S. João e o dia um de Portugal
Celebrou-se no passado sábado, dia 24 de Junho, um pouco por todo o país, o dia do nascimento de S. João, não o discípulo predilecto de Jesus e evangelista,
mas sim João Baptista, o último profeta, o maior de entre os nascidos de mulher, segundo Jesus Cristo (Mt. 11-11).
Curiosamente, também em 24 de Junho, não no início da era cristã, mas sim já no seu ano de 1128, nascia uma nova nação, Portugal.
A festa em honra do santo ocorre, na verdade, um pouco por todo o país, com particular destaque aqui na região Norte, na nossa vizinha cidade de Braga, na cidade do Porto e em Vila do Conde, municípios em que o dia é feriado municipal.
Em Guimarães, não sendo embora esquecido S. João, o dia assinala a vitória de D. Afonso Henriques na batalha de S. Mamede travada aqui, na nossa terra, no ano de 1128.
Comemorou-se, pois, aquele dia, em que um punhado de corajosos, de entre os quais se destacavam a nobreza comandada pelos irmãos Mendes da Maia que, farta de se ver afastada da definição dos destinos do Condado, resolveu pôr termo à influência que sobre a rainha-mãe, D. Teresa, exerciam os nobres galegos, nomeadamente os irmãos Peres de Trava.
A esse gesto de revolta associou-se também o importante apoio, no campo de batalha e no campo da diplomacia, do então arcebispo de Braga D. Paio Mendes, que estava farto de assistir às sucessivas investidas em Roma, junto do Papa, de D. Gelmirez, arcebispo de Compostela, com vista à tutela do arcebispado de Braga, por entender que Santiago deveria ser o polo da Cristandade no Ocidente criado pelo apóstolo Tiago e alternativo a Roma, criado pelo fundador da Igreja, Simão Pedro.
A encorajar todos estes desejos de revolta, dava-se o caso de o príncipe herdeiro, D. Afonso Henriques, ser um jovem destemido, com sangue guerreiro, que lhe vinha já de seu avô Afonso VI, rei de Leão e Castela e, naturalmente, também de seu pai, Henrique de Borgonha, nobre cavaleiro francês que, tal como muitos outros à época, como Raimundo, seu primo, rumavam a estas paragens, oferecendo os seus serviços na luta pela reconquista da Península aos Mouros.
Esta data, 24 de Junho de 1128 é, de resto, reconhecida desde o século XII, como “o primeiro episódio da história Portuguesa: o começo do reino de Portugal” pelo Cónego Regrante de Santa Cruz de Coimbra, nos seus “Anais de D. Afonso, Rei dos Portugueses” e, já mais tarde, no século XIX, com Alexandre Herculano, com o reconhecimento da importância que teve na génese de Portugal.
De entre os vários eventos constantes do programa do dia, tive oportunidade de participar na celebração da eucaristia da tarde, na nossa igreja da Oliveira, que contou, neste ano, com uma primorosa organização bem evidente em diferentes aspectos, logo sentidos à entrada do majestoso templo.
Na verdade, desde a ornamentação da igreja aos paramentos e alfaias utilizados; desde o serviço de protocolo, à qualidade da música sacra ouvida, apoiada num grupo coral e instrumental magistralmente dirigido, tudo contribuiu, estou certo, para que muitos dos participantes se tivessem sentido bem mais próximos do Divino, tendo sido assim conferida a importância e a dignidade a esta celebração que tal data e acontecimento exigem.
Estão, pois, de parabéns, todos os responsáveis envolvidos neste brilhantismo que importa realçar e promover de modo a tornar estas celebrações religiosas e culturais mais participadas por todos.
Merece também uma saudação especial a escolha do local para a realização da Sessão Solene do 24 de Junho, neste ano o Campo de S. Mamede, uma decisão algo ousada, mas que teve bom efeito, seja pela amplitude do espaço a permitir uma maior participação popular, seja pelo cenário de fundo com o nosso monumento maior, o Castelo de Guimarães.
Guimarães, 27 de Junho de 2023
António Monteiro de Castro