Guimarães, Cidade Natal e de Tradição
Eis o frio, e com as temperaturas baixas reacendem-se as lareiras, as memórias e os estímulos sensoriais que nos remetem para a identidade
dos locais que habitamos.
O aroma dessas lareiras aparece na noite, no lugar de outras fogueiras que ao longo do dia assam as castanhas de São Martinho, do Outono e do Inverno de Guimarães.
As noites são escuras, e caem cada vez mais cedo. Apagam-se as luzes do dia, dia esse que, por esta altura do ano, nos traz os sons produzidos pelas caixas e os bombos, de quem ensaia o toque Nicolino, em dia de Escola ou em multidões (crescentes) de Moinas cada vez mais participadas.
Cresce a ânsia da noite mais longa do ano em Guimarães. Noite que se quer fria e escura, desejavelmente sem chuva. E todos estes ingredientes sensoriais nos vão preparando para o Pinheiro.
O número mais participado da festa dos estudantes é, para mim – e reforço a ideia individual das memórias e dos estímulos sensoriais –, uma noite escura, fria, com sabor a rojões e castanhas, com som de caixas e bombos.
O que há de melhor do que as luzes se acenderem após a noite escura mais longa do ano? Com o Pinheiro a uma sexta-feira, este ano, as luzes de Natal acender-se-ão no dia seguinte, em pleno Toural.
Cumpre-se a tradição, e iniciam-se novas “tradições”. A “Guimarães, Cidade Natal” veio para ficar pelas ruas vimaranenses, adensando a cada ano um programa celebrativo que traga as famílias até ao centro da Cidade. É uma mudança profunda num período em que nos habituamos “apenas” a luzes festivas e a concertos de Natal, e que nos últimos anos já tem trazido milhares de pessoas ao Largo do Toural para ver acender-se a Árvore de Natal.
São novas memórias, sem o mesmo peso histórico e de tradição, que se vão criando para os mais pequenos e aqueles que os acompanham. Os estímulos sensorais são outros, e tomam conta de quem os experiencia. Os sabores do vinho quente do Mercado de Natal, os aromas dos doces da Casa do Pai Natal, o frio da Pista de Gelo, os sons dos Concertos de Natal e Ano Novo e a escuridão da noite a dar lugar à luz da iluminação festival e do videomapping interativo da Igreja da Misericórdia.
Com novidade, com intensidade, com dinamização da cidade e do seu comércio e sem confusões desnecessárias entre as tradições seculares e aquelas que vamos iniciando contemporaneamente. A noite do Pinheiro permanece escura, e a luz toma conta da Cidade no dia seguinte.
Que o frio tome conta desta época, que a chuva nos permita vivê-la com presença no espaço público, que as memórias se vão revivendo e acrescentando, cumprindo as tradições e criando novos atrativos.