Gualterianas: Exposição da Muralha evoca 75 anos do «milagre» da reconstrução da Tourada em Guimarães após incêndio
"A RECONSTRUÇÃO - A extraordinária história das Festas Gualterianas de 1947" é o título da exposição organizada pela Muralha - associação de Guimarães para a defesa do património que será inaugurada esta quinta-feira, às 21h30, no Largo de São Francisco. A mostra que integra o programa das Festas da Cidade e Gualterianas evoca um momento histórico - a reconstrução do recinto da Tourada - que ardeu completamente na madrugada de 28 de julho de 1947.
"É daquelas histórias que, caso não estivesse devidamente documentada, pareceria uma extraordinária lenda, mas, ainda assim, uma lenda", realça a Muralha, no texto de apresentação da exposição que ficará patente ao público até ao dia 24 de Agosto.
"Às primeiras horas da manhã do dia do incêndio, de forma esperançosa, mas acima de tudo premonitória do que se iria passar, um conjunto de crianças e homens começou desde cedo a limpar os destroços carbonizados duma estrutura da qual restou apenas a uma arena triste e desolada. As Festas Gualterianas nesse ano de 1947 não teriam assim um dos seus números mais significativos - a Tourada - para a qual já se haviam feito os contratos necessários e vendido a maior parte dos bilhetes. O trágico acontecimento impediria, pensou a maioria, da festa brava abrilhantar as Festas da Cidade, nos dias 3 e 4 de agosto.
João Gualdino Pereira, um jovem vimaranense de 23 anos, decidiu, desde a primeira hora, através da sua câmara fotográfica registar aquele infausto acontecimento.
Ele sentiu seguramente que não estava ali apenas para documentar, através da sua lente, a desolação. O cuidado de se multiplicar em diversas frentes mostra à evidência
que ele estava ali, isso sim, para que nunca se esquecesse o milagre (sempre surpreendente) da união de esforços, a determinação de uma comunidade em contornar o impossível", expressa a associação.
"As fantásticas imagens que, dia a dia, de forma absorvente João Gualdino Pereira nos legou, fazendo parte agora da Colecção de Fotografia da Muralha (CFM), são o motivo desta exposição da Muralha, associação de Guimarães para defesa do património, 75 anos depois do acontecimento. As imagens de uma comunidade que, unida, se agigantou", acrescenta.
"A maior parte dos vimaranenses conhecerá esta história, de forma lendária, muitas vezes imprecisa, este milagre foi relatado de pais para filhos, mas ver as imagens dar-nos-á a dimensão extraordinária do empreendimento. Muitos dos relatos da manhã de 28 de julho convocam-nos para a ideia, muito pouco exequível, da reconstrução da Tourada. As conversas da manhã aventam já essa tonta possibilidade, mas os primeiros contactos são desanimadores. É impossível diziam os mais pessimistas. Pode haver vontade e meios, mas não há tempo, diziam os pragmáticos. No entanto, mesmo naqueles que acharam a empresa impossível, foi ficando a semente de um sonho", continua a Muralha no texto de apresentação da exposição.
"Quando ao início da tarde os sinos da Igreja de São Pedro repicaram para juntar a população e dar andamento ao sonho, todos ficaram imbuídos de uma euforia inexplicável. E, a partir do Toural, a cabine de som fazia os pedidos que prontamente eram respondidos. É preciso uma camioneta, é preciso gasolina, é preciso pão e vinho, é preciso dinheiro, são necessários pintores. E tudo aparecia como se uma mão invisível controlasse toda a comunidade vimaranense. Os relatos dos jornais locais e nacionais da época impressionam. E quem escreve já não o faz daquela forma contida e própria, mas carrega-se de adjetivos e de pasmo.
Os serrinhas vão para Aldão cortar árvores que servirão de suporte à estrutura da Praça e entram na cidade, precedidos pela Banda das Oficinas de São José, como heróis aplaudidos pela multidão que, também ela se afadiga. Novos e velhos, ricos e pobres, gente culta e gente analfabeta, empreiteiros desavindos que entram no local da reconstrução abraçados, crianças que levam pequenos mealheiros para fazerem peditórios, cantinas improvisadas aonde aparece vinho e alimentos para saciar os trabalhadores, mulheres simples e da alta sociedade vimaranense que se afadigam a cozinhar e a servir quem trabalha, a cabine de som, no Toural, liberada pelo Sr. Abílio Gouveia que faz os pedidos necessário, gasolina, alimentos, boleias aos jornalistas de fora, prontamente são satisfeitos e se anuncia que foram cumpridas tais solicitações, para gáudio de uma população inebriada com a sua própria força e determinação, são a imagem desses cinco dias e cinco noites absolutamente inacreditáveis.
Quando a renovada Tourada se completou e ficou pronta para receber a população festiva nos dias aprazados, não foi a festa brava o motivo de regozijo, mas, seguramente, a capacidade de uma comunidade ter fintado o impossível", indica o referido documento.
Fotos: Colecção da Muralha - Imagens de João Gualdino Pereira
– Trabalhos de limpeza do recinto ardido (Campo da Perdiz). 29 de julho de 1947.
– Vista panorâmica da cidade de Guimarães e da parte superior da Praça de Toiros (à esquerda inscrição Obrigado Operários!), no último dia de trabalhos. 2 de agosto de 1947.
– Almoço dos trabalhadores durante pausa de trabalho. 31 de julho de 1947.
– Panorâmica geral dos trabalhos de reconstrução da Praça de Toiros. 1 de agosto de 1947.
Marcações: Festas da Cidade e Gualterianas, 75 anos, Muralha - Associação de Guimarães para a Defesa do Património, exposição da Muralha, reconstrução da Tourada