Manuel Lopes: o residente poeta do CliHotel de Guimarães

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«Segue a estrada da tua vida. Percorre o asfalto. De porte alto. De coração nobre. De sorriso estampado no rosto, que é uma coisa que em ti eu gosto!», eis o início do poema que Manuel Lopes, de 74 anos de idade, residente há três anos no CliHotel de Guimarães, escreveu em cinco minutos e dedicou a Maria de Fátima, no final do seu estágio de auxiliar de ação direta. 

O Nelinho, como carinhosamente todos o tratam no CliHotel de Guimarães, é um residente de pensamento carismático e figura frágil. De obsessões particulares - como a poesia de Acácio Matos - e saúde débil. 

"O Nelinho é um exemplo de resiliência. Chegou cá acamado. Descompensado pela bipolaridade. Sem falar. Sem força e sem motivação. Acredito que a atenção, o cuidado e o carinho que recebeu aqui fizeram toda a diferença numa vida, muitas vezes de isolamento, apesar de uma família numerosa sempre atenta e cuidadora", conta Manuela Silva, a auxiliar do CliHotel que o acompanha, com grande proximidade. 

Manuel Lopes, que agradece todo o carinho com um tímido lacrimejar, teve uma vida profissional ligada ao setor dos seguros, mas é de letras que se alimenta. Português e Filosofia seriam as disciplinas de eleição, se, em termos escolares, não se tivesse ficado pelo então designado curso complementar do ensino secundário, que terminava no 11.º ano de escolaridade.  

Curioso, aos 5 anos de idade, começou a ler o jornal, para perceber o que tanto atraia o pai naquele pedaço de papel. Entrou na primeira peça de teatro com a mesma idade. Gostou de dizer, de projetar a voz… E até mais de declamar poesia, ainda na escola primária, inclusive a convite da direção escolar regional. "E até em eventos dos inspetores escolares", assegura. 

Tem dois filhos, "com actividade profissional intensa", e dois sobrinhos netos, o Ricardo e o Renato, para os quais escreve inúmeros poemas. "Gosto da pureza dos mais novos e de ensinar", justifica Manuel Lopes, que também escreve para homenagear os adultos que lhe tocam o coração, pelo carinho e pelo profissionalismo. Como as «meninas de azul», como carinhosamente trata as auxiliares de ação direta do Clihotel de Guimarães: «És do Minho, és braguista, só tenho pena que não sejas portista!», lamenta Manuel Lopes, num dos seus poemas, já que, para além de ser da cidade do Porto, também é um dragão convicto. 

"Os meus filhos fizeram um périplo pelo Porto e pelos concelhos vizinhos para tentarem encontrar uma residência sénior que me acolhesse. Ainda bem que só a encontraram em Guimarães. Foi uma bênção ter vindo para o Clihotel de Guimarães. Entrei aqui fraco, quase morto. Foi graças ao corpo clínico, às enfermeiras e às meninas de azul, que saí do coma, da letargia", revela Manuel Lopes, que lhes elogia "o coração grande". 

A sua recuperação tem tanto de extraordinária como de emotiva. Com a sua voz grave e colocada, e dicção tão perfeita quanto a caligrafia com que fixa os seus poemas, Manuel Lopes é também, hoje, um motivador das equipas do CliHotel."Elas até me vão buscar à cama para dirigir umas palavras de incentivo às meninas", revela, com orgulho, e uma satisfação imensa por poder retribuir. Afinal, como escreveu no poema à referida estagiária: «Ao percorreres o caminho, conta sempre com o meu carinho!».

 

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