Eleições Vitória: Miguel Pinto Lisboa afirma que "a campanha contra mim começou em 2019"
Numa entrevista ao DESPORTIVO de Guimarães, o dirigente, que concorre a um segundo mandato nas eleições de 5 de Março, lamenta igualmente não ter tido a paz desejável para gerir o clube. Miguel Pinto Lisboa contestou as críticas dos seus adversários na corrida à presidência do Vitória, que o criticam por andar aos ziguezagues na política desportiva.
A polémica em torno da subscrição das assinaturas fragilizou a sua candidatura ou fragilizou sobretudo a imagem do Vitória?: "Lamentamos muito essa polémica, que fragilizou essencialmente o bom nome do Vitória. O processo de recolha de assinaturas é rudimentar, muito sujeito ao erro, mas tem de ser visto de forma mais tranquila do que aparentemente foi analisado. É uma formalidade que visa termos 300 assinaturas num universo eleitoral bem superior a isso e não justifica que alguém cometa uma ilegalidade. Lamentamos que isto tenha atingido as repercussões públicas que atingiu e que só prejudicam o bom nome do Vitória, estamos certos que ninguém da minha lista teve algo a ver com isto, porque cumprimos escrupulosamente a lei e somos os primeiros a criticar qualquer infracção a essa mesma lei. Fomos os primeiros a anunciar que iríamos avançar com uma participação crime junto do Ministério Público, porque estava a ser causado um dano, mas entendemos que estes processos não devem ser tratados na praça pública porque isso causa dano à imagem e ao bom nome do Vitória, que é o que devemos preservar. Quem quer ser presidente do Vitória tem de ter esse sentido de estado, com o nome do clube acima de tudo. Sendo grave, não me parece que fosse um facto que devesse atingir as proporções que atingiu, até porque não há qualquer motivação para ter mais assinaturas. Nas últimas eleições, quem teve mais assinaturas não venceu. Devemos olhar para isto de forma introspectiva e mudar o processo, fazendo com que ele seja mais adequado ao que é a realidade de hoje e ao regulamento de protecção de dados".
Num género de antecipação do seu programa preconiza um mandato de estabilidade e continuidade, porque entende que o seu projecto não se esgota em pouco menos de três anos. O que é que isto significa do ponto de vista prático?: "Entendemos que nenhum projecto se conclui em dois anos e meio. O projecto com que nos apresentámos em 2019 tinha uma vertente desportiva e outra institucional. Tivemos dois anos muito difíceis, com uma pandemia pelo meio, sabemos o que fizemos, o que estamos a trabalhar e o que temos que corrigir. Apesar da pandemia, fizemos muito do que nos tínhamos proposto fazer. Na vertente institucional conseguimos adquirir a maioria do capital social da SAD, ao contrário do que muitos diziam que não seria possível, e na vertente desportiva encetamos uma aposta na formação, com a profissionalização de quadros e organização de diferentes áreas de departamento de alto rendimento e departamento médico de forma transversal nos diferentes escalões. Fizemos uma aposta significativa naquilo que são as infraestruturas do Complexo Desportivo, que ainda está em curso, fizemos também a melhoria dos serviços de relação com as escolas, e tudo isto dará os seus frutos no médio prazo. Alguns resultados já são mensuráveis, com 27 jogadores seleccionados para os diferentes escalões, temos 15 jogadores que atingiram a equipa A, mas o processo ainda está numa fase inicial. O Vitória está hoje mais forte e preparado para enfrentar os desafios e queremos continuar a desenvolver este projecto".
É preferível que continue a ser corporizado pelas mesmas pessoas?: "Pelas pessoas que o pensaram e que têm capacidades técnicas multidisciplinares que lhes permitem levar a bom porto o objectivo apresentado".
Os seus opositores nestas eleições dizem que do ponto de vista financeiro o Vitória está pior do que há três anos. Concorda, acha que é uma crítica justa?: "Parece em alguns discursos que o Vitória estaria a tocar o céu em 2019 e que a partir daí desceu ao inferno, O Vitória sempre teve muitas fragilidades, tanto do ponto de vista institucional como financeiro. Enfrentamos uma crise como não houve exemplo no passado, ultrapassamos neste mandato dois dos piores anos da economia mundial e do futebol, houve quebras acentuadas nas receitas - a UEFA diz que houve perdas de cerca de 7 mil milhões - e a verdade é que apesar dessas dificuldades, o Vitória conseguiu encontrar as soluções para fazer face aos seus problemas, sem andar de mão estendida ou a correr para os braços de potenciais compradores, ao contrário do que acontecia no passado. Tendo havido alguma dificuldade para superar estes anos difíceis com retração do mercado e das receitas, houve sempre da parte desta direcção a capacidade de fazer face aos problemas e ultrapassá-los. Traçamos um plano económico e estratégico que visa a sustentabilidade financeira do Vitória, o equilíbrio económico e alcançar resultados desportivos no médio/longo prazo. Traçamos metas para esse plano que muitos diziam que ia ser impossível de concretizar logo em Janeiro, mas a verdade é que as atingimos. Vamos conseguir realizar o que está implementado nesse plano e levar o Vitória para o nível a que tem direito".
Que avaliação faz às restantes candidaturas?: "Não me compete avaliar as outras candidaturas, compete-me avaliar a nossa candidatura e as propostas que pretendemos apresentar aos associados. Mas acho também importante desmontar algumas ideias que foram sendo construídas ao longo do tempo, porque infelizmente a campanha não está a começar agora. A campanha começou em 2019. Desde essa altura que se tentou criar uma imagem do Miguel Pinto Lisboa, não porque houvesse algo contra a pessoa, mas porque era preciso atingir o presidente Miguel Pinto Lisboa".
E nesse sentido lamenta que o Vitória não tenha a paz que seria desejável?: "Lamento. Mas deixe-me dizer-lhe quando é que o presidente Miguel Pinto Lisboa começa a ser incómodo e se começa a dizer que ia ser o presidente mais curto da história do Vitória. É quando se percebe que a operação do Tapsoba se vai fazer como o Vitória quer e não como algumas pessoas achavam que se ia fazer, porque tinham a ideia de que a coisa estava controlada. Esse foi o ponto de viragem, que com o tempo se tornou mais agressivo e pior ainda quando se percebeu que, ao contrário do que todos diziam, o Vitória ia mesmo voltar a ser maioritário na SAD. Infelizmente, o Vitória tem sido, ao longo deste século, um clube com fragilidades, porque sempre esteve à mercê de interesses externos e de influências pessoais. Isso acabou! E doeu a muita gente. Por isso é que há gente em campanha desde 2019. Acha que o Rui Santos andou dois meses a atacar o presidente do Vitória porque se lembrou e era um tema muito importante para ele? Ou foi porque essa narrativa não saiu de cá? Hoje alguém se lembra do que foi dito na altura e do que se provou ser verdade ou mentira? Claro que não, porque o objectivo não era a verdade, era intoxicar o meu nome em grande escala. Acha que os comunicados que começaram a cair nas redações na fase decisiva da época passada foram por acaso? Acha que foi por acaso que começaram a cair e-mails anónimos nas redações dos jornais? Vamos fazer de conta que quem fez a queixa anónima sobre o negócio Tapsoba não sabe que não há nada de errado no negócio do Tapsoba?"
Como é que se elimina esse ruído?: "Expondo as coisas aos sócios, como estamos a fazer e vamos fazer. Como candidato, eu posso e devo abordar temas que como presidente me abstive de fazer, porque entendo que o cargo se sobrepõe à pessoa e que o exercício da função me obriga a colocar os interesses do Vitória e do bom nome do Vitória à frente até da minha pessoa. Portanto, relativamente a muitas situações eu estive dois anos e meio de boca fechada, mas de olhos e ouvidos abertos. Não é uma estratégia de vitimização, eu não sou vítima nenhuma, estive calado este tempo todo por opção, mas connosco não se façam de inocentes".
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