Jornadas

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As Jornadas Históricas que acompanham, desde 2019, as comemorações do dia 24 de junho, irmanando em tempo curto

com a celebrada Feira Medieval, é dos acontecimentos culturais mais importantes de Guimarães. Nestas Jornadas, já na quinta edição, e com um modelo que se vem
aperfeiçoando no tempo e no modo, discute-se, fundamentalmente, a história de Guimarães, da sua fundação e do contributo de Guimarães para o nascimento e afirmação de Portugal.

Faço parte, em representação da Muralha, do grupo inicial convidado pela Câmara Municipal de Guimarães para pôr em marcha estas Jornadas. Ainda hoje é o mesmo. A ideia inicial – que, penso, se concretizou plenamente - era a de não reduzir o 24 de junho a uma festa como tantas outras, ou até, a um outro nível, a um dia em que se distinguem instituições e cidadãos pelo seu contributo para a comunidade, mas deixar qualquer coisa para o futuro, através do conhecimento e investigação sobre as nossas tradições, sobre a nossa história. Uma cidade como a nossa, que funda a sua forte identidade na sua longa e importante história, tinha essa obrigação moral e está a cumprir esse imperativo através destas jornadas, em que diversas personalidades nos trazem de forma oral, ou até mesmo gráfica, as suas opiniões fundadas nos seus trabalhos de investigação. A importância da revista que é lançada na jornada seguinte (sobre a edição anterior) é a de deixar escrito e registado parte dos importantes contributos legados pelos intervenientes.
O grupo inicial, refira-se, é, além de mim, constituída pelo Amaro das Neves, pelo Antero Ferreira e pela Isabel Fernandes que, além de estimados amigos, agarram (muito bem) o leme da condução científica desta iniciativa, sempre superiormente assessorados pelos técnicos da CMG que nos têm acompanhado e, desde a primeira hora, com a presença ativa do Paulo Silva (mesmo antes de ser vereador).

Depois de Egas Moniz (2019), D. Teresa (2021), Mesteres e Mesteirais (2022) e o Quotidiano na Idade Média (2023), a quinta edição andou, este ano e na Pousada de Santa Marinha da Costa, à volta de D. Mumadona Dias e do Paço Condal que ela fundou, precisamente no local onde se realizou a iniciativa. Quem pouco sabe, tem sempre a possibilidade de aprender imenso. Passou-se isso comigo (também) este ano. Fiquei absolutamente fascinado com a partilha do Prof. Manuel Luís Real, que participou nos trabalhos de arqueologia (1979-1980) aquando da recuperação para
pousada do Mosteiro, pelo arquiteto Fernando Távora, sobre as estruturas que existiam, naquele local, antes de Mumadona Dias o ter comprado e adaptado às suas necessidades. Ainda hoje, e pela sua mão, bem como pelo trabalho gráfico desenvolvido pelo Prof. Daniel Oliveira e sua equipa
(ainda incompleto), é possível vermos (ou percebermos) as marcas desse Paço, bem como das duas grandes estruturas que o precederam (desde o séc.VI). Entre outras brilhantes intervenções voltou ao nosso olhar a serenidade de quem sabe, pelo Prof. Luís Carlos Amaral, que, a propósito destas
jornadas nos falou da importância das estruturas monásticas no Noroeste peninsular nos séculos X e XI. Já o tínhamos ouvido, de forma ainda mais brilhante, sobre a importância e a astúcia política de D.Teresa, nas II Jornadas.

Perceber a nossa história comum através do trabalho de quem a investiga, e não apenas pelas lendas e palpites que em conjunto perpetuamos, tem sido um passo importante para dignificar a data fundadora, quando se aproximam os 900 anos sobre a batalha de S.Mamede.
Tenho, como todos os vimaranenses, um grande orgulho no passado, mas, igualmente, uma grande satisfação em ver como se mantém viva a tradição e o conhecimento histórico na nossa cidade. O trabalho das escolas, e, em particular, do pré-escolar fez com que, por exemplo, qualquer das minhas filhas, antes de saberem ler e escrever, soubessem que era a Mumadona Dias, o D.Afonso Henriques e os seus pais. Julgo não haver, neste país, outro local assim.
As Jornadas Históricas tentam dar uns passos mais além, no difícil estudo da época medieval. Para isso, sustentam-se no trabalho de jovens investigadores, com novas abordagens, e na experiência e saber de historiadores consagrados, bem como em amantes da história provenientes
doutras áreas como aconteceu, por exemplo, com Albertino Gonçalves (sobre a honra de Egas Moniz) ou Isabel Stilwell que havia escrito um interessante livro (de ficção, mas com muita investigação histórica) sobre a mãe de D. Afonso Henriques: a grande D. Teresa.

Investigar e discutir a nossa história, sem medo de surpresas que nos abalem prévias convicções, é útil e necessário. Investigar e discutir o nosso passado é importante para percebermos quem somos, ou, mais importante ainda, quem queremos ser.


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