Exposição evoca vida e obra de Ferreira de Castro nas Caldas das Taipas

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"Evocar Ferreira de Castro nos 50 anos da sua morte" é o tema da exposição que poderá ser apreciada até ao próximo sábado na galeria do Centro Comercial Passerelle, no centro da vila das Caldas das Taipas.

Organizada pelo empresário Carlos Marques, contando com um assinalável espólio que permite conhecer a vida e obra do escritor falecido no dia 29 de junho de 1974.

"A terra onde a lua fala", registou Ferreira de Castro sobre a vila das Caldas das Taipas onde construiu amizades e possou temporadas nas suas termas.

Após a morte do escritor, a edição do jornal O Comércio de Guimarães, na sua edição de 6 de julho de 1974, pode ler-se: "Conheci Ferreira de Castro, em Lisboa, apresentado por um amigo comum, há mais de 40 anos. Não sei, ainda hoje, o que mais me impressionou, se o Escritor que já o era, se o Escritor que já o era, se o Homem bondoso que me cativou para sempre, pela sua simpatia. Tinha lido já duas novelas suas: - "O Êxito Fácil" e "A Epopeia do Trabalho", revelação segura do prosador eminente de "Emigrantes"; "A Selva"; "Eternidade"; "Terra Fria"; "A tempestade"; "A volta ao Mundo"; "A Lã e a Neve"; "A Curva da Estrada"; "Pequenos Mundos"; "Aa Maravilhas Artísticas do Mundo"; e "Instinto Supremo".

Reencontrei-me com Ele, bastantes anos depois, na estância do Bom Jesus, em Braga.
Ferreira de Castro procurava repouso e refúgio para rever "As Maravilhas Artísticas do Mundo", mas como o sossego naquele lugar não fosse possível, para o fim em vista, recomendei-lhe as Caldas das Taipas. Encontrou nestas termas "um corpo de aldeia com cabeça de vila", o lugar ameno para o fim que desejava. Fui cumprimentá-lo e não esqueço as suas palavras amigas: - Agradeço-lhe a sua indicação, deste lugar privilegiado e transmito-lhe que conheço mais uma ave que nunca tinha visto na vida - uma rôla.

Ferreira de Castro era assim: agradecido e humano.
Pedi-lhe para escrever um artigo para um jornal de Guimarães: nunca reconheci maior relutância para uma recusa convincente, dando-lhe a seguinte explicação: - Em 1932, redigi um artigo para ser publicado em "O Primeiro de Janeiro" e os cortes da censura foram tantos que prometi a mim mesmo não escrever mais para qualquer jornal.
O que mais me fere, como português é, quando vou para o estrangeiro e me perguntam o que significa aquele selo ignominioso "visado pela comissão de censura" dos jornais portugueses.
Não insisti, mas Ferreira de Castro sempre o escreveu. Era assim Ferreira de Castro, a sinceridade em pessoa.
Em 1962, autografou-me quase todas as suas obras que eu possuo. Perguntou-me onde consegui a obra "A Epopeia do Trabalho"; reparando no seu aspecto pensativo, pediu-me licença para deixar folhear o livro, com desenhos de Roberto Nobre e foi revendo os desenhos: os pescadores; os cavadores; os mineiros; os sábios; os ferreiros; as costureiras; os cabouqueiros; os fundidores; os tipógrafos; os escritores; os ceifeiros; as dactilógrafas; os construtores; os fogueiros; os lenhadores; os escultores; os carregadores; os maquinistas; os vidreiros; os aviadores, acabando por dizer: - "são estes os verdadeiros heróis contemporâneos".
Em 1971, foi inaugurado o seu busto num jardim das Caldas das Taipas.
No dia 29 de junho de 1974 faleceu, mas ele viverá perenemente através das suas obras, no coração do povo que ele tanto sublimou".


Marcações: Ferreira de Castro

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