VÍDEO: Oficina de Gaspar Carreira, o escultor de ferro em Guimarães, fecha esta quarta-feira

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O mestre Gaspar Carreira prepara-se para fechar pela última vez a porta da oficina onde dá vida ao ferro e outros metais, criando peças únicas ao vivo e para quem quiser apreciar a sua arte, na Rua de Donães, em pleno Centro Histórico de Guimarães.

"Chegou ao fim e vou-me embora, com muita mágoa. A chave tem outro dono e ainda não sei o que vou fazer à minha vida", afirmou, com a voz embargada, tamanha é a confusão de emoções que lhe assaltam a memória neste momento em que arruma os haveres para ao fim do dia encerrar a oficina. "Só de pensar que vou deixar ficar isto... Não dá! Vou esta tarde à EDP e à Vimágua para encerrar o serviço", conta, numa conversa pausada, porque as palavras parece que ficam retidas no seu corpo habituado à rotina da deslocação diária à oficina.

Com 74 anos, Gaspar Carreira recorda que é ali, naquele silêncio, que repousam as memórias do trabalho do ferro e outros metais, quando dali saíam fogões para casas e instituições, portões, varandas, candeeiros.. "Esta oficina tem pelo menos 150 anos aqui. Era do meu avô - Gaspar Pinto Carreira - de quem herdei o nome. Foi ele que fez aquele portão que está na entrada do Museu de Alberto Sampai, o gradeamento da Senhora da Guia foi feito pelo meu pai e agora ficam as minhas peças que estão em vários locais", desabafa, explicando que terá de fechar a oficina porque a casa pertencia à herança legada pelos pais e "não podia dizer 'não' aos irmãos e teve de ser vendida". "A casa era de todos e cada um tem os seus direitos", indica, algo perturbado porque entre aquelas paredes encardidas pelo fumo da forja onde estão memórias de família e do ofício da serralharia tradicional que o artista teimou em reinventar.

Autor de esculturas alusivas a vultos da história, literatura, como Fernando Pessoa, Camões, D. Afonso Henriques, Conde D. Henrique, Mumadona Dias, Nossa Senhora da Oliveira, Gaspar Carreira ainda tem uma encomenda em mãos. "Um holandês apresentou-me um desenho e quer que seja eu a fazê-lo", diz, acrescentando: "mas onde?"

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