Covid-19: O apelo desesperado de uma médica que exorta ao combate à pandemia

images/fotoarquivo/2018/corona-virus/catia_goncalves.jpg

Neste tempo de pandemia a prioridade continua a ser de combate à propagação da Covid-19. Numa altura em que o número diário de mortes e infecções não chegam para que todos percebam a dimensão do problema que estamos a viver, importa perceber o drama de quem tem de lidar directamente e todos os dias com os doentes. Neste contexto, fica aqui o apelo para reflexão o depoimento da médica Cátia Pereira da Silva.

"Era uma vez a frustração. É assim que começo a semana de trabalho: frustrada. Hoje vi uma senhora de pouco mais de 60 anos. Vinha de preto, luto por um filho há uns anos. Ela e o marido testaram positivo há uns dias. Ela até tolerou bem a tosse e a dor de cabeça mas o marido foi internado. Desde sexta-feira que não sabe nada dele, a última vez que falaram, ele disse-lhe que lhe iam pôr uma máscara diferente para respirar melhor e que não ia poder falar. Está sozinha num quarto há dias, agarrada à dor antiga do luto do filho e a pensar no marido. Veio hoje à urgência porque não suporta a angústia, o medo de perder também o marido. E eu... eu não lhe posso fazer nada. Provavelmente, o marido está nos cuidados intensivos ou a aguardar vaga para os intensivos. Dei-lhe a mão com as luvas de plástico e disse-lhe, entre outras coisas, para ter esperança e mais um bocadinho de paciência. Foi novamente para casa, fechar-se num quarto e aguentar a angústia sozinha. Como ela, estão muitos familiares com a vida em «stand by», à espera que o médico ligue a dizer que o Sr. ou Sra. X está melhor. Conseguem ter empatia por estas pessoas? Vamos, por favor, lutar juntos contra este vírus e deixem os lanches e almoços com os amigos e famílias para depois. Há famílias que vão ficar desempregadas, pais que não vão ter dinheiro para pagar a conta da luz destes dias frios e há famílias que vão perder pessoas. Aguentem mais um bocadinho, façam só mesmo o necessário! Pode acontecer a qualquer um de nós...tenham medo porque a situação que vivemos nos hospitais é para ter medo!"

Marcações: covid-19, medica, Cátia Gonçalves

Imprimir Email