As ideias políticas e sociais de Jesus Cristo
Acabamos de viver a quadra natalícia, a festa da família por excelência na qual é evocada, sobretudo, a figura de Jesus Cristo da Família de Nazaré. É o tempo de encontro de familiares, por vezes dispersos pelos quatro cantos do mundo, que chegam a percorrer milhares de quilómetros para poder viver, com
intensidade, estes dias.
É também um especial período para o aparecimento de novas publicações, como é o caso do livro do já saudoso professor Diogo Freitas do Amaral cujo título e conteúdo me serviu para a elaboração deste artigo no qual o prestigiado autor formula uma reconstituição do pensamento político e social de Jesus Cristo com base nos quatro evangelhos do Novo Testamento.
Na verdade, para si, no respeitante à origem do Poder, todo ele vem de Deus, conforme afirmou São Paulo, na sua carta aos romanos: “não existe autoridade que não venha de Deus “(Rm 13,1);
Quanto à separação entre Igreja e Estado, foi bem claro, quando posto à prova pelos fariseus e pelos partidários de Herodes, com a pergunta “Mestre é lícito ou não pagar o imposto a César”, ao que respondeu “Porque me tentais hipócritas? Mostrai-me a moeda do imposto”, tendo eles, então, apresentado um Denário, dizendo que a imagem e a inscrição era de César, Jesus Lhes afirmou: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Para Jesus Cristo, a Autoridade, o Poder e o Estado não existem por si, nem para si. Existem para servir o Homem e as comunidades em que se integra, pensamento bem patente na sua afirmação: “O sábado foi feito para o servir o Homem e não o Homem para servir o sábado”, proferida por Jesus quando, a um sábado, indo com os discípulos através das searas, estes se puseram a colher espigas pelo caminho e os fariseus questionaram, porque faziam ao sábado o que não era permitido (Mc 2,23-27). A autoridade e o poder deverão ser, pois, o meio para alcançar um fim, que é a construção do bem comum.
A paz, como bem-estar das famílias, ficou bem manifestada nos ensinamentos de Jesus: ”Se fores até ao altar para levar a tua oferta, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a oferta diante do altar e vai primeiro fazer as pazes com o teu irmão; depois, volta para apresentar a oferta”. (Mt 5,23).
A prática da não violência no seio de cada nação, ficou bem presente na atitude de repreensão de Jesus a um dos seus discípulos, quando este puxou pela espada para O defender, aquando da sua prisão no Jardim das Oliveiras: ”Guarda a espada na bainha, pois todos os que usam a espada, pela espada morrerão”.
Os primeiros fundamentos dos Direitos Humanos emanam da pregação de Jesus. Na verdade, embora a proclamação dos direitos humanos seja muito posterior à pregação de Jesus Cristo, ela constitui o grande fundamento filosófico da doutrina dos direitos humanos.
Quanto às ideias sociais de Jesus Cristo estão, segundo o autor, bem presentes no célebre “Sermão da Montanha”, também conhecido como “Sermão das Bem-aventuranças”, onde, contrariamente ao pensamento e filosofia anteriores a Jesus Cristo, são proclamados bem aventurados os pobres, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os promotores da paz e os perseguidos por agirem como justos.
Na verdade, na Antiguidade, dos pobres nunca se dissera bem e todo o pensamento grego e romano via nos pobres o perigo da revolução, assim como faziam o elogio da guerra, dos generais e dos heróis militares.
Antes de Jesus, os governantes, ricos e poderosos, angariavam apoios com base em promessas de benefícios pessoais. Jesus conquistou multidões sem promessas materiais, antes pelo contrário, avisando-os de que por sua causa seriam mesmo objecto de insultos, perseguições, calúnias e até mesmo da própria morte.
Oxalá que o novo ano nos traga mais luz para que a humanidade melhor possa discernir os caminhos da salvação.
Bom Novo Ano para todos.
Guimarães, 30 de Dezembro de 2019
António Monteiro de Castro