiro Ribeiro", afirmou, sinalizando o nome de alguns dos vimaranenses detidos, comparando o seu trabalho ao de Benoliel, o criador da reportagem fotográfica em Portugal. "O modo como foi fotografado o povo nas ruas é um testemunho singular", considerou, dirigindo-se ao Coronel Rui Guimarães, presente na sala, ao focar a imagem em que ele - na época Capitão de Abril, surge sobre uma viatura militar a saudar a multidão no Largo do Toural.

"Qual seria a nossa percepção do 25 de abril de 1974 sem o espólio fotográfico de Simão Freitas?" A interrogação foi levantada pela vice-presidente do Município, ao desafiar os leitores a analisar pausadamente cada uma das fotografias e apreciar a expressão dos rostos das pessoas. "No tempo em que vivemos é crucial olhar para estas fotografias e recuperar a esperança e o sorriso que Abril trouxe, porque elas foram registadas num tempo muito difícil e permitem perceber como as pessoas estavam tão felizes", sustentou, ao acrescentar: "se estamos hoje aqui foi porque Abril se cumpriu".

O livro conta com um testemunho do Coronel Rui Guimarães em que recorda o dia 29 de abril de 1974 e como "a multidão encheu o Largo do Toural com o olhar marejado de alegria", seguindo-se por ordem cronológica os momentos: tarde do 25 de abril de 1974; manhã de 26 de abril de 1974; tarde de 26 de abril de 1974; 1 de maio de 1974; 15 de maio de 1974; 17 de maio de 1974; 24 de maio de 1974; as reuniões de partidos políticos (PCP, PS, MDPCDE, PPD e CDS), bem como a celebração do 25 de abril de 1975, com fotografias do espólio de negativos do fotógrafo vimaranense Simão Freitas, retratando um dos períodos mais marcantes para Guimarães e para o País.

"É uma oportunidade para reviver esse período histórico, através de um conjunto de documentos fotográficos que a - ou uma - história dos momentos vividos na cidade logo após a notícia vinda de Lisboa, de que regime tinha caído pelo movimento militar - o Movimento das Forças Armadas e o impacto que teve em toda a cidade. A saudação e manifestações de apoio dos estudantes, as reuniões de movimentos políticos, partidos e as eleições democráticas fazem parte da tipologia de eventos que Simão Freitas registou em película e que fazem desta obra um importante documento para a memória futura de Guimarães", assinala o Presidente da Câmara na introdução, ao frisar que "Guimarães não ficou indiferente ao 25 de abril de 1974", permitindo o legado de Simão Freitas compreender a dimensão pública da libertação que a comunidade sentiu, acompanhando a saída espontânea das pessoas para as ruas da Cidade, após o comunicado do MFA, até às eleições para a Assembleia Constituinte, em 25 de abril de 1975, mostrando o frenesim da intensa actividade cívica e política.

O lançamento do livro integra-se no programa comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril de 1974.

Marcações: Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Simão Freitas, 50 anos do 25 de abril

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