BIGGERmagazine criou rubrica «Tudo Vai Ficar Bem»
BIGGERmagazine decidiu criar a rubrica «Tudo Vai Ficar Bem» com o objectivo de partilhar consigo a forma como aqueles que preencheram as páginas da revista, ao longo destes 11 anos, têm passado este período de isolamento social, devido ao surto epidémico COVID-19 que já chegou a 184 países, assumindo o estatuto de pandemia.
Alguns dos protagonistas das 133 edições que saíram para as bancas, não hesitaram em aceitar o desafio lançado por nós.
Foram distinguidos ou destacaram-se nas mais variadas áreas: Cultura, Desporto, Política, Empresarial...
O momento que estamos a viver é um grande desafio para todos. Sabemos que não basta ultrapassar este período de quarentena porque depois seguir-se-ão outros problemas igualmente difíceis, mas, temos a certeza, que estaremos igualmente unidos, para reerguer o País.
Explicada esta rubrica, seguem-se algumas mensagens inspiradoras, de ânimo e sobretudo de esperança.
#fiquememcasa
Zé Miguel - Enfermeiro / cantor / músico
Os meus dias de quarentena têm sido essencialmente aproveitados em família, naturalmente. Tenho mais tempo para brincar com os meus filhos, desde as brincadeiras no jardim, aos jogos em família e a inevitável PlayStation. Também há o tempo dedicado aos estudos. Quando estou ausente em trabalho, a minha esposa, que está em casa permanentemente dada a contingência que estamos a viver, ajuda e orienta o Pedro (8 anos) para as fichas escolares e leituras.
Sob meu acompanhamento está o estudo da música. O Pedro é aluno do Conservatório de Guimarães e essa área do estudo está mais sob minha supervisão cá em casa (porque será?). Acompanho as orientações dos professores e as aulas on-line que ele vai tendo.
Actividades que procuramos que ele mantenha diariamente para continuar a estimular o raciocínio, o intelecto e no caso da aprendizagem do violino, manter e estimular os exercícios técnicos pois é um instrumento exigente do ponto de vista físico. Já a Margarida (2 anos e 9 meses) é brincadeira a toda a hora! Está numa fase muito engraçada em que todos os dias inventa uma brincadeira nova e nos inclui também com mais frequência, pois acho que até ela já percebeu que estamos mais presentes. É uma criança muito alegre mas também com um feitio mais exigente.
À parte da interação familiar também procuro ter os meus momentos. A guitarra é a minha fiel companheira e sempre que tenho tempo disponível, que agora é mais frequente, procuro tocar e também cantar para “manter a forma” ou estudar temas novos.
Quanto a redes sociais confesso que nunca fui muito activo no sentido da divulgação do meu trabalho enquanto cantor/músico. Não sei bem porquê. Acho que não tenho muito jeito para vídeos ou live streaming. Fico meio sem jeito e estou sempre a adiar fazer alguma coisa. Contudo, uma vez que agora não há concertos, talvez possa apresentar algo online para quem me segue. Vamos ver se desbloqueio aqui algum processo e avanço com algo do género.
Como enfermeiro a exercer funções na Unidade de Saúde Familiar Novo Cuidar no Centro de Saúde de Fafe, os meus dias de trabalho têm sido mais tensos. Há uma tensão permanente, apesar de não lidar directamente com casos conhecidos, mas como nesta fase de mitigação da pandemia, o vírus circula na comunidade, há sempre o risco de estarmos a tratar algum doente que esteja contaminado ou até infectado sem o saber.
Há um plano de contingência em vigor o qual estamos a cumprir escrupulosamente. Há consultas e tratamentos que foram adiados mas há outros que se mantêm, e portanto, temos que manter a actividade essencial, cumprindo com todas as regras de controlo de infeção.
Felizmente ainda não tivemos nenhum caso confirmado de COVID-19, mas tenho a noção que será uma questão de tempo. O equipamento de proteção individual disponível no nosso serviço para atendimento de casos suspeito é escasso, embora tem sido suficiente para suprimir as necessidades de atendimento a casos suspeitos até ao momento. Contudo, temo que se torne insuficiente dado o constante aumento do número de casos no país, caso não seja fornecido a curto prazo, de forma célere e com capacidade de reposição permanente.
O sentimento que se tem ao se sair de casa para trabalhar neste cenário é um sentimento total de sentido de missão. É claro que nós, tal como o cidadão comum, temos medo. Eu tenho medo. Todos temos, mas não podemos deixar que ele se apodere da nossa capacidade de discernimento e racionalidade. Temos que perceber que somos elementos essenciais na prestação de cuidados de saúde à população e tudo o que temos que fazer é protegermo-nos devidamente e avançar. Temer mas acautelar e avançar seguros da nossa capacidade de trabalho e conhecimento, para ajudar e cuidar de quem continua a precisar de cuidados de saúde nesta altura tão delicada. Se os profissionais de saúde sempre foram o pilar do SNS, agora mais que nunca o são.
Em casa também há regras e cuidados que tenho, desde cuidados de higiene e desinfeção rigorosos comigo próprio e com a roupa que trago aquando da chegada a casa, um wc e quarto só para mim, estão proibidos também os beijinhos e abraços aos meus filhos e esposa, assim como outros cuidados.
Depois disso resta-nos acreditar que nada nos acontecerá.
A mensagem e conselho que deixo a toda a população, é que cumpram rigorosamente os conselhos da DGS, os quais já foram sobejamente divulgados. Dizer que esta pandemia não tem resolução fácil e que portanto o nosso comportamento enquanto cidadãos tem influência directa na propagação do vírus. Temos o dever de conter esta propagação através das nossas atitudes e comportamentos, para além de todas as medidas tomadas pelo nosso governo e autoridades de saúde.
Dizer também que estou optimista quanto aos números da próxima semana. Acredito que as medidas tomadas pelo governo e a adopção de comportamentos de contenção da propagação do vírus por parte da população em geral, irão ter um efeito positivo no número de casos no nosso país durante a próxima semana.
Assim seja. Protejamo-nos uns aos outros. Sejamos mais comunidade e menos individualidade. Sejamos mais e melhores e Tudo Vai Ficar Bem!
Marcações: músico, Zé Miguel, rubrica, revista, enfermeiro, coronavírus, cantor