VÍDEO: Pão de Santo António "chega sempre para todos" na igreja de São Domingos em Guimarães
"O pão de Santo António chega sempre para todos". A expressão ouvia-se repetidamente no final da missa das 8h00, celebrada em honra de Santo António, na igreja de São Domingos, no centro da cidade de Guimarães, perante uma certa ansiedade evidenciada por quem aguardava a vez para receber a broa especial, o denominado «Pão dos Pobres», distribuído pelos devotos.
Este ano, a Irmandade de Santo António encomendou 800 broas e mil pães para a iniciativa que cada vez desperta mais interesse nas pessoas. O novo juiz da Instituição admitiu até o desejo de equacionar uma distribuição mais alargada, em pleno Largo do Toural, embora sublinhando que o culto ao santo encontra-se muito ligado àquele tempo, onde a sua imagem é venerada pelos fiéis ao longo de todo o ano.
Visivelmente emocionado, José Carlos Antunes realçou a importância de manter um legado cuja origem remontará ao século XX, mas que faz jus à íntima ligação dos vimaranenses àquele que é possivelmente o santo mais popular do mundo. Essa projecção internacional é evidente através da presença da sua imagem no interior das principais igrejas e o seu nome atribuído a ruas e praças, elucidando a dimensão do culto, sendo a sua representação também expressa pelos comerciantes com imagens colocadas no interior das suas lojas e pelos agricultores que pedem a sua protecção para os animais.
Em Guimarães, criou-se uma devoção muito ligada a Santo António, sendo a Irmandade de Santo António, fundada em 1702, a Instituição que zela pela organização das festividades para evocar o frade franciscano, nascido em Lisboa e baptizado como Fernando de Bulhões, mais conhecido como Santo António e que terá falecido em Pádua, em Itália, a 13 de Junho de 1231.
A fama de pregador e sábio tornou-o popular "pela sua santidade, simplicidade e humildade", estando a sua intercessão associada a vários milagres ao longo dos séculos, como aquele que originou a distribuição do pão.
No final do século XIX, são conhecidos os acontecimentos ocorridos em Toulon, França, mais precisamente em Março de 1890, quando Luísa Bouffier não conseguia abrir a porta da sua loja. Chamou um serralheiro que, depois de muitas tentativas infrutíferas, preparava-se para arrombar a porta. Porém, Luísa prometeu dar pão aos pobres se conseguisse, após nova tentativa, abrir a porta, o que veio a acontecer. A proprietária colocou uma imagem do santo na sua loja e uma caixa onde recolhia esmolas para, com elas, comprar pão para os pobres. O mesmo verificou-se nas igrejas", escreveu o pároco José Antunes, ao esclarecer como a notícia espalhou-se pela Europa, chegando a Portugal e a Guimarães.
Citando as referências de Frei António de Sousa Araújo, o sacerdote assinalou que o «Pão dos Pobres de Santo António» é uma obra que surgiu pelo ano de 1895, aquando do sétimo centenário Santo. "Frei João da Santíssima Trindade e Sousa, Franciscano do Convento de Montariol (Braga), sabendo do milagre ocorrido em França teve a ideia de a introduzir também em Portugal. "Os seus superiores, não acolheram bem a ideia, alegando uma série de dificuldades e temendo alguns escândalos. Frei João recorre ao apoio da Mesa da venerável Ordem Terceira de Braga que, da mesma forma, se recusou a apoiar esta iniciativa. Frei João não desistiu da ideia até que, finalmente, recebeu tão desejada autorização para estabelecer a «Obra do Pão de Santo António», na igreja dos Terceiros em Braga. Naquela igreja, a 25 de Março de 1895, foram colocados dois cofres: um com o objectivo de recolher os pedidos e preces dos devotos e o outro para recolher as ofertas ou esmolas, incluindo a menção das graças recebidas. No dia 16 de Abril, abriu-se o cofre das esmolas e todos ficaram espantados perante a quantia de 36 mil réis, considerada extraordinária ao tempo, uma vez que ultrapassava as esmolas até aí recolhidas nos santuários do Bom Jesus do Monte e Nossa Senhora do Sameiro", continuou na homilia.
"No dia 28 de Abril, pela primeira vez em Portugal, realizou-se a distribuição do Pão dos Pobres de Santo António a 380 pobres que afluíram à igreja dos Terceiros, onde se encontrava o altar com a imagem de Santo António. Conta-se que a quantidade de pão era tão grande que satisfez o número de pobres ali presentes e muitos sobejaram e foram entregues aos presos da cadeia de Braga e ainda a dois institutos de beneficência".
Por isso, o Pão de Santo António, na igreja de São Domingos, remontará a 1920. Junto ao quadro milagroso de Santo António, do lado esquerdo de quem entra, uma caixa de esmolas antiquíssima, com uma pintura de Santo António, ali permanece recordando aos fiéis e peregrinos o dever de ajudar os irmãos mais desfavorecidos, podendo aí deixar o seu contributo para o «Pão dos Pobres» de Santo António", numa acção de solidariedade que vinca o espírito franciscano.
Para além da distribuição do pão realizada esta manhã, pelas 21h30, realiza-se um TE-DEUM.
Fazendo juz à mensagem "quem dá ao pobre empresta ao Senhor e Ele retribuirá o benefício", na devoção popular, o «Pão de Santo António» continua a ter presente esse ideário, havendo quem guarde uma parte desse pão para comer na Ceia de Natal. Há também quem o conserve com a fé de que, assim, nunca faltará em casa o que comer.