Instalações definitivas para o CAES dependentes de candidatura ao PRR
A candidatura a fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é uma oportunidade que se afigura no horizonte para conseguir instalações definitivas para o Centro de Acolhimento e Emergência Social (CAES), a funcionar provisoriamente na antiga escola de Chã da Bouça, em Atães.
Em entrevista recente ao programa "Largo do Toural", da Rádio Santiago, a direcção da Delegação de Guimarães da Cruz Vermelha assumiu o anseio, embora com alguma preocupação face à linha temporal exigida para a concretização dos projectos financiados pelo PRR. "O projecto já tem um esboço: a Câmara tem de fazer candidaturas ao PRR até 31 de Maio, sabemos que a Divisão de Acção Social está a trabalhar afincadamente nisso, sabemos que existe terreno disponível, a nossa dúvida é se se irá a tempo de preencher todos os requisitos exigidos pelo processo que tem de ser concluído até ao final deste mês", afirmou Manuel Barbosa, presidente da Comissão Administrativa da Delegação de Guimarães da Cruz Vermelha.
O CAES foi criado em resposta à Covid 19 e à necessidade de proporcionar acolhimento a pessoas sem abrigo ou sem rectaguarda familiar no início de 2020. Começou por funcionar nas instalações da CERCIGUI, transitando depois para o edifício do Seminário do Verbo Divino e estando agora a ocupar o edifício de uma antiga escola na freguesia de Atães. "É um projecto que resulta de um desafio que a Câmara lançou e a Cruz Vermelha abraçou. Neste momento, preocupa-nos porque embora sejam dadas todas as condições possíveis aos utentes que lá se encontram, sentimos que não são as ideais. Temos feito um trabalho conjunto com a Câmara para o arranque de instalações definitvas", frisou o responsável .
"Se a candidatura for aprovada, o projecto terá de estar concluído até junho de 2026, o que constituirá uma certeza definitiva de que teremos instalações definitivas", continuou, ao contextualizar que o CAES acolhe atualmente 16 pessoas, mas já prestou apoio e orientação a mais de duas centenas desde a sua criação, "sempre com o Município como entidade promotora e a Cruz Vermelha como entidade gestora, em colaboração com o Instituto da Segurança Social e outras instituições".
"Tem sido um trabalho colaborativo, em rede, com as mais variadas organizações", faz questão de salientar Armando Guimarães, adjunto executivo da Direcção, ao precisar que graças à intervenção de proximidade e de valorização das competências e promoção da autonomia das pessoas foi possível "alargar a outras áreas de intervenção, com outras respostas, nomeadamente, com os apartamentos partilhados".
Apesar da alternância de instalações, o CAES tem conseguido manter uma coerência na acção. "Fomos sempre tentando encontrar soluções conjuntas com o Município e estamos num processo de análise para avançar com a candidatura ao PRR para que seja possível criar instalações definitivas, adaptadas às necessidades dos utentes que têm um perfil e condições muito diferenciadas", acrescentou.
Aliás, foi em resultado do diagnóstico efetuado e do envolvimento de diversas organizações em prol do objetivo comum que surgiu o projecto "Portas Abertas". "No âmbito de uma candidatura a fundos europeus, em que o Município assumiu-se como entidade promotora, conjuntamente com o Lar de Santo António, a Sol do Ave e a Delegação da Cruz Vermelha, desenvolveu-se o projecto com uma dimensão de respostas mais alargadas do que as imediatas de emergência social. Incluiu-se a capacitação, a inclusão, o desenvolvimento de competências, a integração e acompanhamento de pessoas sem abrigo tornou-se muito alargada e daí surgiram outras respostas, entre elas os apartamentos partilhados para pessoas que estavam no centro de acolhimento de emergência social e que na sua evolução e percurso pudessem já estar numa lógica de integração no mercado de trabalho e com isso fazer um processo de autonomização", contextualiza Armando Guimarães, referindo-se ao projecto "Novo Rumo", envolvendo um protocolo com o Instituto da Segurança Social e neste momento temos três apartamentos".
Respostas limitadas
às condições do espaço
"A condição das pessoas sem abrigo não é uma problemática social local. Os últimos indicadores a nível nacional mostram que houve um aumento significativo de pessoas em situação de sem abrigo em Portugal. No caso de Guimarães, a Sol do Ave já há alguns anos faz um trabalho contínuo, com o In Ruas. Conforme vão surgindo estas respostas, começamos a ter uma maior consciência e sensibilidade para as várias necessidades, para a insuficiência de respostas existentes e temos trabalhado nesse sentido. Inclusivamente, foi criado o Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo que trabalha esta área, alinhado com a estratégia nacional e Guimarães já tem o Núcleo, num consórcio alargado que envolve diversas áreas.
O importante é que tenhamos consciência de que esta realidade existe, porque há com maiores vulnerabilidades. A Cruz Vermelha tem como missão aliviar a dor e o sofrimento, protegendo a vida, a saúde e a dignidade humana. Por isso, abraçamos este desafio e acreditamos no valor da resposta que damos", analisou Armando Guimarães, alicerçado na experiência de quatro anos de acção directa com as pessoas que precisam de ajuda.
"Temos a sensibilidade de que as instalações, sendo elas provisórias e temporárias, trazem consigo constrangimentos logísticos, porque fomos readaptar uma estrutura que não foi feita para o efeito. Temos capacidade para acolher 16 pessoas, podendo receber mais uma ou duas em casos excepcionais de emergência. Não temos condições para acolher senhoras. Por isso, só temos homens", manifestou, ao realçar que os constrangimentos são ultrapassados com a capacitação dos profissionais do CAES e com um trabalho colaborativo em articulação com instituições com respostas semelhantes. "Temos feito uma monitorização dos resultados, dentro do que são os objetivos propostos, porque as pessoas têm necessidades díspares. Aquilo que vamos percebendo é que temos registado taxas de sucesso com a integração social, o regresso à família, o acolhimento familiar, a reintegração profissional, a autonomização", revelou, ao vincar: "esses indicadores dão alento para continuar, sendo certo que temos de fazer uma gestão de expectativas muito clara: o importante é a dignidade e o bem-estar das pessoas".
"Temos noção de que há pessoas que se sentem infelizes por estarem no centro de acolhimento. Esse é o nosso trabalho diário de avaliar o impacto do que fazemos, monitorizando as acções porque queremos que o CAES seja uma resposta transitória na vida de uma pessoa", sustentou o responsável.
Pela experiência e conhecimento da realidade, Armando Guimarães advertiu: "há sempre um desafio relacionado com a natureza desta tipologia de respostas, porque tivemos pessoas que estiveram connosco, saíram e que reencontramos. É importante o não julgamento! Tivemos pessoas connosco, saíram, integraram o mercado de trabalho e por diferentes razões voltaram a necessitar do nosso apoio e cá estamos para trabalhar com eles, cada uma das etapas, naturalmente que procuramos a autonomização, sendo certo de que há outras pessoas em que não é essa a perspetiva. Tivemos situações em que por força da idade e até da condição física o encaminhamento passa por uma Estrutura Residencial para Pessoas Idosas". "Temos de olhar pessoa a pessoa e este é que é o grande desafio deste tipo de respostas, que os nossos técnicos e auxiliares encontram todos os dias: perceber efetivamente qual é o plano de desenvolvimento, qual a estratégia que temos de implementar e adoptar para cada pessoa. É para isto que a Cruz Vermelha existe, para dar resposta a quem tem esta vulnerabilidade", indicou.
Transporte de doentes
não urgentes é nova área de intervenção
Com valências de intervenção relacionadas com a juventude, voluntariado e ensino de socorrismo, a delegação da Cruz Vermelha de Guimarães alargou recentemente a área de transportes de doentes não urgentes. "Embora existam muitas entidades a fazê-lo, a Cruz Vermelha já tem essa tradição. É uma oportunidade para ajudar a sustentabilidade financeira da Delegação. Temos três viaturas no terreno, com todas as condições para o transporte de doentes, para transporte com maca e com cadeira de rodas. Estamos a fazer transportes a quem nos solicita a título particular, para o Município participando no concurso público para o transporte de jovens com deficiência para as instituições que lhes prestam apoio", explicou Manuel Barbosa, ao referir que estão a decorrer igualmente negociações com o Hospital de Guimarães.
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