JMJ Lisboa 2023: “Esta onda veio despertar os jovens portugueses!"

A visita do Papa Francisco para participar na Jornada Mundial da Juventude, realizada entre os dias 1 e 6 de Agosto, em Lisboa, constituiu um momento histórico inigualável a nível nacional, deixando um legado nos milhares de peregrinos. O evento inédito, realizado sob o calor abrasador, ficou marcado pelos discursos improvisados do líder da igreja católica. O Padre José Pedro Oliveira, assistente da pastoral dos jovens, partilha os ecos que a mensagem do Papa teve entre os 348 peregrinos do Arciprestado de Guimarães e Vizela.

Pergunta (P)- O que representou a JMJ Lisboa 2023 para a "renovação" da Igreja?
Padre José Pedro Oliveira (PJPO) - Cada JMJ é uma oportunidade de rejuvenescimento da Igreja. É a oportunidade real do encontro entre vários jovens, de diferentes nacionalidades e culturas. E que durante duas semanas (contando com os dias na diocese/ pré-jornadas) partilham a fé no mesmo Cristo Vivo com alegria e amor. Este é o sinal revelador e transformador, o encontro de Cristo com os jovens e dos jovens com Cristo; sem necessidade de grandes exposições porque o que os nossos olhos veem e o nosso coração sente é o princípio da renovação pessoal e mais tarde colectivo.

Recordando o modo como Jesus Cristo chamava cada um para a construção do Seu Reino, ou seja, pelo próprio nome e desafiando a segui-Lo “Vem e verás!” ou “Vem e segue-me!” foi o modo como muitos jovens se dispuseram a partir apressadamente, muitos na verdade, sem saber bem o que lhes esperavam. Em cada JMJ, os jovens têm a oportunidade de conhecer melhor as várias vocações e serviços na Igreja, assim como viver a experiência da reconciliação (confissão) em Lisboa, a que chamaram de Cidade da Alegria. Aqui, cada jovem encontrou diferentes experiências da vivência e alegria Cristã. Provocados a olhar para a sua própria vida e a descobrir ou mesmo descodificar um caminho como resposta a Deus que o chama pelo nome.

P - Que testemunho trazem os participantes do Arciprestado de Guimarães e Vizela?
PJPO - Participaram nesta jornada 348 peregrinos. Os seus rostos transmitiam serenidade e alegria. Encantados de verem milhares e milhares de jovens que, sem medo nem vergonha, caminhavam (pelas ruas, metros, autocarros de Lisboa) cantando músicas de mensagem cristã e gritos de comunhão com o Papa Francisco - “Esta é a juventude do Papa”.
Esta onda juvenil veio despertar os jovens portugueses! Pelos seus testemunhos de uma experiência incrível, única e feliz que nem as elevadas temperaturas e o cansaço fizeram esmorecer. Acredito que a participação foi e será inquietante, onde cada um irá transmitir não só a sua experiência, mas juntos encontrarem formas de viver e testemunhar a fé em grupo.

P - Como foram acolhidos os peregrinos do Arciprestado?
PJPO - Fomos acolhidos na paróquia de Camarate e todos os voluntários foram extraordinários. Manifestaram desde o primeiro dia até à partida uma disponibilidade, atenção e cuidado a cada grupo e a cada um. Podemos dizer que nos sentimos em casa. Os nossos peregrinos tiveram uns em escolas, onde pernoitaram e faziam a sua higiene pessoal, e outros em famílias de acolhimento, e um grupo de jovens do sexo feminino pernoitaram em casa de irmãs religiosas. Também as famílias de acolhimento foram excepcionais de uma preocupação para que nada nos faltasse. Aliás, a maioria delas traziam os nossos peregrinos ao ponto de encontro e na falta de transporte público deslocavam-se até ao local onde estavamos. Como já tive oportunidade de o dizer, este é o verdadeiro modo de acolher, pois não basta abrir a porta ou acomodar num cantinho aqueles que nos chegam a casa; é preciso acolher bem ou seja acompanhar, tornar-nos de casa, desejados, amados como irmãos. Tal como Maria fez quando recebeu Jesus em sua casa. Um grande bem-haja para todos os voluntários e famílias de acolhimento de Camarate. Serão todos bem-vindos no nosso concelho!

P - Qual a mensagem mais inspiradora e cativante transmitiu o Papa Francisco aos peregrinos?
PJPO - A presença do Santo Padre, Papa Francisco, por si é inspiradora, inquieta e compromete a fazer caminho. Partilho aquelas que mais foram vincadas quer pelo Papa quer pelos nossos peregrinos. "Cristo chama-nos pelo nosso nome. Chama-nos por que nos ama e quer que víamos o seu amor. Este amor que não se paga, como tudo na vida. O Amor de Cristo é grátis. Para sermos amados por Deus não precisamos de maquiagem ou de nos tornar naquilo que não somos ou até nem queremos ser, mas que a sociedade por vezes nos obriga a mudar". 

Outra grande mensagem é "não ter medo". O medo bloqueia, não permite viver. Ser jovem é arriscar, é sair, é colocar-se em busca de si e dos outros. Não tenhamos medo de ser surfistas do amor. Não tenhamos medo de ser testemunhas de Cristo, Ele não tira nada dá tudo. Não tenhamos medo das quedas, isso não é importante, o importante é não permanecer caído. Por isso levanta-te! E ajudar a levantar o outro, teu irmão.

P- Como é que a mensagem do Papa Francisco será agora aplicada nas comunidades paroquiais?
PJPO - A mensagem que o Papa Francisco será aplicada na medida em que cada jovem peregrino permaneça fiel ao que viu, ouviu e viveu por estes dias em Lisboa e que cada um assuma de verdade e com amor que a IGREJA é de TODOS. Os jovens são Igreja, nela devem estar e ser testemunha. Ou seja, não podem continuar a olhar a Igreja como realidade externa a mim jovem! Mas como parte de mim. Que tal como eu tem as suas fragilidades e as suas fortalezas.
Por sua vez, cabe à comunidade paroquial: sacerdote, agentes da pastoral, entre outros encontrar juntos o modo com que os jovens possam ser rosto, ter voz e aprofundar a sua relação com Cristo Vivo. Uma coisa é fundamental: a consciência de que todos somos chamados a ser peregrinos da Esperança e aprofundar as razões da nossa fé.

P - Após esta Jornada, de que forma a Igreja vai abrir as suas portas a "todos"?
PJPO - É verdade que no encontro de Acolhimento ao Papa, este deu enfâse a que a IGREJA é de e para TODOS, TODOS, TODOS. E esta sempre foi a linha de orientação de Jesus
Cristo e cabe ao Santo Padre relembrar a TODOS. Contudo, importa recordar o que implica este Todos na Igreja. É exatamente aquilo que referi no aspecto do acolhimento; não basta abrir a porta! É preciso querer entrar e permanecer, conhecer e aprofundar, viver e testemunhar. Pois ninguém ama o que não conhece! Assim, ser membro de Cristo, implica fazer caminho, não apenas quando me dá jeito. Neste sentido, só terá esta dimensão universal quando todos forem igreja, quando deixarmos de apontar o dedo e colocar as mãos ao serviço, ou deixarmos a berma e partirmos juntos, independentemente do ritmo, mas sob a mesma visão e orientação.
Creio que o Papa Francisco foi claro numa das perguntas no voo a este propósito – “A Igreja é aberta a todos, depois existem leis que regulam a vida dentro da igreja. Alguém que está dentro está de acordo com a legislação...”. Portanto, Todos: crianças, jovens, adultos, velhinhos, ricos ou pobres, sãos ou doentes são chamados por Deus pelo seu nome, são amados e é bem-vindos dentro da Igreja. Pois Cristo
não fez, nem a Igreja fará aceção de pessoas. Mas ambos apontamos o caminho.
Na verdade, por mais esforço que a Igreja procure fazer para permanecer e continuar a ser caminho certo e fiel nos nossos dias, há muitos que não reconhecem e dificilmente vão reconhecer este processo de abertura, porque sempre faltará algum aspeto, segundo a leitura e o padrão de cada um.
Apesar de tudo isto, não deixemos que nos tirem a alegria de sonhar por uma casa comum onde o amor é regra e os de casa são irmãos. Sem medo, pois, Cristo vai na minha e nossa barca, continuemos a ser missionários e surfista do amor a todos e não nos cansemos de sermos peregrinos da Esperança.

*Entrevista publicada na edição de 9 de agosto de 2023 do jornal O Comércio de Guimarães.


Marcações: Jornada Mundial da Juventude

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