António Miguel Cardoso sobre A.G. da SAD: "Do pré-acordo até ao acordo final, não vemos nada que possa ofender aquilo que é o domínio maioritário do Vitória"
Numa entrevista exclusiva ao DESPORTIVO de Guimarães, o presidente António Miguel Cardoso dá explicações sobre o assunto e fala sobre outras matérias, desde logo o apuramento para a Liga Conferência.
Na próxima sexta-feira o Vitória tem uma Assembleia Geral Extraordinária onde serão propostas algumas alterações estatutárias no acordo com a SAD. Os artigos 12º e 13º têm gerado alguma controvérsia nas redes sociais, com alguns sócios a entenderem que o Vitória, enquanto accionista maioritário, vai perder poderes para o accionista maioritário e novo parceiro, a VSports. Estas preocupações e interrogações fazem sentido?: "É importante esclarecer essas dúvidas, porque a Assembleia Geral - como todas no Vitória - é importante e os sócios devem perceber o tema e daí que o levemos à sua consideração. Os sócios decidiram que queriam caminhar com um parceiro credível, porque para evitar os consecutivos anos zero é importante termos ao nosso lado um braço, um músculo financeiro que nos pode ajudar. Como foi falado na Assembleia Geral, há pontos em que é importante termos esse parceiro ao nosso lado para nos ajudar a validar. Têm maioritariamente a ver com questões financeiras, de orçamento, para que o futuro do Vitória seja saudável, de disciplina e de rigor nessa área, para que o Vitória não possa correr o risco de voltar a ter os passivos e os orçamentos que nós encontramos. Nas áreas em que entendemos que o Vitória deve ter total domínio, continuará a ter, nomeadamente nas questões desportivas."
Estes pressupostos já estavam articulados lá atrás, aquando da Assembleia Geral que validou esta parceria, ou foram negociados mais recentemente?: "Na altura, o que falamos com a VSports é que, tendo o Vitória a maioria, há áreas em que queremos o controlo. Isso logo quando foi feito o pré-acordo. Foi dito que há áreas intocáveis, nomeadamente a área desportiva que tem a ver com os treinadores, os jogadores, o plano desportivo do Vitória. Em áreas financeiras é importante termos alguém que é credível e que nos vai ajudar a ter mais rigor. Isso também sempre foi perspectivado da nossa parte. Do pré-acordo até ao acordo final, não vemos nada que possa ofender aquilo que é o domínio maioritário do Vitória."
Admite que pode estar em causa uma inversão total do que acontece nesta altura, em que o Vitória é accionista maioritário e tem plenos poderes em todos os sentidos, mas agora vai partilhar esses poderes com um acionista minoritário?: "Quando falamos no artigo 13, através do Código das Sociedades Comerciais, já estaríamos protegidos nessas matérias, porque são precisos mais de dois terços para validar qualquer alteração como aumento de capital, como opas, como redução do capital... As áreas que se alteram e que fazem sentido são, por exemplo, a aprovação de contas. No Conselho de Administração temos três administradores que são indicados pelo Vitória e dois pelos restantes accionistas. Para levar a aprovação de contas à Assembleia Geral, já temos de ter um relatório de gestão assinado por todos os administradores. São áreas que, de uma forma ou doutra, já estão resolvidas quando chegam à Assembleia Geral. Por isso, é algo que nos deixa perfeitamente confortáveis. Outra área que se tem falado é a questão dos aumentos de capital. É preciso que tanto o parceiro, quanto o Vitória estejam de acordo. Isso até nos protege mais a nós, porque neste caso quem tem capacidade é o nosso parceiro e nada poderá ser feito sem o nosso consentimento. O mesmo se passa com as prestações suplementares, com as remunerações dos administradores... Faz todo o sentido que todos estejamos de acordo nessas matérias. Decidir anualmente quem são os administradores... isso tem a ver com o desempenho. Se tivermos um administrador que está a fazer um trabalho negativo, chega ao final do ano e pode ser substituído. Não há nada objectivamente que seja preocupante, muito pelo contrário."
Na Assembleia Geral de 3 de Março, na resposta a uma interpelação feita pelo Conselho Vitoriano, disse que a venda dos 46% à VSports não implicaria qualquer alteração estatutária...: "É um não assunto. Existia um pré-acordo e muitas alterações até são feitas em benefício do Vitória. Do pré-acordo até à negociação final, não havendo nada que fuja aos pressupostos da parceria tal e qual foi explicada aos sócios, achamos que é normal. Na altura poderia estar convencido que não iria haver alterações, mas também consigo perceber que é preciso modernizar os estatutos em alguns pontos. Os pressupostos são os mesmos, eu na altura já falei no rigor financeiro, na criação de orçamentos... E todos estes temas estão a ir novamente aos sócios, não estamos a esconder absolutamente nada a ninguém."
Nunca houve gato escondido com rabo de fora?: "Quem me conhece e vai percebendo a forma como gerimos, vê que existe transparência. Explicamos a parceria, tivemos negociações normais, modernizamos os estatutos, alteramos o que entendemos que deve ser alterado, não mudando o fundamento que está por detrás, e levamos tudo isso aos sócios. As coisas estão a ser feitas às claras e são entendíveis."
Face a este cenário, vai ser necessário haver um casamento perfeito? Para validar muitas decisões, as duas partes vão ter de estar sempre de acordo...: "Há áreas em que temos absoluto domínio e a VSports não vai interferir minimamente. Há outras que têm a ver com o controle orçamental e é importante que seja em conjunto. Claro que problemas podem acontecer em todo o lado, mas não devemos estar a focar-nos nisso. O Vitória tem a maioria e o controle da SAD e se existir algum problema, não existe outra opção senão o parceiro sair, ser recompensado da melhor forma e seguir o seu caminho. Aqui não há Belenenses nem nada do género, porque temos a maioria e o controlo. Vamos acreditar que as coisas vão correr bem - e vão - e já estamos a caminhar com este parceiro, que nos dá mais tranquilidade, nomeadamente naquilo que diz respeito à renovação dos jogadores, a venda dos activos... Conseguimos respirar outra saúde e acreditamos que será um casamento perfeito."
Rejeita liminarmente a hipótese de acontecer uma situação parecida com a do Belenenses?: "Temos a maioria do capital, temos o controle e domínio da SAD. Se correr mal, o parceiro sai. Mas não acredito que vamos por aí. O parceiro vai ajudar-nos no rigor e no controle financeiro. Já estamos a trabalhar noutras áreas, como o rendimento do jogador e alta performance... Preocupante foi a situação que encontramos há um ano e meio. Agora, temos a garantia que com este parceiro as próximas administrações do Vitória vão ter alguém ao lado e não encontrar o descontrolo que nós encontramos."
E se a proposta de alteração for rejeitada pelos sócios na sexta-feira?: "Lanço um repto aos associados para que participem na Assembleia Geral porque são matérias importantes e sensíveis. Quanto ao resto, o que consigo depreender é que existe um acordo e se não passar esta proposta de alterações o parceiro vai entender que não existe interesse na parceria. Ficamos sem o parceiro, não procuraremos outras parcerias e depois temos, de alguma forma, de arranjar outras soluções."
Seria um divórcio prematuro?: "Os sócios, mais uma vez, é que decidem. Queremos acreditar que este é o melhor caminho para ter um Vitória positivo e com mais vitórias. Se não quiserem, a parceria acabará com toda a correção."
Marcações: Vitória Sport Clube, António Miguel Cardoso