Largo da Oliveira, melhor que nunca

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Como habitualmente, em especial nesta época de verão, passo muito tempo no Largo da Oliveira.Como habitualmente, em especial nesta época de verão, passo muito tempo no Largo da Oliveira.Boa parte dele passo-a a ler mas, sobretudo, a observar quem ali está e, muito particularmente, quem por lá passa. A imensa maioria, são turistas, tanto nacionais como estrangeiros.

Hoje, após o almoço, fui ao Largo tomar o café e por ali me deixei ficar um bom pedaço de tempo a observar o espetáculo que a atração pela cidade e, particularmente por aquele naco dela, proporciona a quem se dispuser a ser dele espectador.Uma primeira nota é a de que os turistas, solitários, em pequenos ou grandes grupos, acedem ao Largo sobretudo vindos da Praça de S. Tiago, e surgem da sombra da arcaria da antiga Casa Municipal, repentinamente iluminados pela claridade do espaço aberto, como personagens em palco escuro, subitamente tornadas visíveis por foco sobre elas incidente.

Reparei que, normalmente, surgem sorridentes, melhor dito, com ar de riso, a olhar para cima e para a esquerda, todos na mesma direção, que estou certo ser a daquela gárgula dobrada sobre si, sensivelmente a meio da aresta norte da torre da Igreja da Oliveira, para a qual, em tempos que já são da minha vida, era proibido, quando não pecado, voltar os olhos.

É-me, efetivamente, cómico, ver os grupos turísticos assim penetrarem naquele nobre e belo espaço, uns a seguir aos outros, todos na mesma postura.Já os turistas isolados entram de modo diferente. Em passo a perder velocidade, como se tivessem vindo apressados e a claridade os ofuscasse e lhes causasse receio de embate com inesperado obstáculo, parando de seguida e olhando rápida e repetidamente para a esquerda e a direita, como se estivessem perdidos, ou atrasados para encontro marcado para aquele lugar.

Engraçadíssimo quando, após o guia ter apontado para determinado pormenor do local aponta noutra direção, todas as cabeças, simultaneamente, perscrutam o ponto de chegada no alinhamento do indicador que aponta e, como que obedecendo a ritual ensaiado, levantam no ar telemóveis e máquinas fotográficas, numa coreografia digna de momento cinematográfico.

Ali se exibem as mais exóticas roupagens, penteados mirabolantes, toaletes desde a mais recatada à de mais ousada sensualidade, saias que começam na cintura e descaem até aos pés e calções que, igualmente nascendo na cintura praticamente não vão abaixo dela, um casal de noivos, ele impecavelmente trajado de fato negro e ela vestida de neve, quase treparam pela oliveira de que o Largo tomou o nome, para assim se fazerem fotografar, uma rapariga que trajava, da cintura para baixo, saia numa perna e calção curtíssimo na outra, o que me prejudicou a hipótese de ver se, da cintura para cima, igualmente ia mais coberta de um lado do que do outro, gordos, muitos gordos, e gordas, e gente lindíssima, esteticamente adereçada, moderna ou classicamente, aquela mulher pobre, completamente de negro e expressão de quem carrega toda a infelicidade do mundo que, com ou sem balões, se senta numa das bases do Padrão do Salado, mulher essa que de pedinte só tem o olhar, que não o gesto, a outra mulher vestida de palhaço que seria suposto vender balõezinhos moldáveis às crianças que, todavia, desatam a chorar e a fugir quando ela se aproxima numa tentativa de lhes cativar os pais, os penteados rasta, as cabeças de cabelos rapados e as cabeleiras enormes com uma cabeça por baixo, e também crânios cabeludíssimos de um lado e deliberadamente carecas do outro, calças a querer espremer as canelas de quem as usa, terminando em afiladíssimos sapatos dois números acima, com biqueira curva a querer levantar voo, enfim, Senhoras e Senhores, é só olhar, é só olhar e ficar atento àquele verdadeiro desfile e exibição de vaidades e outras curiosidades vindas dos mais diversos cantos, do país e do mundo. E, melhor que grátis às damas, grátis para todos.

Hoje, uma jovem sem dúvida lindíssima nos seus prováveis 25 anos, mais um menos um, não encontrando mesa vazia e estando eu só, correspondeu à oferta que, apenas com o olhar, discretamente lhe fiz para usufruir de uma cadeira e respetivo lugar da minha mesa. Fiquei a saber que é simpatiquíssima, nova-iorquina de gema e que, porque de Guimarães ouviu tais louvores a amigos, decidiu vir aqui passar oito dias. Oito dias, oito! Não se mostrou desiludida.No meio de toda aquela gente, vimaranenses só reconheci dois.Um, um dos meus primeiros amigos de infância; o outro, o pai dele, gozando plenamente uma vida que já leva 104 anos.Reconheci mais rapidamente o centenário, que não recordo quando teria visto pela última vez, do que o filho, com quem eu tinha estado recentemente, pois que este, tendo deixado crescer barba de uns dias, ao vê-lo julguei não ser ele, mas um primo ou outro parente que se lhe parecesse. Deslocaram-se a pé até ao Largo, disfrutaram dele como eu, e os três disfrutamos uns dos outros, na mais amena, agradável e bem humorada cavaqueira.

Hoje aquele local, para mim, foi mais bonito e apetecível do que alguma vez antes fora.Tenho pena de não encontrar mais vimaranenses na Oliveira do que aqueles poucos que, como eu, são habituais frequentadores do melhor que a nossa cidade tem.

Guimarães,02 de agosto de 2019  António Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

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