Comemorações do 25 de Abril: Guerra na Ucrânia dominou atenções na sessão solene da Assembleia Municipal de Guimarães
A sessão solene comemorativa do 48.º aniversário do 25 de Abril de 1974 da Assembleia Municipal de Guimarães decorreu esta segunda-feira já sem as restrições da pandemia da Covid-19 e aberta ao público, contrastando com o que aconteceu nos últimos dois anos.
O espaço da renovada sala do Teatro Jordão foi mais do que suficiente para acolher os convidados e o público que assistiram à cerimónia, de cravo na mão ou ao peito.
Quase todos os representantes das forças políticas com assento naquele órgão municipal evocaram o drama da guerra na Ucrânia, fazendo alusão às conquistas da «Revolução dos Cravos» e à necessidade de defender o espírito do 25 de Abril de 1974.
O Presidente da Assembleia Municipal vincou o compromisso exigido por esse exercício que deve ser constante. "Não se é democrata às segundas, quartas e sextas. Não se é democrata só em determinadas latitudes, a defesa da democracia é absoluta. A democracia não admite conjunções adversativas ou condicionais, como 'mas' ou 'se'. Não há democracias iliberais ou musculadas. Ou há democracia ou não há, assim como não há ditaduras boas ou didaturas más, ou ditaduras de esquerda ou de direita. Se cedermos aos relativismos, sem darmos por ela estamos a replicar os discursos dos saudosistas do 24 de Abril", afirmou José João Torrinha, alertando: "defendemos a democracia quando ouvimos quem pensa diferente de nós, quando conseguimos entendimentos com quem se nos opõe, mas também a defendemos não dando tréguas aos seus inimigos".
Em representação da bancada do PS, a deputada Elvira Fertuzinhos lembrou a evolução registada no número de mulheres eleitas para os órgãos municipais desde as primeiras autárquicas após o 25 de Abril de 1974. Evocou a guerra na Ucrânia, mas alertou para o desafio prioritário da acção política de centrar a atenção nos jovens. "Se Abril abriu caminho para que Portugal tenha hoje a geração de jovens mais qualificada de sempre, as condições para que as jovens e os jovens do nosso País, do nosso concelho, se emancipem, encontrem no trabalho oferta de salários compatíveis, possam ter os filhos que desejam, ficar na sua terra, não estão de todo garantidas. Neste 25 de Abril, os jovens do nosso País têm de estar de forma reforçada no centro das nossas prioridades políticas e acção colectiva", apontou.
A guerra na Ucrânia foi mencionada no discurso do representante do PSD. César Teixeira considerou que "o principal ataque aos valores de Abril não é perpetrado em solo nacional". O ataque fez-se, faz-se desde 24 de Fevereiro de 2022 no ataque à Ucrânia, pelo regime belicista, imperialista e autoritário de Vladimir Putin. Aqui não há que hesitar: ou se é democrata e se está activamente ao lado da Ucrânia, de quem defende os valores do 25 de abril de 1974, ou então opta-se por quem defende de forma mais ou menos dissimulada os valores vigentes", assinalou.
Paulo Lima Peixoto, do CDS-PP, fez também questão de sublinhar a importância da liberdade e da democracia prevaleceram em solo ucraniano, num discurso em que apelou para que as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 "sirvam para lembrar de forma contínua aquela data". "Precisa-se urgentemente de um 25 de Abril a nível internacional, de preferência concretizado com cravos ou outra flor qualquer. A nível nacional é necessário o 25 de Abril que se pratique todos os dias e não do 25 de Abril que só existe neste dia porque é feriado, dia de manifestações e de pôr o cravo ao peito", defendeu.
Considerando que "a guerra é a resposta à crise que o capitalismo criou", a representante da CDU fez alusão à necessidade de paz na Ucrânia. "Vive-se uma situação de guerra que urge parar e que nunca deveria ter começado. Abril é sinónimo de paz, não paz no abstrato, reside na Constituição da República Portuguesa o caminho para ela, no seu artigo 7º encontra-se qual deveria ser o posicionamento do nosso País face a conflitos, face aos blocos político-militares. É esse artigo que grita como todos nós, paz sim, guerra não", declarou Inês Alves Rodrigues, ao acrescentar: "sabemos bem pela história do nosso País que há poucos que ganham com a guerra, mas sabemos também que quem perde são sempre os povos, a juventude, os trabalhadores. São necessárias iniciativas que contribuam para a desescalada do conflito na Ucrânia, para o cessar-fogo".
A bancada parlamentar do Chega discursou pela primeira vez numa cerimónia do 25 de Abril da Assembleia Municipal. André Filipe Almeida começou por afirmar: "não somos livres, nem nunca o fomos", prosseguindo: "porque vivemos amarrados nas correias dos impostos que a ditadura socialista nos impinge, pelo valor das rendas, pela oferta de emprego, pelo custo da alimentação e pelos dias de espera por uma consulta". "Fora desta sala entendem bem o que dizemos, dentro esperam ansiosamente que nos calemos", frisou, num discurso em que lançou diversas farpas à gestão municipal e que foi o menos aplaudido da sessão.
Na cerimónia, o deputado do Bloco de Esquerda sustentou a necessidade de "manter viva a ligação de Abril com o povo português, reforçando as suas conquistas, com um estado social que dê resposta à exclusão social e económica". João Maia da Silva fez alusão "aos riscos de aumentar o desânimo da população com o regime democrático, ficando mais vulnerável às retóricas populistas e anti-democráticas", insistindo na ideia: "proteger a liberdade depende também de garantir a todos e todas condições materiais para a exercer".
O representante da Iniciativa Liberal estreou-se no discurso da sessão solene evocativa do 25 de Abril de 1974. Pedro Teixeira Santos recordou a responsabilidade exigida pela liberdade que deve imperar como valor inalienável da existência humana. "Neste momento, está o povo ucraniano a querer libertar-se do poder opressor, xenófobo, belicista e desumano", observou. "Percepcionamos agora melhor que a liberdade não é um direito adquirido, mas uma luta permanente e global de todos os homens e mulheres livres, que sentem e existem como tal. Percebemos com mais clarividência que a liberdade é um bem tão maior quanto é frágil e a sua conquista tem de ser uma luta diária e parte integrante da própria existência humana", disse.
Nesta sessão solene da Assembleia Municipal de Guimarães comemorativa do 48.º aniversário do 25 de Abril de 1974, o Coro da Liberdade fez as honras de abertura e de encerramento na cerimónia aberta ao público. Apesar de não ser obrigatório o uso de máscara facial, alguns dos participantes fizeram questão de a usar durante a cerimónia.
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