VÍDEO: «Milinha do Pedra» festeja esta terça-feira 106 anos e é a supercentenária de Guimarães
Viver longamente e com bem-estar. É um desejo comum, mas sempre acessível. Em Arosa, reside a habitante mais velha do concelho de Guimarães que, esta terça-feira, completa106 anos de existência, constituindo um exemplo notável de longevidade.
No assento de nascimento ficou lavrado que Emília Fernandes Rocha veio ao mundo a 5 de Novembro de 1913. Viveu até casar na freguesia vizinha de Castelões. "Cresci ali, no Lugar da Capela, que ainda lá está", contou, referindo-se ao pequeno templo que já teve altar em honra de Nossa Senhora da Conceição, deslumbrando quem a ouve pela facilidade com que se expressa, numa conversa mantida na manhã do último sábado, à porta de casa, onde permanecia encostada a um varandim "para apanhar ar do dia", num momento de tréguas da chuva.
"Às vezes, penso que Deus esqueceu-se de mim, porque já ando aqui há tantos anos... Mas, depois, acho que Ele quer que eu ande neste Mundo e veja a luz do dia... E se não chover, tenho de sair de casa e dar o meu passeio, com o meu vagar", disse, debruçando-se propositadamente para nos beijar a mão, esboçando um sorriso, de uma alegria calorosa repleta de um carinho autêntico.
A «Milinha do Pedra», como é carinhosamente conhecida em Arosa, tem cinco filhos, netos e bisnetos. "Nunca fui à escola, as minhas mãos conheceram cedo o "chuço", a enxada e a gadanha. Nunca tive medo ao trabalho do campo e à criação", afirmou, como se estivesse a fazer uma advertência, lamentando que não tenha aprendido a ler e a escrever na infância e sonhava ser professora. "Foi o meu marido que me ensinou a escrever o meu nome e a ler alguma coisa, ele tinha a 4ª classe... Nas contas, acho que aprendi sozinha", afirma, com vivacidade, ao recordar o tempo em que ia vender todas as semanas o que a terra produzia à feira da Póvoa de Lanhoso! Tem sido uma vida um bocado desgraçada... Mas, ando aqui por vontade de Deus", declarou.
Embora tome alguns medicamentos diariamente, a «Milinha do Pedra» é uma mulher aparentemente saudável, com boa mobilidade, embora recorra ao apoio de "um pau de carvalho e não de marmeleiro (risos)" para se apoiar nas deslocações diárias. "Não quero cair e o tempo vai húmido e é um perigo...", justificou, fazendo questão de mostrar como é capaz de caminhar sozinha.
A supercentenária de Arosa casou aos 30 anos, com um homem mais novo cinco anos, que já faleceu há 34 anos.
Reside com uma das três filhas. Florinda Rocha Gonçalves, de 70 anos, indicou que a mãe ainda é bastante autónoma e colabora nas actividades domésticas e, de quando em vez, aparece no campo. "Este ano, desfolhou dois cestos de espigas", revelou, ao confessar que a mãe "não é de comer muito". "Faço por não lhe faltar nada, com uma dieta de pouco sal, mas ela gosta de uns bons bolinhos de bacalhau..." apontou a filha, ouvindo-se a bisneta Diana Grandinho, de 15 anos, a acrescentar, abrançando-a: "a vovó gosta também de douradinhos, não é"!
A supercentenária de Arosa é a mais velha do concelho de Guimarães e possivelmente do Minho. Gosta muito de conversar, de contar estórias, passando os dias em casa da filha Florinda, indo frequentemente visitar a casa da neta Maria de Fátima, para "mimar" a bisneta Diana. Sempre que pode ainda vai pelo seu pé aos campos.
Para o Autarca da União de Freguesias de Arosa e Castelões, a «Milinha do Pedra» é uma freguesa extraordinária, "uma senhora que prestigia a comunidade". "Ela nasceu um ano antes da I Guerra Mundial, conheceu todo o período de ditadura, a alvorada da democracia e continua muito atenta a todo o que acontece na freguesia. Tem sentido crítico e gosta de assistir às festividades da freguesia, como a Romaria de Santo Amaro, em Janeiro, e as Festas da Senhora da Boa Morte, em Agosto. É uma senhora fenomenal que nos encanta e que surpreende quem a conhece pela força que tem", expressa José Cruz, num discurso que prendeu a atenção de Emília Fernandes Rocha. E mal ele terminou, ela rematou: "este é o meu pai na Terra, quando tenho alguma dificuldade bato à porta dele e ele resolve. Não se esqueça que Deus vê tudo e não precisa de pau de marmeleiro para castigar ninguém".
Excerto do artigo que será publicado na edição do jornal O Comércio de Guimarães, de 6 de Novembro de 2019
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