Rui Machado: "Se não estivesse surpreendido, estaria a admitir esta realidade como normal"

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Está surpreendido com o facto do Pevidém ainda não ter conquistado qualquer ponto na Liga 3?: "Se não estivesse surpreendido, estaria a admitir esta realidade como normal. Estou estupefacto. Mas acima de tudo, muito tranquilo".

Na sua óptica já eram expectáveis as dificuldades sentidas?: "Exceptuando alguns imponderáveis, não estranhamos nada do que tenhamos visto. Sabíamos que este campeonato iria ser extremamente competitivo. Conhecemos as nossas forças e não nos escudamos nas nossas fraquezas. Com todo o respeito pelos nossos adversários, ainda não identificamos nenhum que nos seja tão superior ao ponto de não acreditar legitimamente que podemos vencer qualquer um. Essa crença será certamente transversal a todas as equipas. O que é óptimo para a modalidade e para esta liga em particular".

Que justificações encontra para esta performance, que do ponto de vista pontual não esta a ser a desejável? As lesões de jogadores nucleares também têm sido impeditivas de um melhor rendimento?: "Deixando de lado as generalidades, tais como condições financeiras e estruturais, são inúmeros os factores que consubstanciam o sucesso ou a falta dele. As lesões são sempre um problema, principalmente para os atletas. Mas confiamos em todas as opções do nosso plantel. Agora, tudo o que limita as opções do mister é negativo. Pior do que isso, é a qualidade do treino e a diminuição da competitividade interna. As nossas limitações financeiras não nos permitem ter um plantel vasto. Felizmente, temos muita qualidade na nossa equipa B. Cada impedimento de um jogador do plantel principal traduz-se numa oportunidade para um jovem atleta da equipa secundária. Tivemos também alguns casos de infecção por Covid. Toda a gente viu e referenciou o erro infantil do nosso jogador Emanuel no nosso jogo com a Anadia. Era o único central disponível após termos perdido dois por lesão nos últimos dois jogos. O que poucos sabem é que o jogador esteve em isolamento até 48 horas antes do jogo. Fez 85 minutos sem treinar com o grupo em quase duas semanas. Ele não errou. Ele foi um herói. Acredito também que o regresso do público e o mediatismo à volta desta Liga 3 possa ter alguma influência sobre alguns dos nossos jogadores menos tarimbados. Alguns não estão habituados aos holofotes, figurativa e literalmente. É um processo de habituação".

Crê que, de algum modo, o Pevidém perdeu o efeito surpresa, porque os adversários esta época já estão de sobreaviso para o valor que a sua equipa tem?: "Isso já aconteceu no decorrer da última época. Respeitamos todos os adversários e sentimos que é recíproco. Como já referi, qualquer um pode ganhar a qualquer outro. Contudo, somos suficientemente humildes para reconhecer que somos uma espécie de “patinho feio” no meio do bando. A nossa condição de associação sem sociedade desportiva, nem investimento privado, totalmente amadora, faz do Pevidém SC uma “anormalidade” competitiva. Por outro lado, somos também orgulhosos e não admitiremos falta de respeito ou qualquer tipo de discriminação. Na verdade, essa condição acaba por nos granjear muita simpatia e até admiração. É o tal “Puro Futebol”.

Três derrotas noutros tantos jogos fazem despertar a ideia de que o plantel formado talvez tivesse que ser mais ‘forte’, ou está convencido que é com estes que será alcançado o objectivo?: "Não estou convencido. Tenho a certeza. A tal ponto que se tal não acontecer, apresentarei a minha demissão automaticamente. E não é sobranceria: é compromisso! Compromisso que sinto em todos os nossos atletas, na nossa equipa técnica, em toda a estrutura e nos meus colegas de direcção. Não temos qualquer dúvida do processo, da qualidade, da ideia de jogo, da coragem, da vontade, do espírito de sacrifício e de muitas outras coisas. E claro que gostaríamos de poder contar com o Ricardo Quaresma ou com o André André. Mas desengane-se quem pensar que temos o que sobra ou que os jogadores do Pevidém não têm mercado. Identificamos há muito o perfil, ou melhor, os perfis dos jogadores “à Pevidém”. Somos muito rigorosos na contratação. A decisão é colegial e não existem obrigações contratuais que limitem a escolha do mister. É uma grande satisfação para nós acabarmos com os que começaram. Anunciamos muito recentemente uma contratação porque era uma lacuna do plantel, de um jogador há muito referenciado e que só agora foi possível contratar. Não tem absolutamente nada a ver com os últimos resultados. É claro que recebemos muitos “não”. Alguns, após receberem as nossas propostas, responderam com uma risada, julgando que estávamos a brincar. Outros optaram por melhores condições contratuais, apesar da grande vontade de nos representarem. Outros ainda aceitaram, mesmo tendo propostas mais benéficas economicamente. Temos os que quisemos. E é com esses que vamos à luta".

Já teve alguma intervenção junto do grupo para lhes transmitir confiança?: "Estou presente em quase todos os treinos e convivo diariamente com os jogadores no relvado e no balneário. Acredito que o líder da equipa é o treinador principal. É a ele que cabe transmitir confiança aos jogadores. A nós, estrutura, compete-nos dar protecção, estabilidade e confiança ao treinador.Não sou de andar aos pontapés aos cestos no balneário. Se tiver de intervir, será sem complacência mas sempre em prol do grupo de trabalho e em defesa do nosso símbolo".

Ainda que só tenha disputado um jogo na condição de visitado, o facto de não jogar no Albano Coelho Lima também pode ser um obstáculo ao longo da época?: "É uma realidade com a qual temos de saber conviver. A nossa casa, por muito modesta que seja, é sempre melhor que a mansão alheia. Mas não pode servir de desculpa. Antes de mais, mudamos para muito melhor. As condições são incomparavelmente melhores para todos, inclusive adeptos. Depois, passamos a ter um centro de treinos (a nossa casa) e jogamos num estádio, à imagem dos clubes profissionais. A entidade gestora do espaço, a “Tempo Livre”, tudo faz para que nos sintamos verdadeiramente em casa. O Shakhtar Donetsk teve de mudar para o oeste da Ucrânia. O Vitória SC fez uma grande época em Felgueiras. Do campo da pista dos Gémeos Castro, vê-se Pevidém. Queremos muitíssimo regressar a casa. Mas não somos hipócritas".

Não jogando ‘em casa’, que resposta espera dos adeptos do Pevidém agora que o regresso do público está autorizado?: "Como já disse, não pode servir de desculpa. Temos adeptos que certamente percorrerão distancias superiores à do centro de Pevidém até à Pista Gémeos Castro em passadeiras de ginásios. Acredito que não nos faltará apoio. Não me canso de dizer que é por eles que trabalhamos".


Marcações: Pevidém Sport Clube, Rui Machado

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