VÍDEO: Sem a tradicional noitada, evoca-se São João de Calvos na vila de Lordelo
A pandemia da Covid-19 não permite os festejos habituais, mas a igreja de São João de Calvos, na vila de Lordelo, evoca o seu patrono, mantendo uma tradição muito enraizada na comunidade. É uma igreja pequena e muito simples, mas que continua a ser procurada para diversas actividades.
"O São João de Calvos já foi uma das festas mais importantes desta zona. A rapaziada juntava-se aqui até altas horas da madrugada e nas redondezas ninguém dormia na noite de São João", contou Joaquim Rodrigues, vizinho e zelador do templo, simples, pequeno e comovente.
" A igreja já foi sede de uma paróquia há muitos séculos, mas sobreviveu pela vontade dos homens e, se chegou até nós, temos o dever a responsabilidade de a transmitir às gerações futuras", realçou. "Este ano a festa será apenas religiosa, com a realização de uma missa", advertiu, enquanto mostrava as particularidades da pequena igreja que abriu com a maior reverência e respeito.
"Procuro estar atento a tudo e faço saber à Junta de Freguesia aquilo que considero que precisa de ser corrigido. Este monumento é histórico, vêm aqui especialistas de várias instituições, os técnicos da Câmara e devotos para deixarem as suas esmolas", revela, ao apontar para a pedra da ombreira da porta principal que apresenta uma fissura.
Classificada como Imóvel de Interesse Público, por decreto de 1955, a igreja foi o templo de uma freguesia medieval, cuja vitalidade não ultrapassou o fim da Idade Média.
Segundo a ficha disponível no sítio da internet da Direcção Regional de Cultura, "este monumento não é apenas o símbolo de uma antiga circunscrição medieval. Ele é, também, um bom testemunho do que foi o românico rural tardio, modesto e rude, maciço e artisticamente despojado, que caracteriza uma parte significativa da paisagem artística nacional durante os séculos XII e XIII".
"A simplicidade da planta - obtida pela justaposição de dois rectângulos, a nave e a capela-mor - e a extrema rudeza da construção - com grandes silhares dispostos horizontalmente, mas de talhe muito pouco cuidado -, são características que reforçam o estatuto único desse românico tardio de que aqui falamos. O arco triunfal é a parte melhor conseguida, de perfil duplo e já apontado, com impostas sem decoração e desprovido dos típicos capitéis românicos, o que revela uma cronologia já em pleno século XIII, quando o Gótico despontava tenuamente no Norte do país", acrescenta-se, ao sublinhar que "apesar da sua aparente genuinidade, o templo que chegou até nós não é integralmente medieval".
"Na época moderna, o portal principal foi modificado, suprimindo-se então o arco original (muito provavelmente também apontado), em benefício do lintel recto que agora observamos. Outras alterações sucederam-se neste tempo longo, como a deslocação de alguns silhares e sua adaptação no sentido vertical, quando na origem eram dispostos verticalmente, ou o entaipamento da fresta sobre o arco triunfal.
Praticamente em ruínas no século XX, quando o tecto da nave cedeu e o espaço ficou descoberto, com grande perigo para as paredes e os cunhais, o templo foi restaurado na década de 70, pela Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, que, na altura, aproveitou também para proceder a arranjos exteriores que lhe conferiram alguma dignidade cenográfica na paisagem envolvente", refere-se.
Marcações: Lordelo, igreja, São João de Calvos, santos populares