KICKBOXING: O Campeão do Mundo em entrevista ao Desportivo de Guimarães

António Sousa voltou a fazer história no Kickboxing, revalidando o título mundial de pesados, após derrotar o alemão Eugene Waigel, por KO, numa competição que decorreu no país do seu adversário.
Defrontando um lutador de qualidade, com um currículo de duas medalhas de ouro no Mundial e um título de campeão da Europa, o atleta vitoriano, de 33 anos, justificou o estatuto de melhor do mundo, acabando com o combate no segundo round.

Qual foi o segredo de novo sucesso?
Não há grandes segredos. Treina-se muito e vais aproveitando as oportunidades que surgem. Acima de tudo, é acreditar que o trabalho que vais efectuando diariamente tem de dar frutos.
Era um adversário com qualidade. Tinha um bom conhecimento dele?
Sinceramente só vi um vídeo de um combate que ele realizou com um atleta russo. Não gosto muito de ver os meus oponentes. Limitei-me a estudar um pouco, para ter uma noção do que ele pode valer.

Foi um combate fácil?
Difícil não foi, porque um combate que dura pouco mais de dois minutos não pode ser considerado difícil. Mas, isso não significa que eu fosse para a Alemanha a pensar que ia ser fácil. Treinei durante três meses, duas vezes por dia, para estar preparado para este combate. Além disso, pelo facto de ser português e de ser mais pequeno que o meu adversário, senti que menosprezaram um pouco o meu valor. Acabei por provar o meu valor, acabando com o combate rapidamente.

Pelo facto de não ser profissional, vencer dá um brilho diferente ao título conquistado?
Claro que sim. É muito complicado ser amador e lutar contra atletas profissionais. Enquanto a vida dos meus adversários é o kickboxing, eu tenho de trabalhar muitas horas, no final do trabalho tenho de treinar muitas horas e tenho de ter uma força mental extraor­dinária para dar o apoio necessário à família. Não é fácil, mas tenho a compreensão deles. Muito deste sucesso devo-o à família e ao meu mestre. O Alberto Costa é um excelente treinador.

Financeiramente estes títulos compensam o esforço e sacrifícios?
Nem pensar. Antes compensasse. Em Portugal, é uma modalidade que se faz pelo gosto. Comecei com 20 anos e fui andando. Agora, vou fazendo um ano de cada vez. Vou treinando e, se vir que tenho tempo para treinar, vou combatendo. Ainda não disse a palavra não a combates, mas está a chegar o dia.

Quando pensa acabar a carreira?
Não faço ideia. Às vezes sinto-me muito cansado, porque trabalhar, treinar e ter família para cuidar não é fácil. A família é muito importante, mas tenho a consciência que não lhe dou a atenção necessária. Estou poucas vezes presente.

Mas os títulos compensam essa pequena falha?
Um pouco, porque quando cheguei a casa disse ao meu filho que tinha sido campeão. E ele disse: esse cinto é meu, pai. Ao que eu respondi: claro que sim. O pai foi ganhar o cinto para ti. A minha esposa, sempre muito atenciosa, disse se ele queria ir treinar. Ficou eufórico com a ideia, até que lhe perguntei, mas queres treinar para quê? Ao que ele respondeu: quero ganhar um cinto para a mãe. Mas não queres ganhar um para ti? Eu já não preciso. Já tenho o que me deste, respondeu. E são estes pequenos momentos que nos dão força para continuar.

Com três títulos mundiais e um intercontinental, gostava de terminar a carreira com a disputa de um título de campeão europeu.
Sinceramente, a minha expectativa era despedir-me neste combate. Vamos vendo e andando. Neste momento não sei responder ao que vai ser o futuro. 
Mas os patrocínios não ajudam a repensar continuar?
Nunca tive e não é agora que os quero. Bem, querer toda a gente quer, mas teriam de ser patrocínios que me permitissem deixar de trabalhar e treinar muito. Se eles aparecessem e fossem bons, até lutaria até aos 40 anos. Mas sei que isso é difícil e muito complicado.

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