O estado da nação e as entradas da cidade

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Cumprindo um ritual iniciado há já 30 anos, em 1993, quando era primeiro-ministro o professor Cavaco Silva, teve lugar na passada quinta-feira, dia 20,

a fechar a sessão legislativa, mais um debate parlamentar sobre o estado da nação.

Como era já de prever, foram exibidos pelo primeiro-ministro António Costa os bons resultados das contas do Estado, os quais vão apontando para um défice zero ou até mesmo para um superavit, permitindo assim o estancamento do crescimento da dívida pública e, consequentemente, baixar o seu rácio em relação ao PIB, que cresce para valores da ordem dos 113%, afastando-nos de países como Grécia, Itália e até mesmo Espanha, colocando Portugal no grupo com acesso aos mercados financeiros internacionais em condições mais favoráveis.

Acresce ainda o facto de o crescimento do PIB no ano passado ter atingido 6,7%, valor muito superior à média europeia, assim como, neste ano, poderá mesmo chegar aos 3% permitindo a Portugal, agora, uma convergência real para a média europeia.

Em contraponto à boa saúde do Estado, manifestada com esta situação de “contas certas”, exibiu a oposição o calvário que esse mesmo Estado tem imposto à nação nos seus vários serviços e competências:

Uma carga fiscal de que não há memória, extorquindo às famílias e às empresas toda e qualquer folga orçamental;

Uma inflação devoradora do rendimento das famílias que tem constituído importante alimento do aumento das receitas do Estado;

O desmantelamento progressivo dos principais serviços públicos como a saúde, a educação, a justiça e os transportes;

O total esquecimento, ao longo dos últimos anos, do importante papel do Estado na promoção da construção de habitação que no passado permitiu, por exemplo, aos governos de Cavaco Silva, eliminar os bairros de barracas dos principais centros urbanos do país através dos PERs – Plano de Erradicação de Barracas;

A situação preocupante com a constante subida das taxas de juro que têm empurrado inúmeras famílias para situação de desespero e até de insolvência com o pagamento da prestação da casa.

A par de todas estas provações impostas pelo Estado à nação, realçou ainda a oposição a postura de poder absoluto da maioria governamental a qual tem selecionado, ora gente impreparada para as responsabilidades que lhe são acometidas, ora gente que abusa do poder apropriando-se de bens do Estado em proveito próprio conduzindo assim, neste ano e meio de governo, à demissão de 14 membros entre ministros e secretários de Estado.

Na verdade, entendemos nós poder dizer também, que a caminho da celebração dos 50 anos da democracia, este terá sido um dos governos que mais contribuiu para a degradação e imagem do regime democrático e para o engrossamento dos movimentos políticos populistas, verdadeira ameaça do mundo livre dos tempos modernos, que depois de contaminar países europeus como a Polónia, a Hungria, a Itália, a França e até mesmo, ultimamente, os países nórdicos, acabou por encontrar pasto em terras portuguesas.

Mudando agora de tema, e depois de duas semanas a visitar algumas cidades históricas do nosso país vizinho, utilizando para o efeito viatura própria, fiquei impressionado não só com a qualidade, mas também com a forma limpa e asseada como se encontravam as várias estradas e autovias que tive oportunidade de utilizar, sobretudo ver os separadores das faixas de rodagem ajardinados com plantas floridas ao longo de centenas de quilómetros.

Ocorre-me evocar esta situação porque, sendo triste a situação como se encontram a generalidade das nossas vias, com as bermas inundadas de vegetação selvagem, com risco de incêndio e dificuldade de escoamento das águas pluviais, manifestando desmazelo absoluto, mais triste se torna ainda quando falamos de vias que atravessam praticamente a nossa cidade, constituindo mesmo, algumas delas, suas entradas.

Diz o povo, na sua milenar sabedoria, que “pela aragem se vê quem vem na carruagem” coisa que, no caso, não corresponde à verdade já que, como todos bem sabemos, Guimarães é uma cidade limpa de que todos nos orgulhamos.

Urge, pois, aos nossos responsáveis políticos, exigir às entidades responsáveis pela conservação e manutenção dessas vias, que assumam as suas responsabilidades na sua limpeza e asseio.

Guimarães, 24 de Julho de 2023
António Monteiro de Castro

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