Reflexões que Guimarães tece

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Segundo a explicação actual mais difundida o Universo teria advindo de uma explosão, dita o Big Bang e estaria ainda em expansão (numa das três hipóteses conjecturáveis: a expansionista, a confinável e a retraccionista; com a sempre antagónica noção irracional de um contraposto vazio absoluto, o inconcebível Nada). Sem nos enfronharmos em quaisquer especulações sobre estas visões do concreto material massivo em que somos, no que dele temos a uma escala macroscópica enorme, são as galáxias e, dentre miríades destas, a nossa. E nela, na sua borda, um sistema estelar de uma anã amarela: o qual apelidamos de sistema solar (com os seus planetas, satélites, asteroides e demais corpos celestes locais).


Assim e no que nos concerne neste escrito, vamo-nos confinar ao nosso planeta: à por nós nomeada Terra.

Quanto a esta, está reconhecido sem grandes questionações, que ela é em si mesma um processo evolutivo que partindo da ainda nebulosa solar, do aumento da velocidade de rotação desta, da sua angularidade, de colisões diversas, da força da gravidade, da inércia e acreção, veio a formar um protoplaneta. Em que, por sua vez, os mesmos e muito mais circunscritos efeitos, com outros próprios e o andar de milhares de milhões de anos, conduziram à criação nele, já planeta, de uma crosta, de uma atmosfera e ao aparecimento de água. Crosta que no presente (e é bom que se lembre que nem sempre teve esta configuração), está formada pelos continentes que conhecemos, ilhas e, claro, para além deles e no resto da superfície, grandes extensões de água. Um conjunto, portanto, em contínua mutação e terrivelmente finito para os consumos do presente.
Por outro lado e paralelamente ao acontecer desta mais que sintética descrição e de mudanças geológicas, foi vingando também uma evolução biológica (repare-se que as primeiras evidências de vida se creem com mais de 3 mil milhões de anos). Evolução biológica que, dos mais elementares organismos vivos a todos os que se extinguiram ou subsistem, leva à sua integração na árvore da vida, seja ela a bíblica, a darwiniana e evolucionista, ou a de recentes análises de dados de filogeneticistas ou outros. Mas divagamos, mais uma vez, para campo que transcende o propósito destas linhas, mesmo que o nosso ADN, ou o de alguns de nós, contenha genes de neandertais ou de outras linhas humanas extintas.
Nesse emaranhado contexto, porém, uma coisa é certa, o sapiens sapiens que começou como caçador recolector, há alguns milhares de anos, alguns em determinada altura e em sítios propícios, sedentarizaram-se, fixando-se em permanência; o que só foi possível pela sua intervenção sobre o aí meio local, criando assim e através de uma sua actividade, condições que lhe permitiam a subsistência sem qualquer necessidade de deslocação. Na sequencialidade consequente dessa genuína revolução, essas populações foram crescendo, surgiram aglomerações habitacionais e ambas foram aumentando, num percurso milenar e em que a quantidade, e qualidade, da interferência com a natureza progrediu exponencialmente, malgrado e por milhares de anos, ela assentar, sobretudo, na força física humana. No trabalho. Na criação através dele de um número cada vez maior de ferramentas, do seu aperfeiçoamento e de outros utensílios que iam melhorando as condições da vida em múltiplos aspectos. Simultaneamente com esse progresso foram-se obtendo o concurso de outras forças, das animais às hidráulicas, eólicas, ou, até, a solar. Num conjunto já permissivo de intervenções colossais sobre a Natureza, como será o caso, entre outros, das pirâmides de Gizé, dos túmulos colinas chineses, de Angkor Wat e o seu sistema hidráulico e, aqui ao lado, de Las Medulas. Obras que, não obstante os recursos não renováveis que utilizaram e as respectivas alterações e poluições causadas, não tiveram relevo significativo num planeta em que aquela, a Natureza, ainda era a única soberana. Mas os séculos foram correndo, as populações sedentárias multiplicaram-se, os agregados urbanos adensaram-se e as ocupações da crosta proliferaram em função das novas necessidades humanas. A poluição começou a ser noticiada (recorde-se o nome medieval do nosso rio de Couros) e a, por vezes, dizimar humanos em grande escala. Mas estes foram-se recompondo e reproduzindo exponencialmente, num desenvolvimento maioritariamente mais evoluído, por saberes cada vez mais profundos e condutores de técnicas mais eficientes. E a Natureza ia sendo sujeita.
Até que eclodiu a revolução industrial.
A partir daí, primeiro a passo de caracol e depois a uma velocidade supersónica, mesmo muito maior, a ciência e a técnica, o homem, tem tentado subordiná-la ao seu diktat, quer desbastando-a no que ela tem de recursos não renováveis, quer poluindo-a e alterando as condições naturais de sustentabilidade da vida, numa barafunda que, parece, nos está a guiar para a entrada dum fojo do lobo.
Claro que o desvio desse encurralamento, dessa condução para enganosa fuga, tem de ser combatido a nível planetário dada a sua já actual dimensão e como se viu da Cimeira da Acção Climática. Mas isso não invalida que, mesmo a nível local, não se possa, e deva (porque a luta é de todos e grão a grão enche a galinha o papo), também contribuir para a solução de um desastre que, parece, se perfila no horizonte. E essa batalha não está, no entanto, não reside em boas palavras, em programas de gabinete, em inclusões em jornadas ou comissões internacionais, etc., etc.. Pelo contrário e a este nível municipal, ela recairá sobretudo num planeamento que freie a balda caótica dum ordenamento dispersivo e o subordine, definitivamente, à racionalidade dum progresso verdadeiramente sustentável (que não o de se prosseguir a empurrar com a barriga).
Deixemo-nos, pois, do imediatismo e olhemos o futuro.
Banamos a conversa fiada ... as palavras. É que estas, como se diz, leva-as o vento.
Atenhamo-nos a actos.

Fundevila, 20 de Novembro de 2019


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