Húmus - Festival Literário de Guimarães lançou sementes que vão chegar aos Açores
A magia da obra de Raul Brandão dominou a nona edição do Húmus - Festival Literário de Guimarães lançando sementes que vão chegar aos Açores e dar frutos no próximo ano quando a cidade de Ponta Delgada for Capital Portuguesa da Cultura.
A comissária daquele evento, Kátia Guerreiro, participou na iniciativa anual que celebra o livro e a leitura, numa simbiose com o universo brandoniano, e aproveitou a presença em Guimarães para conhecer aspectos do envolvimento com as escolas e com comunidade gerados com a Capital Europeia da Cultura, em 2012.
Em jeito de balanço da edição deste ano que decorreu ao longo de seis dias, sob o tema "As árvores para dar flor há-de-lhes doer" que contou com a presença de nomes sonantes do panorama artístico nas "Conversas Musicadas" como Fernando Ribeiro, autor e vocalista da banda Moonspell, a fadista e médica Kátia Guerreiro, Pedro Abrunhosa e Luísa Sobral, num painel enriquecido também com o contributo de escritores como Mafalda Santos, João Tordo e Tânia Ganho e com exibição do filme do cineasta Rodrigo Areias "A Pedra Sonha dar Flor", no ambiente intimista do Teatro Jordão.
"Esta nona edição do Festival contrariou o frio dos dias de inverno, com a magia dos livros, da literatura, numa associação com a música, com conversas em que ficamos a perceber a construção das letras das melodias, o poder da palavra e da mensagem, e a diferença com a expressão escrita", enumerou Adelina Pinto, vice-presidente da Câmara Municipal de Guimarães, que assistiu a todas as iniciativas do evento.
"Continuamos a honrar o legado de Raul Brandão e o espírito da sua obra literária. Assistimos à dimensão mais sombria da sua obra, descobrindo luz nas suas palavras que continuam a inspirar e a servir de referência para tantos autores", acrescentou, observando: "há muita magia na obra de Raul Brandão que alimentou este e alimentará certamente posteriores edições do Húmus".
Nesta nona edição, o festival ensaiou uma programação numa versão mais contemporânea. "As 'Conversas Musicadas' com a Kátia Guerreiro, com o Pedro Abrunhosa e a Luísa Sobral permitiram descobrir a influência de Raul Brandão, com lições entusiastas e com novas abordagens sobre o pensamento do escritor, numa apropriação surpreendente da sua obra", comentou, mostrando-se satisfeita com a dinâmica estabelecida com o público.
"Quem esteve aqui, nestas noites frias de inverno, saíram com uma luz, porque acredito que foram para casa melhores", continuou Adelina Pinto, referindo que a vasta obra do escritor explora diferentes personagens e territórios do país em que viveu.
Num dos mais belos livros de viagem da literatura portuguesa - As Ilhas Desconhecidas - Raul Brandão exibe os arquipélagos dos Açores e da Madeira, na sequência de uma visita efectuada em 1924. Essas impressões serviram de ponte para o encontro estabelecido entre Kátia Guerreiro e a vice-presidente do Município. Adelina Pinto revelou que há uma vontade de que "Guimarães esteja muito presente" no programa de Ponta Delgada, Capital Portuguesa da Cultura, em 2025. "Querem trabalhar experiências artísticas e de mediação cultural e acho que poderá ser uma partilha interessante, porque o Húmus - Festival Literário é uma semente que se lança à terra e que a partir de Guimarães pode iluminar e florescer em outras paragens", manifestou, destacando a importância de mobilizar os alunos e as escolas com iniciativas que integraram o programa deste ano.
Logo na abertura, 7 de Março, dia do 33º aniversário da Biblioteca Municipal Raul Brandão, os alunos Ana Silva e João Peixoto, do Curso de Comunicação, da EP CISAVE, dinamizaram o podcast “Toda a gente espera andorinhas“, com a presença de Adelina Pinto, Ivone Gonçalves, Maria José Nobre e João Bernardo Fernandes.
No segundo e terceiro dia, o Torneio de Retórica, desta vez sobre o tema «Sim ou Não à produção de energia nuclear para fins pacíficos?», com uma participação especial dos autores Rui Correia e António F. Nabais permitiu conhecer de perto as ideias desenvolvidas e argumentadas por grupos de alunos vimaranenses.
Desde o primeiro dia da edição deste ano e até à próxima edição do Húmus, a exposição "A Pedra de Brandão - o cinema é um ato de fé" resgata a memória do patrono da biblioteca, através do filme "A Pedra Sonha dar Flor", realizado por Rodrigo Areias, a partir da obra de Raul Brandão, apresentado adereços, vestuário, fotografias de cena e outros objectodos utilizados na sua produção.
Marcações: Húmus - Festival Literário de Guimarães