Série televisiva "Daqui Houve Resistência" filmada e produzida em Guimarães
A vereação vimaranense aprovou por unanimidade a atribuição de apoio logístico e financeiro, no valor de 20 mil euros, para a produção da série televisiva da RTP "Daqui Houve Resistência".
"“Daqui Houve Resistência" é uma série para televisão, baseada em factos e personalidades reais, sobre a resistência e luta antifascista, centrada a norte de Portugal, durante os treze anos que antecederam o 25 de abril de 1974. Esta série de 5 episódios para a RTP 1 abarca os últimos 13 anos da ditadura de Salazar / Caetano, (1961-1974), centrando-se em Guimarães, e nas envolventes de Braga, Famalicão e Fafe", refere a proposta.
"Ao contrário do que resulta da divulgação mais corrente, nesta região do país inúmeros grupos de resistentes lutaram de modo persistente e organizado pela Liberdade, sem dar tréguas às forças do regime, sempre com elevados custos. O projecto é uma adaptação cinematográfica baseada no livro documental “25 - Guimarães Daqui Houve Resistência” de César Machado, e pretende ser uma homenagem e um tributo a participantes ativos, mais ou menos anónimos, na mudança de paradigma político. Este projeto conta já com o apoio de diversas entidades, desde o Ministério da Cultura através do Instituto de Cinema e Audiovisual, da RTP, do Turismo de Portugal, da Associação 25 de Abril e da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, entre outros. Encontra-se já em fase de pré-produção, estando as filmagens previstas para o período entre março e junho de 2024, no Município de Guimarães.
O caminho que tornou possível a Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974 tem sido retratado em filmes e séries de televisão, sobretudo centrados no que se viveu na capital e nas lutas verificadas a Sul. Falar da PIDE ou da Rua António Maria Cardoso quase significa o mesmo. Mas muito há para contar sobre torturas na Rua do Heroísmo, sede da Pide na cidade de Porto, de que pouco se conhece. Quando se fala nos Tribunais Plenários assume-se que é de Lisboa que se trata. Passaram centenas de resistentes pelos Tribunais Plenários do Porto. Muito está por tratar sobre o modo como a sociedade portuguesa lutou clandestinamente pelo país inteiro, na vontade de se libertar do regime opressor e violento, derrubado graças a esse combate que foi feito de Norte a Sul de Portugal e fora dele. A luta assumiu as mesmas proporções em todo o lado? Não. Seguramente. Em poucos locais, como no distrito de Braga, o combate foi tão intenso, duradouro, consequente, abrangente e diversificado, e, sobretudo, com tão alto preço que tantos aceitaram pagar. Guimarães não é o ponto de partida da ação por fatores simbólicos ligados ao “berço da nacionalidade”, tão aproveitado pelo Estado Novo como símbolo de uma certa identidade nacional — a razão está antes no que pode ler-se no livro “25 — Guimarães, Daqui Houve Resistência” de César Machado, que contem 25 testemunhos reais de resistentes que lutaram nesta região ou que daqui partiram para travar as suas lutas em Coimbra, Lisboa ou Paris, ou que para aqui vieram travar o seu combate clandestino. Neste contexto, como estaria a oposição a lutar nos vários pontos do país, fora dos grandes centros? Os 25 testemunhos deste livro de César Machado, levam-nos para essas lutas, esses diferentes combates que fariam cair a ditadura, pondo fim à opressão", sustenta a proposta.
"Desde o intelectual e activista cultural Santos Simões, que havia sido Presidente da Direcção da Associação Académica de Coimbra em 1950 e fundará o Cineclube de Guimarães, o Teatro de Ensaio Raúl Brandão, e liderará o Grupo dos Democratas de Braga, ao operário fabril João Ribeiro, que em 1973 consegue vencer as eleições para o Sindicato Têxtil de Braga, com a sua lista composta por opositores ao regime, com democratas, católicos progressistas, membros do PCP, etc..., até Eduardo Ribeiro, operacional e organizador de todas as lutas, amigo e cúmplice de Santos Simões, que ajuda de forma clandestina Virgínia de Moura, (militante do Partido Comunista, 16 vezes presa, e que fora a segunda mulher licenciada em engenharia civil em Portugal), dando-lhe trabalho na sua empresa de construção civil, como também ao seu marido, o arquiteto Lobão Vital; mas há também as histórias daqueles que vão a salto para França; gente de várias origens sociais, desde os que vão para fugir à guerra, como António Henriques que, mesmo depois de ver um fugitivo ser morto pela GNR, arrisca passar a fronteira a salto, atravessando Espanha a pé até solo francês; ou os que fogem por motivos políticos, como Casimiro Ribeiro, irmão mais novo de Eduardo Ribeiro, que em Paris estará nos movimentos estudantes de Maio de 68, e fará parte da L.U.A.R. com Palma Inácio, intervindo em arrojadas ações armadas, ou tantos outros de forma anónima, são forçados a fugir do país devido à vida de miserável pobreza em que viviam, e que um sintetizaria dizendo “estou farto de comer tanta fome”. Todas estas histórias se cruzam, sob uma atmosfera que, a um tempo apresenta terror e medo, com todos sentindo a permanente vigilância e observação, possivelmente acusados pelas mais inofensivas atividades, vistas hoje à luz dos nossos dias", prossegue o texto.
O projecto terá a produção local confiado à Olho de Vidro - Associação Cinematográfica de Guimarães, contando com diversos apoios logísticos e financeiro do Município. Está prevista a utilização das instalações da Fábrica da Madroa em Guimarães e da Fábrica do Alto em Pevidém, sem prejuízo das respectivas empreitadas, o licenciamento de cortes de trânsito e outras alterações pontuais de posturas municipais a detalhar posteriormente, a colaboração da Polícia Municipal em situações que envolvam cortes trânsito e estacionamento técnico, a remoção e reposição de sinalética de rua, cortes de eletricidade de iluminação da via pública, fornecimento de baixadas elétricas e respetivos quadros e consumos. O apoio financeiro de 20 mil euros destina-se a alojamento, em Guimarães, de actores e equipas técnicas.
Marcações: reuniao do executivo vimaranense