As eleições europeias e o dia de Portugal
Mais uma vez tivemos ocasião de assistir à realização, quase em simultâneo, das eleições para o Parlamento europeu, no dia 9,
e das comemorações do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades no dia 10.
No tocante às eleições europeias, o facto mais saliente, logo desde o seu início, teve a ver com a decisão dos líderes dos dois principais blocos concorrentes, Aliança Democrática (PSD/CDS/PPM) e Partido Socialista recorrerem a duas figuras mediáticas para cabeças de lista e procederem a uma completa renovação dos seus deputados europeus.
Quanto à renovação, se no caso da Aliança Democrática merece alguma compreensão já que os seus principais elementos vieram a manifestar-se importantes na Constituição do novo governo, com Paulo Rangel como ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Fernandes como ministro da Agricultura, Maria da Graça Carvalho como ministra do Ambiente e Energia e Nuno Melo como ministro da Defesa Nacional, já no que diz respeito ao Partido Socialista torna-se de mais difícil compreensão tendo presente que foram dispensados deputados com trabalho e notoriedade nos meios europeus tais como Pedro Marques, Maria Manuel Leitão Marques ou Pedro Silva Pereira pertencentes a várias comissões parlamentares.
Quanto aos cabeças de lista, se por um lado a escolha de um jovem talentoso e politicamente bem preparado como Sebastião Bugalho possa merecer alguma compreensão, já quanto a Marta Temido haverá alguma dificuldade em entender dado não só poder ser considerada como a principal responsável pela situação a que chegou o Serviço Nacional de Saúde como também ter Francisco Assis como segundo candidato da lista, possivelmente um dos mais reputados políticos portugueses com experiência e conhecimento do Parlamento europeu onde esteve já, com desempenho reconhecido e importantes responsabilidades durante 10 anos (2004/2009 e 2014/2019).
Quanto à campanha eleitoral, embora os debates televisivos não tenham tido os mesmos níveis de audiência que tiveram os debates das últimas legislativas de Março, acabaram, no entanto, por suscitar também interesse pela abordagem de temas relacionados com a Europa, nomeadamente sobre a política de imigração, a política de defesa e sobre o importante tema do alargamento a países candidatos como Albânia, Bósnia, Macedónia do Norte, Montenegro, Sérvia, Moldova, Geórgia e, ultimamente, a Ucrânia.
Na verdade, o alargamento da União Europeia constitui o melhor investimento na paz, na segurança e na prosperidade sendo que tal alargamento implicará a reforma do seu funcionamento interno, substituindo a unanimidade obrigatória de algumas decisões por apenas maiorias qualificadas, sem o qual o seu governo se tornará insustentável e os objectivos de uma Europa forte, próspera e democrática ficarão por atingir.
Conhecidos os resultados do escrutínio, poder-se-á dizer que estão dentro dos intervalos previstos nas diferentes sondagens as quais, apontando para um empate técnico, davam já a vitória ao PS que obteve 32,1% com 8 deputados contra 31,1 % do PSD com 7 deputados, e ainda uma vitória à Iniciativa Liberal com 9,1 % e dois deputados assim como uma derrota ao populismo do Chega por lhe terem faltado agora bandeiras como a da corrupção e a da justiça.
Quanto ao dia de Portugal, celebrado a 10 de Junho como dia de Camões e das Comunidades, continua a ser vivido pela generalidade da população como apenas mais um feriado, ignorando a comemoração associada.
Entretanto, foi confrangedor ver como foi tratado pelo governo anterior o tema das comemorações para celebrar os 500 anos do nosso poeta maior Camões, havendo, finalmente agora, com este governo, um esboço de programa para celebrar a vida e a obra do poeta: lançamento de uma Camoniana digital, organização de “uma grande exposição” e realização de “um ciclo de seminários, conferências e publicações”, iniciativas a cargo da Biblioteca Nacional.
Saibamos, pois, salvaguardar e celebrar os valores da nossa História, factores identitários e aglutinantes da nação mais antiga da Europa que é Portugal.
Guimarães, 11 de Junho de 2024
António Monteiro de Castro