Papa Bento XVI envia mensagem para Guimarães
Bento XVI alertou para a maré crescente da cultura da morte numa mensagem enviada aos participantes no Átrio dos Gentios, projecto de diálogo entre crentes e não crentes, que decorre em Guimarães e Braga entre hoje e amanhã. O texto foi lido por Isabel Varanda, coordenadora geral do evento, perante centenas de pessoas reunidas no Auditório Nobre da Universidade do Minho, em Guimarães, Capital Europeia da Cultura.O Papa dirigiu-se a crentes e não crente para lembrar a sacralidade da vida, em linha com o tema escolhido para a sessão minhota do evento, O Valor da Vida.
Mesmo entre dificuldades e incertezas, cada homem e cada mulher podem chegar a reconhecer na lei natural, inscrita no coração, o valor sagrado da vida humana, escreveu o Papa.
Cada um de nós não é produto do acaso, é fruto do pensamento de Deus, acrescentou Bento XVI, sublinhando que Deus ama cada pessoa.
Segundo o Papa, na modernidade o ser humano quis fundar-se sobre si mesmo, como um edifício sem janelas, mas mesmo em tal mundo autoconstruído vai-se beber aos recursos de Deus.
É preciso abrir de novo as janelas, apelou.
Bento XVI defende que o valor da vida só se torna se Deus existe e diz mesmo que seria bom se os não crentes vivessem como se Deus existisse, caso contrário o mundo não funciona.
Em Deus, caem os muros da separação, refere o texto.
D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, dirigiu-se aos presentes para afirmar que ao contrário das arenas dos romanos, nesta arena do diálogo, típica do Átrio dos Gentios, todos saem vencedores.
O responsável sustentou que é preciso mitigar o escândalo confrangedor da miséria humana para surja uma capacidade de sair de uma mentalidade de contraposição.
O prelado falou na importância de uma nova mentalidade num quadro plural, unicamente compreendido na defesa do ser humano e da obra da criação.
Mais do que converter, a Igreja deseja sair dos seus muros, projetos e conceitos, para dialogar com a cultura e para oferecer uma esperança responsável para o povo português, concluiu.
D. Carlos Azevedo, delegado do Conselho Pontifício da Cultura, organismo da Santa Sé que dinamiza esta iniciativa, afirmou por sua vez que o Átrio dos gentios abre para a possibilidade interior de um encontro de pessoas que não renunciam à inquietude, têm energia exigente para colocar as grandes questões, com os pés na terra globalizada e em luta com o Altíssimo e Bom Deus.
O bispo português referiu que o átrio é espaço para mútua disponibilidade e entendimento sobre o valor da vida, como nação em demanda de nova vida coletiva e como indivíduos, abarcando a genética e atendendo à espiritualidade.
A humanidade está demasiado debilitada, a chegar à vivência do limite, para recusar unir crentes e não crentes na busca conjunta de uma vida plena, menos farta e mais solidária, menos sucedida e mais genuína, menos banal e mais significativa, menos imediata mas que prepara o futuro alertou.
O Átrio dos Gentios prosseguiu com uma conferência de Marcelo Rebelo de Sousa, comentador e professor universitário, sobre o tema Identidade e sentido da vida de um povo, após o concerto da Fundação Orquestra Estúdio de Guimarães e do coro da licenciatura em música da Universidade do Minho.
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