VÍDEO | António Miguel Cardoso e o mercado de Inverno: "Do ponto de vista desportivo, ficamos mais fortes"

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O presidente do Vitória, António Miguel Cardoso, esteve no Fórum Vitória, da Rádio Santiago, para abordar os negócios protagonizados no mercado de Inverno.

Há dados até que apontam para que o Vitória, nesta janela de mercado, tenha sido o nono clube da Europa, com rendimentos mais superlativos. Isto significou uma mudança de rumo, um novo paradigma, deste ponto de vista?: "Acho que sim. É evidente que foi um mercado importante para nós, isto já estava previsto. Aliás, na última Assembleia Geral, quando tanto se falou das contas, nós sempre dissemos que tínhamos feito uma aposta na qualificação para a fase de grupos da Liga Conferência, que tínhamos feito uma aposta forte naquilo que era a equipa, naquilo que eram os objetivos, que entretanto foram conseguidos. Se quer que lhe diga a verdade, seria muito melhor no final da época, isso é indiscutível, mas foi agora. O Vitória precisa e faz parte daquilo que é o projeto do Vitória, portanto o paradigma não se alterou de forma alguma."

Quando falo de mudança de paradigma, falo dos números que foram envolvidos sobretudo isso?: "Admito que o Vitória vendeu melhor agora do que vendeu lá atrás. Admito que sim, a presença na Europa é importante, eu acho que ajuda a valorizar os ativos. Tínhamos jogadores com muita qualidade, e acho que isso é bem visível, agora nós sentíamos e muitas vezes fomos acusados de ter feito más vendas no passado, e acredito que é legítimo o questionamento dos sócios e das pessoas. Agora muitas vezes nós éramos confrontados, como já falamos no passado, com necessidades que tínhamos prementes, e este projeto é um projeto de médio e longo prazo, e nós não podíamos que o Vitória caísse em problemas como falta de pagamentos de salários, como dívidas excessivas a fornecedores, e portanto muitas vezes fomos confrontados com aquilo que era preciso, que era dar estabilidade a este projeto. Acho que esta fase é uma fase importante em que muitas coisas se começam a materializar."

E porque é que agora foi possível vender melhor?: "Agora foi possível vender melhor porque primeiro temos grandes ativos, e eu acho que isso é importante, segundo porque tivemos uma qualificação e tivemos uma história na Europa que é muito importante. E a verdade é que é muito mais fácil depois de estarmos na Europa e com a campanha que fizemos vender os nossos ativos do que de termos sucesso a nível nacional, e isso foi bem visível. No ano passado nós fizemos o recorde de pontos da história do Vitória, mas mesmo assim os ativos não se valorizaram assim tanto. É importante ter qualidade a nível doméstico, como é óbvio, mas uma boa campanha europeia ajuda muito mais."

E foi possível especular um pouquinho mais?: "Sim, havendo mais interessados, é mais fácil vender, isso é importante, como é óbvio, a partir do momento em que se faz uma venda e estando nós muito mais tranquilos naquilo que é estabilidade para a época, depois estamos mais confortáveis para negociar a partir daí, portanto tudo isso é um conjunto de fatores que fez com que os valores fossem superiores."

Ficou surpreendido com a transferência do Alberto para a Juventus, foi absolutamente surpreendente?: "Não. Nós já acompanhamos o Alberto, pelo menos desde que entramos, desde que a nossa Administração entrou há três anos, já que tínhamos detetado o Alberto como um ativo muito interessante. Tem um biótipo diferente, é um atleta diferente, e o futebol hoje em dia procura muito esse tipo de atletas. A partir do momento em que começou a jogar connosco, tanto na equipa B como na equipa A, a partir de determinado momento começamos a perceber que realmente a Europa estava muito atenta ao Alberto. Com a qualidade que ele foi demonstrando quando começou a jogar tanto a nível doméstico como internacional, depois começaram a aparecer imensos contactos, começamos a perceber que seria uma coisa que poderia acontecer com alguma facilidade."


E aconteceu um pouco também com o Manu Silva, que, creio, esteve um passo de Wolverhampton e depois o Benfica antecipa-se?: "Quando as coisas não se materializam eu não gosto muito de falar em clubes, acho que não é agradável, nem é simpático da minha parte mencionar clubes quando nada se materializa."

A melhor proposta foi a do Benfica?: "Foi, foi. Acho que aqui claramente arranjamos um binómio que é a vontade do jogador, que realmente ele queria ir para o Benfica, e a melhor proposta para a Vitória foi a do Benfica, e é verdade que havia outros clubes, havia outros projetos, havia outros interessados. Acho que o Mano era um jogador importante, neste momento já não é, porque faz parte do Benfica e nós agora temos que nos preocupar com os nossos. Foi feito um bom encaixe e acho que faz parte daquilo que é o projeto do Vitória. Há determinados valores e o Vitória atual não pode dizer não a determinados valores, e nós também não podemos esquecer que os próprios jogadores têm ambições e nós temos um teto salarial que muitas vezes é impossível de cobrir perante estes clubes que estamos a falar, e por isso são coisas naturais."

O Vitória antecipou-se aquilo que seria previsivelmente o mercado e fez um investimento quer no Manu, quer no Kaio César.: "Isso faz parte daquilo que é o nosso dia-a-dia, das decisões que nós temos que tomar, dos atos de gestão."

Mas quando fez estes investimentos já tinha como expectável que os jogadores pudessem ser rentabilizados?: "Isto são estratégias de gestão, é evidente que nós compramos a percentagem ao Feirense antes de fazer a venda, a venda ainda não estava feita, portanto isso foi um determinado ato de gestão. Em relação ao clube do Kaio, foi feito uma coisa similar, e por isso acho que faz parte daquilo que são as nossas decisões no dia-a-dia."

Parece absolutamente líquido no que diz respeito à avaliação que os sócios do Vitória fazem deste mercado de transferências, e sobretudo dessas duas transferências do Manu e do Alberto, que o Vitória de facto esteve muito bem. Já não é a mesma leitura que fazem relativamente à transferência do Kaio. Concorda que de facto o Vitória podia ter conseguido valores diferentes, ou devia, face à qualidade do jogador?: "Eu percebo sempre a opinião dos sócios, mas nós temos no dia-a-dia outro tipo de questões e outro tipo de decisões que temos que tomar. Nós no ano passado fizemos um empréstimo com a opção, se não me engano em Janeiro, e andamos ali até ao fim para acionar a opção de compra, mas financeiramente não nos foi possível. Quase em cima da hora dissemos que o jogador teria que voltar para o Brasil, contra a nossa vontade e a vontade do jogador na altura. No início desta época, e já um bocadinho com as relações tensas com o Coritiba, voltamos a pedir o empréstimo, e eles disseram que não, que nem pensar, que as coisas não tinham corrido da melhor forma. Por isso acabamos por fazer o empréstimo do Kaio mesmo em cima da hora e já em condições que não eram as melhores, mas nós queríamos muito que ele voltasse. E portanto foi feito um novo acordo de empréstimo, que não foi o melhor acordo, mas foi o possível perante aquilo que eram as condições naquele momento. Por isso tudo isso acaba por também trazer aqui um menor retorno ao negócio do Kaio. Agora, a verdade é que o Kaio também foi outro jogador que deu nas vistas, nós fomos recebendo propostas de outros clubes inferiores, recebemos propostas de 6 milhões, de 7 milhões, e o Kaio naturalmente, porque quer fazer a vida dele, também tinha vontade de sair. E foi fazendo a sua pressão natural, porque também queria mudar de vida. Chegou a um ponto em que recebemos uma proposta superior a essas que nós já estávamos a falar, um projeto em que o Kaio vai ganhar 10, 11, 12 vezes mais daquilo que ganha no Vitória, e nós temos que ser compreensíveis, isso faz parte, é natural. Portanto, o Vitória não se pode dar ao luxo de chegar a um valor de 9 milhões e dizer que não, não pode, e por isso, a partir daí, tudo se fez para que as coisas se parecessem a acontecer da melhor forma."

Ainda que estejamos a falar de um retorno líquido que não chegará aos 5 milhões para o Vitória.: "É precisamente aquilo que eu estou a dizer, nós quando voltamos a fazer o empréstimo do Kaio, quase nos últimos dias do mercado, e queríamos que ele voltasse, o Coritiba, e porque nós já tínhamos falhado na opção no ano anterior, fez o negócio que tinha que ser feito naquele momento. Nós como queríamos desportivamente que ele voltasse, eu acho que mesmo assim um investimento zero para um retorno de 5 milhões, não é assim tão mau, e por isso foi aquilo que aconteceu, e mais uma vez, quisemos e achamos que o Kaio deveria sair, e faz parte que ele queira ter outros projetos, portanto, acho que não foi assim tão mal, sinceramente."

Do ponto de vista desportivo, saíram mais jogadores do que era pretendido por si?: "Não. Do ponto de vista desportivo, eu acho que nós ficamos mais fortes."

Acha que o Vitória ficou mais forte?: "Não tenho dúvidas, não tenho dúvidas."

Portanto, rebate a ideia do desmembramento do plantel?: "É evidente que fazer uma reestruturação do plantel no meio da época não é o ideal, e isso, não vou discutir isso, porque é óbvio que não é o ideal, mas a aposta foi feita desta forma. Nós, a administração, temos que ter a destreza de, mesmo nestes momentos, conseguir dar a volta, reestruturar o plantel, e ficar mais fortes, e é isso que nós sentimos, é que o plantel está mais forte, os treinos estão mais aguerridos. Um jogador que veste a camisola do Vitória é mais forte que um que não veste, e portanto essa é sempre a perspectiva no Vitória. Quando um jogador sai, para mim deixa de ter valor e quando um jogador entra no Vitória, tem todo o valor do mundo, e é assim que nós temos que pensar no Vitória, portanto nós estamos mais fortes."

Do ponto de vista das entradas, há uma muito particular, porque 3 milhões de euros pelo Beni, creio ser a maior compra que o Vitória faz?: "É um investimento. Nós conseguimos ter a racionalidade, e depois das vendas que fizemos pelos jogadores que nós já falamos, e o Vitória quando vende pelo menos dois jogadores por 12, 13 milhões, fora os bónus, e quando deteta no mercado um jogador com 21, 22 anos, e que vai trazer muita qualidade ao plantel, sobretudo ali no meio-campo, e vai criar ali uma ‘guerra’, entre todo o plantel, interessante para que o Vitória seja mais competitivo, e portanto achamos que era uma oportunidade, quisemos fazê-lo, e decidimos. Eu acho que o risco está sempre inerente, nós queremos ter um Vitória competitivo, noutros jogadores conseguimos os empréstimos com opção, conseguimos ter propostas um bocadinho diferentes, conseguimos por exemplo no Relvas fazer uma compra que achamos com valores inferiores, o Beni é um investimento de clube, tenho a certeza que será rentável, e por isso neste momento o que é importante é dar qualidade para que o Vitória possa ganhar os próximos jogos."

O Casa Pia mostrou-se intransigente neste negócio, aparentemente.: "O Casa Pia sabe da qualidade do nosso jogador, e portanto sabendo da qualidade do nosso jogador, defendeu-se, como nós também nos defendemos, faz parte daquilo que é o futebol. Agora uma coisa tenho a certeza, o Beni agora é nosso, tem o nosso emblema ao peito, vem cheio de vontade, é mais um para ajudar ao grupo, e por isso tenho a certeza, repito, que será um grande investimento."

Só não vendeu mais jogadores porque não quis?: "Sentimos a determinado ponto que aquelas eram as propostas que faziam sentido vender, neste momento, como lhe disse, temos muito a ganhar este ano, e acho que ainda há muito a ganhar este ano, portanto neste momento estamos equilibrados, conseguimos ver uma coisa que nós durante estes três anos de mandato, eu nunca vi financeiramente mais do que um mês à frente, e muitas vezes nem uma semana ou um dia conseguia ver."


Marcações: Vitória Sport Clube, António Miguel Cardoso

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