Prioridade ao peão? É a ciência que aconselha

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O Jornal Público publicou no passado dia 17 de agosto um artigo dedicado à Mobilidade Urbana que tinha como título “Ciclovias são más

para o negócio?Não, mostram estudos”.
A reflexão é antiga e o mesmo artigo aponta também a ausência de dados para a realidade nacional. Mas a realidade é que a ciência demonstra aquilo que tantos já acreditam empiricamente: a melhor qualidade de espaço público, a prioridade aos meios ativos e transportes públicos e a crescente coexistência são fatores de atratividade e têm como resultado melhores áreas comerciais de proximidade.

As reações menos positivas a este tipo de mudança estão também estudadas e são uma realidade em quase todas as decisões que apontam no sentido da adoção da maior prioridade às pessoas deslocando-se a pé ou de bicicleta como prioridade.
Como em tudo, a mudança gera reação, e é na preparação para essa mudança, na persistência explicativa pela realidade transformada que se
pretende atingir, que assenta o sucesso. Certo é que é mais fácil dizer que fazer. E para essa mudança, para essa persistência e para o envolvimento da comunidade de forma explicativa, não existe ainda ciência que traga a fórmula mágica que a traduza em maior facilidade no processo.
Tudo isto, naturalmente, a propósito do futuro do centro da cidade de Guimarães. O Centro Histórico já há vários anos que adotou medidas de
coexistência e de maior prioridade aos modos ativos de deslocação. Apesar de abandonado o sistema de controlos de acessos, a sinalização vertical existente continua a vigorar, e a passagem pelo Largo da Misericórdia e Rua da Rainha, Largo Condessa do Juncal e Rua Egas Moniz são limitadas a moradores, negócios e veículos prioritários.
Mesmo que a regra não seja adotada civicamente por todos, a verdade é que esta ação transformou as praças no interior destas ruas em espaços de grande vitalidade cívica e económica, com negócios que florescem e dinamizam a área classificada desde 2001.
Ainda para estes espaços haverá caminho a fazer, respeitando os motivos da classificação que colocaram Guimarães na Lista da UNESCO, mas adaptando a realidade física às necessidades contemporâneas e ao maior conforto para o uso daquelas vias pedonalmente, de bicicleta ou de transportes públicos elétricos de pequena dimensão. A Rua Vale de Donas, o Largo da Misericórdia, a Rua da Rainha, o Largo Condessa do Juncal e o Rua Egas Moniz terão ainda caminho a fazer para se aproximarem, do ponto de vista do conforto e das acessibilidades reduzidas, ao Largo de Donães, por exemplo.
Na cintura que abraça estas vias, está já em anteprojeto a adaptação da Alameda de São Dâmaso, Largo do Toural e Rua de Santo António a esta
mesma realidade. O seu desenho final carecerá ainda de discussão pública e o do envolvimento das entidades significativas e da população residente, para a sua adoção. Contudo, este é um caminho sem retorno possível. Não por teimosia, mas porque a realidade, os estudos e a ciência assim o demonstram.
Esta transformação será fundamental para a dinamização daquela cintura comercial da cidade. Desde logo, do ponto de vista do comércio tradicional,
que ninguém esconde não ter hoje a dinâmica que seria desejável para uma cidade da dimensão de Guimarães.
Mas também do ponto de vista da vida da população e da sua qualidade. A prioridade ao uso a pedonal e ciclável criará espaços para usufruto pela
comunidade, para encontro das famílias, para atividades de lazer, culturais e desportivas.
Esta transformação, gradual, participada, mas também determinada, será fundamental para a cidade. Compreendendo e ouvindo as críticas, mas
confiando nos estudos e nas ciências como boa base da tomada da decisão política.


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