Maria Isaura é 'embaixadora' da terra das flores no Mercado de Guimarães

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Em véspera de Dia de Todos os Santos, o mercado municipal de Guimarães conheceu um movimento intenso, com a procura de flores para ornamentar as campas e jazigos nos cemitérios.

Residente em São Faustino, Maria Isaura Salgado, de 82 anos, conhece como ninguém o ritmo dos dias que antecedem este feriado, bem como o aroma dos crisântemos, flores que têm sido associadas à memória dos que já partiram desde o fim da Primeira Guerra Mundial.

Sorridente, rodeada de flores, sentada num banco, é a produtora de flores que há mais tempo vende no terrado do Mercado Municipal. "Há mais de 50 anos que cultivo flores no campo. Nada do que aqui está bem de estufas, isto é tudo produzido no campo... Tudo!", insiste, ao sentenciar: "quando São Faustino deixar de produzir flores, acabam redondas, porque as flores de Guimarães vêm todas de São Faustino".
Receando pelo futuro da produção de flores naquela freguesia, a Dona Maria Isaura congratula-se por verificar o esforço e o gosto que uma nora dedica ao negócio, também ela comerciante no terrado do Mercado. "Ela pegou nisto, mas há pouco quem queira porque as flores dão muito trabalho. Não temos estufas e as flores que vê nesta zona do mercado (terrado) vem tudo de São Faustino. Quando São Faustino deixar de produzir, deixa de haver flores de Guimarães no Mercado", analisa, contando que quando começou o negócio pediu aos vizinhos "uns pezinhos". "As pontas das flores colocam-se na terra e rebentam bem, a gente arranca e planta! É assim!", recorda, indicando que quando começou "os lavradores melhores já produziam estas flores. Eles morreram e as filhas assumiram o cultivo".

Com efeito, São Faustino é a freguesia, onde os campos transformam-se em jardins, com variedades florais adaptadas a cada estação do ano. "Agora são os crisântemos, a urtemije, as coroas-de-rei. Nada cresce em estufas, ali não há estufas. É tudo ao tempo! Este ano, as flores tiveram muita chuva, mas vingaram", disse, sorrindo, satisfeita por ver a nora Conceição Faria a seguir os seus passos na floricultura.

A investigadora Fátima Carvalho Dias, no âmbito do projecto Heréditas - Atlas da Paisagem Cultural, da Câmara Municipal de Guimarães, identifica a tradição secular da produção de flores em São Faustino. "Graças a um microclima, que beneficia a qualidade do solo e a abundância da água, São Faustino é conhecida como “terra das flores”, destacando-se pela quantidade e diversidade de flores que ali crescem".
Para perceber esta singularidade, "temos de recuar ao séc. XVI, altura em que aparecem as primeiras referências documentais alusivas ao cultivo de flores cheirosas e variadas", explica a investigadora, realçando o valor patrimonial desta actividade para aquele território concelhio.

"A descrição da memória paroquial de 1758 apresenta uma variedade de flores, que rodeiam a Igreja e a residência, destacando-se a produção de raquéis. Em 1842, o cultivo de flores já se fazia de forma intensiva por toda a freguesia, com variadas espécies, e especial incidência dos cravos, ranúnculos e as estimadas raquéis", comenta Fátima Carvalho Dias, do Heréditas, agora ligado ao Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, numa alusão às flores cor-de-rosa também conhecidas como raquelinas.

Marcações: São Faustino, União de Freguesias de Tabuadelo e São Faustino, terra das flores, florlcultura

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