Um regresso com boas notícias e dois enigmas

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Regressado de férias, desimpedi a caixa do correio que, a par das sempre dolorosas contas de água, energia elétrica, gás, seguros

e outras mais que não recordo de momento, interessou-me sobretudo a leitura dos exemplares deste venerável semanário que me não chegaram às mãos durante a minha ausência em férias.

Para compensar a caterva de más e acabrunhantes notícias do que se passa no mundo, confio que se condescenda em que elenque algumas boas novas relativas à nossa querida cidade, já que, propriamente más, daquelas que costumam deixar-me deprimido, não lembro alguma merecedora de destaque.
Para ser mais completo, direi que uma houve que me entristeceu, mas essa é do foro político local, matéria que prefiro, ao menos para já, manter reservada.
Assim, temos que Guimarães é uma das três finalistas para obtenção do título e estatuto de Capital Verde Europeia. De parabéns estão, não só quem assumiu como desígnio, que se espera concretizado, fazer de Guimarães Capital Verde Europeia, como todos quantos igualmente o assumiram como seu e trabalharam para que chegássemos à final, o que, só por si, é já um feito de grande valia, e que sejamos o vencedor, objetivo que a todos motivou.
Completaram-se as obras de restauro da fachada da Torre da Alfândega, um dos monumentos mais fotografados, se não o mais fotografado, do centro da cidade, o que não admira pois que, segundo a inscrição nele aposta, terá sido ali, precisamente ALI, que nasceu Portugal.

Recordo que um miúdo do meu tempo da Escola Primária, em lição sobre a origem da nacionalidade portuguesa, afirmou, entusiástico, que Portugal nascera ao lado do Martins Chapeleiro! Esclareço que Escola Primária correspondia aos quatro primeiros anos de escolaridade, e Martins Chapeleiro era a conjunção do apelido Martins, de conhecido e estimado comerciante da cidade, e da atividade de negócio em chapéus, que terá sido aquela pela qual o referido cidadão se iniciara profissionalmente. O estabelecimento do Sr Martins, que eu já só conheci como retrosaria, situava-se precisamente ao lado da Torre da Alfândega.
As Festas Gualterianas tiveram uma pujança nunca antes alcançada, uma afluência como não há memória e o seu ponto alto, a Marcha Gualteriana, foi não só “surpreendente” como de qualidade “irrepetível”, assim constando na da edição de 09 de agosto deste jornal.

A disciplina de Artes Visuais da Universidade do Minho vai ser instalada no CIAJG, o que trará a este centro artístico e expositivo um notável acréscimo de visibilidade e um leque de funcionalidades condizentes com o propósito que esteve na origem da criação daquela entidade, acolhida do seio da Plataforma das Artes.
Com o acervo museológico e de infraestruturas materiais, cobrindo a possibilidade de prática e exibição de todas as artes, de que Guimarães está dotada, bem pode esta vir a ser tida também como Cidade das Artes.
Por fim, temos o DEUCALION; instalado na Universidade do Minho é um supercomputador, mais super que qualquer outro que alguma vez tivesse existido em Portugal, capaz de, em um segundo, calcular o incalculável, ou seja, 100 milhões de biliões de dados!!!
Já tivemos o supercomputador BOB, mas em Riba d’Ave e dez vezes menos potente que o nosso.
O DEUCALION serve para tudo analisar e calcular, desde o Universo à virologia, da meteorologia à medicina em todas as suas vertentes.
Ao saber de tamanhas capacidades do portento, pus-me a pensar se ele não servirá para dilucidar os dois mais importantes enigmas da atualidade mediática.
Primeiro: beijo do Sr Rubiales à Srª Hermoso – pecaminoso, desculpável ou antes pelo contrário?

Mostrem-se ao computador as fotos das criaturas, desde pequeninas até à atualidade, inclusive aquelas – admito que as tenham – em que são fotografados com dois meses de idade, ainda cor de leitãozinho da Bairrada, nuzinhos, rabito para o ar e a rirem-se para a câmara, até aos festejos da Srª Hermoso e colegas de equipa, já após o acontecimento, na camionete que as levou a casa.
Mostrem ao super computador as fotos do beijo, a fração de segundo de sua duração, a intensidade do abraço mútuo com das pernas do Rubiales no ar; introduzam no DEUCALION a gravação de quanto disseram os intervenientes no beijo imediatamente após a ocorrência deste, o que desataram a dizer feministas, machistas, tolerantes, intolerantes, fundamentalistas da permissividade e fundamentalistas da intransigência, que se pronunciaram sobre o fugaz facto em causa, e o que o que passaram a dizer o treinador e a treinada consoante iam soando, cada vez com mais intensidade, os trombones sociais; insiram no mágico aparelho imagens do atos de festejo, por jogadores e jogadoras de futebol, aquando do golo por um deles marcado, em que não faltam carícias, beijos, sobreposições corporais de evidente sensualidade.
Faça-se tudo isso e o DEUCALION se encarregará de explicar tudo muito bem explicadinho.

Segundo: o silêncio no recente Conselho de Estado – negro como breu, ou clarinho como a água?
Transmita-se ao DEUCALION tudo o que foi dito relativamente ao que se passou na última reunião daquele órgão de aconselhamento do Presidente da República, e ele se encarregará de explicar se o silêncio do Primeiro-Ministro deixou todos os Srs Conselheiros na escuridão quanto ao que ele poderia ter dito, ou se eles ficaram bem cientes de tudo o que, com o seu silêncio, o Primeiro-Ministro transmitiu.
Caso aconteça o inimaginável de o supercomputador não conseguir esclarecer o significado de tais ocorrências, ponham-se as questões ao Professor Cavaco Silva, ex-desportista e político sempre, e a resposta, se não sair de imediato por palavras – o que será compreensível – sairá, pouco tempo depois, em clarividente obra literária.

Guimarães, 11 de setembro de 2023
António Mota-Prego
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