A fragilidade humana
Desde o início deste ano de 2020 que o mundo inteiro se debate com o aparecimento de um novo vírus conhecido por SARS-CoV-2,
causador da doença designada por Covid 19 a qual, pelas suas calamitosas consequências, ameaça pôr em causa o normal funcionamento da vida da grande maioria dos povos das nações, sobretudo das mais desenvolvidas dos continentes asiático, europeu, americano e da Austrália.
Pela informação que logo nos primeiros dias foi chegando acerca do surto despoletado na cidade chinesa de Wuhan, preocupou-me, naturalmente e em primeiro lugar, o número de vidas que este inimigo invisível iria ceifar na sua inevitável e previsivelmente rápida propagação à população mundial.
Mas se os números iam confirmando essa preocupação, com crescimento exponencial da doença e significativo número de mortos, atingindo uma forte percentagem da população de vários países em vários continentes, uma coisa considerava certa: o impacto económico e social da doença, esse, atingiria, seguramente, a totalidade da população.
É já esse o cenário futuro que tanto apoquenta os responsáveis das famílias, das instituições, das empresas e das nações.
Revisitando algumas páginas da história associadas às devastações em massa provocadas por pandemias no passado, destaca-se a Peste Negra, assim conhecida por ser caracterizada por hemorragias subcutâneas formando equimoses escurecidas, ocorrida no seu período mais mortífero, entre 1346 e 1353, com um número de mortos estimado entre 75 e 200 milhões, tendo dizimado a população europeia em cerca de 1/3.
Praticamente já nos nossos dias, em 1918, encontramos a Gripe Espanhola (pneumónica), assim designada por terem sido os espanhóis a dar visibilidade à doença que outros países, por estarem envolvidos na primeira grande guerra, intencionalmente a ocultaram e que se estima ter vitimado entre 17 e 50 milhões de pessoas. Sobre ela tive ocasião de ouvir algumas histórias contadas pela minha avó, com 30 anos de idade nessa altura, e que nos dizia terem as grávidas do seu tempo praticamente todas morrido.
Mais tarde, em 1957/1958 tive ocasião de assistir à morte de crianças, algumas muito jovens, vítimas da Gripe Asiática. Jamais esquecerei a participação num enterro de uma menina, filha de um caseiro de meus pais e lá voltar na semana seguinte para recolher a outra irmã. Tantas eram as crianças que nesses tempos morriam que os cemitérios possuíam um canteiro de dimensões apreciáveis destinado à sepultura de crianças.
As principais diferenças em relação às pestes e gripes do passado estão relacionadas, sobretudo, com a velocidade de sua propagação a todo o mundo, consequência da globalização; com a velocidade com que corre a informação e a forma como é expedida; com os conhecimentos científicos do presente que permitem no espaço de alguns meses identificar o vírus responsável pela doença, a forma de a atacar e a descoberta de vacinas contra a aquisição do vírus.
Sendo certo que temos perante o mundo inteiro uma ameaça que parece pôr tudo em causa, não é menos certo que, tal como diz a sabedoria popular, a seguir à tempestade vem sempre a bonança.
Também a História nos vem ensinando que, quanto mais profundos são estes acontecimentos, sejam eles, uma guerra, uma catástrofe ambiental, um choque tecnológico, etc, maiores são os saltos que a humanidade em seguida dá.
É de certo modo essa convicção que alimenta a esperança de atravessarmos esta tempestade que cada dia que passa mais se agiganta perante todos nós.
Com fé e perseverança haveremos de vencer esta provação a que, uma vez mais, a natureza submeteu a fragilidade humana.
Votos de saúde para todos.
Guimarães, 24 de Março de 2020
António Monteiro de Castro