Moreno Teixeira: "Gosto de passar energia positiva para dentro do relvado mas isso foi-me condicionado"

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Moreno Teixeira está preparado para manter o mesmo registo da temporada passada. Apesar de estar já a frequentar o curso de IV Nível, o treinador do Vitória terá de ser inscrito como treinador adjunto face à regulamentação recentemente aprovada pelos clubes numa Assembleia Geral da Liga. 

O que mudou o Moreno como treinador depois deste primeiro ano ao mais alto nível?: "Hoje considero esta melhor preparado do que há um ano, mas isso acontece com todos os treinadores. Enquanto pessoa, não mudei nada. Sou exactamente a mesma pessoa, tenho os mesmos amigos, frequento os mesmos locais. Como treinador, sinto que estou mais preparado do que há um ano. Mas, se já pensar que sou treinador da 1ª Liga e que já provei o que tinha a provar estou enganado. Para mim, é muito claro, tenho de estar sempre a reinventar-me, a melhorar, a ajudar as pessoas que estão ao meu lado. É muito isto a função de quem lidera. Não é que há um ano não me sentisse preparado. O que melhor me podia ter acontecido foi depois de ter acabado a carreira como jogador ter tido a oportunidade de trabalhar três anos como adjunto, com três lideranças diferentes. Mas, mesmo tendo essas experiências, mesmo com um ano e meio na equipa B nunca é a mesma coisas estar por fora e depois liderar o processo. Felizmente as coisas correram bem".

Com a condicionante de não poder assumir no papel o cargo de treinador principal. Como lidou com essa limitação extra?: "Numa primeira fase da época, por responsabilidade minha, foi complicado. Esquecia-me que não tinha o IV Nível e estava de pé, as multas iam chegando e tive de me ajustar e mudar o comportamento. Aí é que foi mais difícil porque deixei de ser um treinador a 100%, um treinador completo. Sou uma pessoa de estar em pé, de falar com os atletas. Gosto de estar vivo, de passar energia positiva lá para dentro. Isso foi-me condicionado. Também nisso as coisas evoluíram de forma razoável. Estou a tirar o IV Nível, as coisas vão resolver-se. Provavelmente estarei no mesmo registo na nova época, é algo a que tenho de me ajustar".

Entendo o facto de ter de estar no mesmo registo apesar de estar a frequentar o curso de IV Nível?: "Não entendo. As coisas mudaram num passado recente. Ainda há duas épocas tivemos casos de colegas meus, como o César Peixoto e o Rúben Amorim, que estavam no mesmo cenário em que estou hoje, a frequentar o IV Nível, e tinham autorização para serem os treinadores principais. Parece-me que podia haver maior sensibilidade, não para mim, mas para todos os outros que estão na mesma situação e para os que virão atrás de mim. Isto vai acontecer recorrentemente. Devia, por isso, haver maior compreensão e não existiu. Isto é um problema para muita gente, vários colegas que fizeram trabalhos válidos na Liga 2 não têm a oportunidade de treinar na 1ª Liga porque não estão habilitados. Mas, mostraram competência e capacidade para assumir um projecto destes".

Acredita que a norma recentemente aprovada ainda possa ser revertida a tempo da próxima época?: "Não, não acredito. É uma questão que falamos no final da primeira semana do curso e cheguei à conclusão que não deve acontecer, o registo terá de ser o mesmo".

Como classifica essa posição de força que tem sido defendida, entre outros, pela Associação Nacional de Treinadores de Futebol?: "Não quero entrar por aí. Respeito muito o senhor José Pereira, uma pessoa que é de Guimarães. Não quero polémicas. Não está em causa apenas a ANTF, mas também a Federação, o IPDJ. Devia haver maior sensibilidade e compreensão. Não quero que olhem para mim como o revoltado por estar a dizer isto. Também não quero que pensem que quero ser um privilegiado por ser o treinador do Vitória, não é nada disso. Acho que nós, treinadores, também temos alguma responsabilidade. Se fôssemos uma classe mais unida as coisas podiam ter sido de outra forma. Se calhar alguns treinadores até ficam satisfeitos com esta situação que se criou".

Neste contexto ganha ainda mais importância a sua equipa técnica? Que peso teve essa mesma equipa técnica nos êxitos recentes?: "Teve muito peso e continuará a ter muita importância para o futuro. O melhor elogio que lhes posso dar, e já lhes disse disso, é que no momento em que algum deles decidir sair para abraçar outro projecto, com melhores condições financeiras, eu irei ficar muito pior treinador. É muito o Moreno que aparece, que dá a cara, também sou o mais criticado nos maus momentos, porque é assim que deve ser, mas nas vitórias tem de ser olhar para todos. Sei bem quem me suportou nos momentos difíceis, quem me aguentou. Não é vergonha nenhuma assumir que em momentos pensei se seria o homem certo para isto. Partilhava isto com a equipa técnica e eles nunca me deixaram cair".

Nesses momentos de dúvida também sentiu o apoio da estrutura, do comando da SAD?: "A 100%, mesmo a 100%. É por isso que não quero que os elogios recaiam apenas sobre mim, porque isso é injusto. Senti esse apoio e senti que eram mesmo verdadeiro, que não me deixavam cair, acreditavam mesmo que aquele era o caminho correcto. Questionei-me sobre se era o homem certo e nesses momentos seguraram-me, motivaram-me. Esses homens estavam na minha sala de trabalho, são os que trabalham comigo, a minha equipa técnica, mas também a Administração".

Devido às obrigações regulamentares o João Aroso foi muitas vezes o porta voz da equipa técnica. Vai continuar a contar ele?: "Gostava muito. No primeira dia disse ao João Aroso que ele vinha para cá não só pelo IV Nível de treinador mas também pela experiência que podia aportar. Ao longo do ano isso confirmou-se. Mas, não consigo diferenciar nada o João Aroso de todos os outros homens da minha equipa técnica. Nem o João Aroso é o número dois e o Nuno Santos, o Douglas ou o Ricardo são o número três. Para mim é muito claro que todos tiveram muito mérito. O Vitória não depende de ninguém, logo a começar pelo treinador, para continuar a ser um grande clube e a ter bons resultados. Toda a gente que trabalha no Vitória tem de estar a 100%, motivada, imbuída no espírito do clube. Se não for assim, então a porta de entrada é a mesma da saída. Toda a gente diz que os atletas têm de estar focados no clube a 100%, mas não são apenas os atletas, é a equipa técnica, o staff, a Administração. Têm de estar todos focados no processo e disponíveis, quem não estiver não tem espaço para continuar cá. O que eu quero é continuar com toda a minha equipa técnica porque foram realmente um grande suporte para mim".


Marcações: Vitória Sport Clube, Moreno Teixeira

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