Quaresma
Para os 1400 milhões de católicos de todo o mundo, o dia de hoje, Quarta-feira de Cinzas, assinala o início do período mais rico do ano litúrgico que é a Quaresma.
A Quaresma é um tempo de especial conversão interior, de libertação das grilhetas que prendem o homem às coisas mundanas impedindo-o da sua aproximação a Deus e que tem em vista a preparação para a celebração do grande acontecimento que é a Páscoa da Ressurreição.
Evoca o retiro de Jesus para o deserto onde, ao longo de 40 dias preparou, no isolamento e na intimidade com o Pai, o início da Sua entrada na vida pública, assim como as provações a que haveria de vir a ser sujeito.
Para este tempo de peregrinação e purificação interior, recomenda a Igreja, desde os seus primórdios, a prática de três actos penitenciais: Oração, Jejum e Esmola.
Acerca da importância destas três atitudes penitenciais e pela riqueza do seu conteúdo, evoco, uma vez mais, a reflexão de S. Pedro Crisólogo, bispo de Ravena e doutor da Igreja nos anos de 406 – 450, que assim ensinava: “Há três actos, em que a fé se sustenta, a piedade consiste e a virtude se mantém: a oração, o jejum e a misericórdia".
A oração bate à porta, o jejum obtém, a misericórdia recebe. Oração, misericórdia e jejum são uma só coisa, dando-se mutuamente a vida. Com efeito, o jejum é a alma da oração e a misericórdia é a vida do jejum. Que ninguém os divida, pois não podem ser separados. Quem pratica apenas um ou dois deles, esse nada tem. Assim, pois, aquele que reza tem de jejuar, e aquele que jejua tem de ter piedade. Ele que escute o homem que pede e que, ao pedir, deseja ser escutado; aquele que não se recusa a ouvir os outros quando lhe pedem alguma coisa, esse faz-se ouvir por Deus.
Aquele que pratica o jejum tem de compreender o jejum; isto é, tem de ter compaixão do homem que tem fome, se quer que Deus tenha compaixão da sua própria fome.
Aquele que espera obter misericórdia tem de ter misericórdia; aquele que quer beneficiar da bondade tem de praticá-la; aquele que quer que lhe dêem tem de dar. Sê, pois, a norma da misericórdia a teu respeito: se queres que tenham misericórdia de ti de certa maneira, em certa medida, com tal prontidão, sê tu misericordioso com os outros com a mesma prontidão, a mesma medida e da mesma maneira.
A oração, a misericórdia e o jejum devem, pois, constituir uma unidade, para nos recomendarem diante de Deus. Devem ser uma oração a nosso favor com este triplo formato”.
Neste Ano Jubilar e Santo de 2025 proclamado pela Igreja Católica, a Quaresma assume uma importância acrescida para todos os crentes constituindo um tempo especial para viver o perdão, a misericórdia e a esperança, acrescentando a possibilidade de pedir e obter indulgências.
As modalidades, as práticas e os lugares sagrados, em Roma e no mundo inteiro, onde é possível obter o dom da indulgência durante o Jubileu, estão definidas em documento divulgado pela Penitenciaria Apostólica do Vaticano que diz: “Todos os fiéis verdadeiramente arrependidos, excluindo qualquer apego ao pecado e movidos por um espírito de caridade, e que, no decurso do Ano Santo, purificados pelo sacramento da penitência e revigorados pela Sagrada Comunhão, rezem segundo as intenções do Sumo Pontífice, poderão obter pleníssima Indulgência, remissão e perdão dos seus pecados, (que se pode aplicar às almas do Purgatório sob a forma de sufrágio), das seguintes formas:
Peregrinando a lugares sagrados ou visitando algum deles indicados pelas Conferências Episcopais confessando-se, participando na Eucaristia ou Adoração Eucarística, recebendo a comunhão eucarística e rezando pelas intenções do Papa;
Praticando obras de misericórdia e de penitência tais como a participação em Missões Populares, a participação em Exercícios Espirituais ou Encontros de Formação, a Realização de Obras de Misericórdia corporais e espirituais ou a Realização de Actos Penitenciais como:
a) Redescobrir o valor penitencial das Sextas-Feiras, abstendo-se durante pelo menos um dia de distrações fúteis e de consumos supérfluos (por exemplo, jejuando ou praticando a abstinência segundo as normas gerais da Igreja e dedicar uma quantia proporcional aos pobres);
b) Apoiar obras de carácter religioso ou social, especialmente em favor da defesa e proteção da vida em todas as suas fases, das crianças abandonadas, dos jovens em dificuldade, dos idosos necessitados ou solitários, dos migrantes dos vários países;
c) Dedicar uma parte razoável do seu tempo livre a atividades voluntárias que sejam de interesse da comunidade ou a outras formas semelhantes de compromisso pessoal.
Saibamos, pois, aproveitar estas Graças que neste Ano Santo e Jubilar a Santa Igreja a todos propõe. Santa Quaresma para todos.
Guimarães,
1 de Março de 2025
A Monteiro de Castr