Roubo do «tesouro» do Museu Alberto Sampaio aconteceu há 41 anos

O audacioso assalto ao Museu de Alberto Sampaio registado a 16 de Novembro de 1975 continua a inquietar a memória dos vimaranenses. E se os culpados que foram julgados e condenados não chegaram a ser encarcerados e a pagar as indemnizações, os seus actos não foram esquecidos pelo crime hediondo de 'lesa-Pátria'. Foram roubadas peças e jóias de incalculável valor, num "golpe protagonizado por um casal que teve a colaboração de outro na fuga que empreenderam de automóvel".

O crime desse domingo de outono é descrito pelo jornal O Comércio de Guimarães, na sua edição de 22 de Novembro de 1975. "Na hora de encerramento o principal funcionário Fernando Cunha foi violentamente agredido e manietado, enquanto os assaltantes roubavam as peças e jóias valiosíssimas que constituíam grande riqueza do tesouro de Nossa Senhora da Oliveira".

"O golpe obedeceu a um plano devidamente estudado, com estratagemas e foi posto em prática a hora que os assaltantes julgaram a mais propícia, como realmente era. Foram roubados os seguintes valores: - Coroa de Nossa Senhora da Oliveira, de ouro e pedras preciosas, do século XVIII; peitoral em prata dourada e peças preciosas, também do século XVIII; meada de ouro puro, com 32 metros; do século XVIII; passador de prata, século XIV; rosário de ouro, também do século XIV, cordão de ouro também do século XVII; orilhão de ouro, século XVII; cruz de ouro (indiana) do século XVII; e outra peça de prata do século XIV".

Os autores do crime pertenciam a um comando do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), movimento de resistência à crescente influência do Partido Comunista Português e dos vários grupos de Extrema-Esquerda, criado após o 11 de Março de 1975 e extinto a seguir ao 25 de Novembro desse ano, em que a frágil democracia enfrentou o denominado «Verão quente».

O casal composto pelo ex-primeiro-tenente fuzileiro José Maria da Silva Horta, desertor das Forças Armadas após a falhada intentona do 11 de Março, e por Maria Alice da Silva Marques, antiga Secretária de um dirigente do chamado Partido do Progresso.

Houve quem qualificasse o assalto como um "crime de lesa-Pátria". Os autores nunca foram encarcerados. O ex-tenente Silva Horta desapareceu sem deixar rasto, embora tivessem circulado informações de que teria sido identificado no Brasil, e Maria Alice chegou a ser detida em Cascais, mas conseguiu fugir do Hospital Miguel Bombarda, onde estava internada sob prisão. Ambos foram julgados e condenados à revelia, em 1987, a 20 e 15 anos de prisão e ao pagamento de um milhão de contos.

As jóias nunca foram recuperadas, havendo versões de que teriam sido vendidas ao desbarato em diversos lugares.  Oxalá, tal não tenha acontecido e que o tesouro continue algures intacto. 

(A foto ilustra a vitrine onde estavam as peças que foram roubadas)

Marcações: Cultura

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