«O Palácio das Hortas», última obra escrita em vida por Maria Adelaide Moraes
A magia da escrita de Maria Adelaide Pereira de Moraes continua viva no livro "O Palácio das Hortas", apresentado publicamente pela Sociedade Martins Sarmento na passada quinta-feira, numa cerimónia que serviu de homenagem à ilustre historiadora vimaranense que faleceu em dezembro do ano passado.
Precisamente do dia em que nasceu Maria Adelaide Pereira de Moraes (20 de junho de 1930), a centenária instituição cultural deu à estampa a sua última obra escrita em vida, correspondendo ao repto lançado pelo actual proprietário daquele palacete. "Após a compra do edifício, empenhado na sua reabilitação, o sr. Fernando Braga começou a interessar-se pela história do imóvel. Com a ideia de publicar um livro, contactou a D. Maria Adelaide que prontamente aceitou o desafio, porque viu a oportunidade para desenvolver o estudo sobre uma casa e uma família sobre as quais há muito pretendia debruçar-se", contextualizou o Presidente da Sociedade Martins Sarmento, ao justificar o envolvimento nos trabalhos de publicação. "Após sucessivas e cuidadosas revisões, a obra estava praticamente finalizada em dezembro de 2023, quando a D. Maria Adelaide faleceu. Concluímos o trabalho seguindo escrupulosamente todas as suas indicações, nomeadamente a escolha das imagens que deveriam constar na publicação, transcreveu-se ainda a nota auto-biográfica de Francisco Pedro Felgueiras que tinha sido oferecida ao Sr. Fernando Braga por um descendente brasileiro, Dr. Nelson Garcia Paraíso", precisou Antero Ferreira, ao enaltecer o trabalho de Rosa Maria Saavedra, Célia Oliveira e Alexandra Xavier para a concretização do projecto, com o acompanhamento de Fernando Braga que patrocinou edição.
"Esta publicação é uma justa homenagem à autora e ilustre associada da Sociedade, uma conceituada genealogista e investigadora de referência sobre a história vimaranense", destacou o dirigente.
Na sessão realizada no salão nobre da Sociedade, Rosa Maria Saavedra partilhou alguns traços da personalidade de Maria Adelaide Pereira de Moraes, "um ser humano ímpar". "Era afável, disponível, generosa, sábia, amiga, gostava de conversar, de ouvir, de rir. Apreciava as pequenas coisas da vida e tinha um fino sentido de humor. Gostava de viver. Nunca a vi zangada, impaciente, queixosa, apesar da desconfortável doença que há longo tempo a acompanhava, olhava o mundo sem rancor, sem mágoa. Tinha uma preocupação enorme em não incomodar os outros", recordou, ao lembrar os 36 anos de amizade e de cumplicidade em muitos dos trabalhos de investigação.
"Modesta e generosa, nunca recusava um pedido e eram muitos os que lhe eram feitos, especialmente textos escritos sobre a história e património de Guimarães, rapidamente os escrevia, mas punha sempre em dúvida a qualidade do seu trabalho", acrescentou, assinalando que perante a sua ausência "conforta saber que a sua memória permanecerá viva não apenas naqueles que a conheceram mas em todos os que abriram os seus livros e se deixaram envolver pela magia da sua escrita".
A apresentação do livro esteve a cargo de Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, historiador que referiu-se à homenageada como uma "figura simbólica da cidade de Guimarães". "Não é simplesmente uma genealogista. Nos seus diversos trabalhos a genealogia existe, mas é complementada pois o que a movia verdadeiramente era a narrativa histórica dos seus personagens, dos edifícios e dos acontecimentos, entrelaçados com as localidades, as propriedade e a política local e nacional. O manuseio que fazia de uma vasta quantidade de fontes históricas, por entre documentação pública e privada, confere às suas obras uma perspectiva intimista e familiar, mas simultaneamente pública e colectiva", disse, sublinhando "o alcance quase fílmico da sua escrita, sem a perda do rigor histórico". Estas características estão expressas na monografia que traz à luz as pessoas e as suas vontades que, desde o século XVIII, ergueram na Carrapatoza os pilares do palacete das Hortas, cumprindo o seu destino de "casa de gente", "que ali estrutura diariamente os seus ritmos e rotinas, compartilha momentos de alegria e tristeza, fortalece os seus laços afetivos e familiares".
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