António Miguel Cardoso em entrevista: "Já conseguimos proteger aquilo que nos interessa mais"
Numa entrevista ao Grupo Santiago, que será transmitida na íntegra esta noite, o presidente do Vitória garante compreender a insatisfação de alguns adeptos. Mas, ao mesmo tempo, revela que não surgiram propostas mais vantajosas.
Com o Jota Silva o Vitória faz um encaixe de 7 milhões fixos. Destes 7 milhões, quanto é que é descontado, nomeadamente para o Casa Pia?: "O Casa Pia receberá à volta de 25% da parte net do negócio".
Isso significa que conseguiu convencer o Casa Pia a vender mais uma parte do passe, como admitiu que estava a tentar na última Assembleia Geral?: "Sim. Inicialmente eram 50% e nós tínhamos a opção de comprar mais 20%. Acabámos por fazer à volta de 25% na altura de fechar o negócio. Não foi fácil convencer o Casa Pia e é óbvio que é uma operação de sucesso. Eles foram sensíveis porque também é uma excelente operação para o Casa Pia.
Mas na chamada espuma dos dias, como se costuma dizer, o Vitória fica com quanto nesta transferência?: "Há agentes envolvidos e, por isso, temos que fazer as contas. Não lhe vou dizer o valor exato porque ainda há o valor dos bónus, ainda há a mais-valia. Havia o agente do jogador e houve a intermediação de um agente que, entretanto, entrou no negócio. Infelizmente, isso faz parte do futebol".
Não houve nenhuma proposta mais superlativa do ponto de vista financeiro para o Jota? Teve de ser mesmo esta do Nottingham?: "Houve, efetivamente, mais clubes interessados. Tivemos uma outra proposta superior, mas temos que ser conscientes em relação àquilo que é a vontade do jogador. Se o jogador tem o sonho de ir para a Premier League, se o jogador não quer ir para mercados emergentes, como era o caso dessas propostas, ou para mercados periféricos, nós temos que ser sensíveis a isso".
Ricardo Mangas foi transferido para o Spartak por 2 milhões, com mais 500 mil euros em variáveis e ainda com o Vitória a manter uma percentagem do passe. Não houve uma proposta melhor do que esta?: "Não. Existiram propostas inferiores".
Nomeadamente da Turquia?: "Também. Em todas elas tentamos negociar, mas a proposta que chegou com o valor superior foi esta. Se me perguntarem se eu gostava de ter vendido o Ricardo Mangas por 4 ou 5 milhões, acho que isso é óbvio, mas esta foi efetivamente a melhor proposta. O jogador queria ir e temos que estar abertos e disponíveis para perceber quando é que é o melhor momento de fazer as coisas. Agora, se em termos desportivos estou muito preocupado, vou dizer que não. Na ótica da gestão e na ótica da valorização do ativo, neste momento o Ricardo Mangas nem sequer estava a jogar na sua posição natural".
Mas a verdade é que saiu muito valorizado neste início de temporada, com 4 golos na Liga Conferência.: "Grande atleta, grande desportista, um grande homem, mas não acredito que o Ricardo Mangas, se estivesse cá a época toda, sairia daqui a um ano por um valor superior. Com a saída do Mangas, valorizamos automaticamente os laterais da equipa. O Maga, o Alberto, o Bruno Gaspar, o João Mendes e o Marco Cruz, que, direta ou indiretamente, podem beneficiar com essa abertura. O Mangas jogou a extremo-esquerdo. Abrindo a posição, valorizamos o Gustavo, o Kaio, o Telmo Arcanjo, o Nuno Santos, o João Mendes. Provavelmente o Ricardo Mangas, daqui a um ano, valeria menos. É essa a minha convicção. Portanto, acho que é uma excelente decisão em termos desportivos e financeiros. Se achava que ele devia estar mais valorizado neste momento para ser feita uma venda superior, sem dúvida, mas foi o que apareceu".
Olhando para os números puros e duros, se o Vitória despendeu cerca de 900 mil euros há um ano e o Boavista ficou ainda com 20% das mais-valias, parece ser um negócio de poucochinho.: "Então, o jogador é comprado por 900 e passado um ano é vendido por 2 milhões, é assim tão mau? Percebo a frustração dos sócios e todos queríamos ter vendido o Mangas por mais, mas neste momento ele vale mais do que valeria daqui a um ano. Eu não faço a gestão de uma equipa de futebol. Eu faço a gestão de um clube. E para que o clube viva de uma forma tranquila, temos que ser responsáveis. Há fornecedores, salários... e isto ajuda-nos. Com estes pequenos passos, conseguimos fazer com que o clube sobreviva e com que alguns ativos da equipa fossem protegidos".
Estas operações garantem a estabilidade económica e financeira até Dezembro e permitem também abater a dívida, nomeadamente do empréstimo que o Vitória teve de contrair?: "Nós temos a despesa corrente do Vitória e tudo o que está para trás, toda a falta de receita que não tivemos e só podemos resolver com a venda de ativos. Agora, se pensamos nesse valor, ajuda a pagar o quê? Ajuda a pagar a relva, os transportes, os hotéis, os jogadores. Há um sem número de chamadas constantemente a pedir dinheiro. Temos a responsabilidade de tentar pagar as contas. Não é vitimização, mas não recebemos os direitos televisivos o mandato inteiro, só os vamos receber em 2025. Estamos a reinventar o clube na parte desportiva, vendemos jogadores e continuamos a dar resposta. Temos um grupo de trabalho que o Vitória já não tinha há anos. Há sucesso desportivo, mas as dívidas não desaparecem e temos que continuar a enganar ou a esconder essa necessidade financeira com estes resultados. Não há outra hipótese".
Portanto, parece mais ou menos inevitável que em Dezembro ou Janeiro tenha de vender mais ativos.: "É evidente. Se um clube tem uma despesa à volta de 25, 26, 27 milhões por ano, com o passivo que tem para trás, com a necessidade que tem de, todos os meses, cumprir com o que está para trás e com o que é corrente, que não tem direitos televisivos, tem de vender jogadores".
Marcações: Vitória Sport Clube, António Miguel Cardoso