Assembleia Municipal de Guimarães assinalou 46 anos do 25 de Abril com «liberdade em casa»
A Assembleia Municipal de Guimarães assinalou este sábado os 46 anos da Revolução dos Cravos, associando-se à iniciativa @liberdade em casa em numa versão adaptada as restrições impostas pela pandemia de Covid-19.
Através do facebook do Município de Guimarães, as diferentes forças partidárias representadas naquele órgão partilharam com a comunidade as suas mensagens políticas.
Na sua mensagem, o Presidente da Assembleia Municipal. José João Torrinha defendeu que é preciso reforçar a necessidade de não se apagar da memória o 25 de Abril.
"Nas lembranças que têm, são aquelas herdadas daqueles que lhe são próximos. São memórias alheias que adoptamos quase como nossas. São vivências passadas com tal detalhe, com tamanha paixão, parece mesmo que lá estivemos nas ruas das cidades por entre tanques, cravos e palavras de ordem. Mas mesmo essas, têm tendência a desvanecer-se com o decurso do tempo. Tudo isto só reforça a necessidade de não se apagar a memória, de se transmitir aos mais novos e a todos os filhos da democracia, que as coisas não foram sempre assim. E que não têm de sempre assim. Não é fácil, é mesmo complicado que nascendo respirando já o ar da liberdade, imaginar um Portugal com censura, com presos políticos, com guerra em curso, com polícia política, com tortura, sem eleições livres, fechado ao mundo. E no entanto, há 46 anos, era esse o Portugal que existia e essa memória não se pode perder pois é o mais sério aviso a todos que não devemos dar nada como garantido. Que a liberdade é o bem mais precioso que temos. Um bem demasiado importante para pensarmos que estará por cá para sempre. Os riscos estão aí para quem os quiser ver, olhemos para fora mas também para dentro, assistiremos a fenómenos crescentes que ameaçam as democracias, países que cerceiam as liberdades dos seus cidadãos, instituições democráticas que julgávamos à prova de bala e cuja independência é posta em crise".
A primeira intervenção pertenceu a Sónia Ribeiro, do Bloco de Esquerda, ao considerar que a crise sanitária que o País atravessa não deve ser respondida com a austeridade.
"A crise sanitária encontrou nos serviços públicos a resposta necessária para o seu combate. Será o Governo capaz de responder à crise económica? Esta resposta não pode ser decalcada do passado recente. A austeridade não é solução agora como não foi então. Empresas estratégicas para o País devem ser renacionalizadas e o investimento tem de continuar a ser feito. As PPP mostraram-se ruinosas para o País e a Europa não soube na altura como não está a saber agora responder de forma solidária. Que aprendamos com os erros do passado. Não podem ser sempre os mesmos a pagar a factura. É preciso valorizar o emprego e quem trabalha. Os despedimento terão de novo um efeito perverso, enfraquecendo a Segurança Social e a sua capacidade de resposta a quem mais precisa. Mas também enfraquecendo a economia. Que se cumpra Abril, que haja coragem e determinação para tomar as decisões que se impõem".
Pedro Ribeiro, da bancada da CDU, focou a necessidade de continuar a lutar pelas conquistas de Abril.
"Abril é luta. É luta contra o abuso, a arbitrariedade, o ataque aos direitos dos trabalhadores. Luta de um País que tem hoje um milhão de trabalhadores em lay off e milhares de novos desempregados. É luta contra as férias forçadas, corte nos salários, desregulamentação dos horários de trabalho, bancos de horas, violação das mais elementares regras de segurança e higiene no trabalho, pressões, chantagem, medo. Lutar por Abril é olhar por esta grave situação que o povo e o País estão confrontados e exigir significativas medidas de investimento público de protecção da saúde, em especial dos grupos mais vulneráveis. Na protecção dos mais afectos e desfavorecidos, na defesa do emprego e no relançamento da actividade económica. E continuar a lutar, agora mais do que nunca, pelo reforço dos serviços públicos e por uma política patriótica e de esquerda que dê prioridade à defesa dos rendimentos e garantias dos trabalhadores e das suas famílias e à defesa do emprego com direitos e medidas que assegurem a produção e a defesa da economia nacional desde loco assegurando a solvência das micro, pequenas e médias empresas com apoios dirigidos, criteriosos e acessíveis".
O representante do CDS-PP, Paulo Peixoto, realçou a importância de celebrar Abril com a confiança de que será possível ultrapassar uma fase difícil.
"Cientes da importância de relembrar Abril, mas com o sentido de responsabilidade que o momento impõe, sobre esta Assembleia que representa Guimarães e a sua gente, encontrar uma forma simples, segura mas sobretudo responsável de comemorar o 25 de Abril pela liberdade alcançada no passado e sem pôr em causa a liberdade indispensável no futuro tal como há 900 anos que esta gesta de Guimarães seja o exemplo para o resto do País. Os próximos tempos adivinham-se difíceis, quer do ponto de vista sanitário, económico mas sobretudo social. Muito há que vão demorar a reconquistar os seus direitos com os quais já estavam habituados a conviver e que agora, privados dos seus empregos, dos seus rendimentos, das suas regalias, têm de requacionar a sua forma de viver. De um dia para o outro, ficaram privados da sua liberdade, a de se movimentarem, a de frequentarem os mesmos locais, a de manterem os filhos nas mesmas escolas, a de manterem os pais nas mesmas instituições, a de manterem o mesmo nível de vida. A todos nós, mas em especial a quem tem a missão de comandar os destinos do País, numa época absolutamente extraordinária e difícil, que saibamos interpretar a liberdade que o 25 de Abril nos concedeu, associada à tolerância conquistada no 25 de Novembro, no sentido de ultrapassarmos esta fase difícil".
A bancada do PSD foi representada com o discurso proferido por Paula Damião... A deputada social democrata, salientou a importância da união entre os agentes políticos locais.
"O avassalador momento da pandemia da Covid-19 parece que não mostrou ainda a alguns que, nestas circunstâncias, todos somos iguais. E os que exercem altas magistraturas, têm que dar o exemplo. É o Covid-19 e a exigência de manter a distância social que impõe que estejamos mascarados em locais fechados onde estejam muitas pessoas. E quem tal questiona, não cumpre e desconsidera a directriz, não faz juz à estatura do cargo. A revolução de Abril fez-se com coragem e cravos e, se necessário, continuar-se-á a fazer com máscaras em nada a diminuindo. Guimarães, adaptando-se ao momento, abdicou da sessão pública da solene de comemoração do 25 de Abril, construindo esta forma digital de cada de os membros de cada grupo parlamentar da Assembleia Municipal, darem o seu contributo chegando desta forma a cada um dos vimaranenses. É diferente mas cumpre o mesmo desiderato. O PSD está preocupado com o momento que os portugueses e especialmente os vimaranenses estão a viver e mais o está com o seu devir. A dificuldade e incerteza do momento, terá de fazer com que todos os agentes políticos locais se unam, se considerem e se reinventem para assim estarem à altura dos desafios".
A crise sanitária também este presente na mensagem do representante da bancada parlamentar do PS, Paulo Lopes Silva, ao considerar que é tempo de resistir.
"Felizmente tem havido resistência à intolerância, mas não podemos deixar de estar alerta, aos pequenos focos que vão surgindo assentes no populismo, em discursos obscuros e de medo procurando que os receios que estes tempos trazem, se traduzam em rejeição do outro ou em divisões por estrato social, crença ou local de nascimento. Saibamos todos resistir, cumprindo o papel que cabe a cada um e preparando o futuro emergindo desta crise com uma nova e melhorada realidade. Aproveitemos as portas fechadas para abrir a janela para o futuro, para a necessária transformação digital do Estado, das organizações, para colocar a ciência e a criatividade ao serviço de todos e para nos focarmos na sobrevivência do planeta e na utilização sustentável dos seus recursos. Saibamos aproveitar o tempo para ter tempo, para valorizarmos o essencial, o que nos transforma, o que nos valoriza e o que torna o mundo um lugar melhor e abandonemos em definitivo a urgência e o imediatismo das métricas vazias. Mais humanismo, mais liberdade e mais democracia. Não podia terminar sem uma palavra muito sentida a todos os que foram vítimas desta doença e dos familiares dos que não lhe resistiram. Uma palavra de profunda gratidão aos profissionais de saúde, aos cuidadores, aos serviços essenciais, às equipas técnicas de suporte e a todos os que continuam a fazer-nos chegar a informação isenta e de qualidade, os que combatem esta pandemia e os que mantêm a normalidade possível garantindo assim a liberdade. Deixar, por fim, uma palavra de esperança para trabalhadores vimaranenses que se viram a braços com o desemprego, empresários, artistas e todos aqueles que viram as suas vidas interrompidas por este adversário silencioso. Tenhamos esperança e perseverança em Abril, nas suas conquistas, no sistema político que construímos".
Marcações: Assembleia Municipal, Comemorações do 25 de Abril, liberdade em casa