«Gandarela+Vida» transformou edifício da antiga EB 1 em pólo de convívio e dinamização cultural

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O edifício da antiga EB1 de Gandarela ganhou uma nova vitalidade desde que o estabelecimento de ensino encerrou. Todas as semanas, às terças e quartas-feiras, durante a tarde, o espaço acolhe as actividades do projecto social «Gandarela+Vida», permitindo o encontro de cerca de seis dezenas de pessoas em risco de isolamento social. As actividades são diversas e estimulam a união entre a comunidade local, gerando um entusiasmo entre os participantes, levando-os a desafiar muitas das aparentes limitações determinadas pela idade.

"Quem disse que, aos 60 ou 70 anos, não se pode aprender cavaquinho? Ou fazer uma tapeçaria?" As questões levantadas pelo Presidente da União de Freguesias de Conde Gandarela servem de mote para justificar a pertinência da iniciativa que tem servido para incutir ânimo e entusiasmo no rumo dos dias dos utentes. “Há uma alegria ímpar, uma vontade de participar, de colaborar nas múltiplas actividades e uma entreajuda notável", assinalou Flávio Freitas, apontando para a importância da orientação especializada nas diferentes actividades. "Com a ajuda do professor já criaram o hino de Gandarela, participando na construção da letra com os seus conhecimentos. Há uma troca de experiências entre a sabedoria dos mais velhos e o conhecimento técnico e pedagógico dos professores", observou o responsável, ao explicar que "este projecto resulta da necessidade de encontrar alternativas para enfrentar e combater o isolamento social". "As pessoas precisavam de sair de casa, de terem momentos de convívio. Em Gandarela não existia um espaço que reunisse estas condições. Aproveitando o encerramento da Escola Primária, com a integração dos alunos de Gandarela na Escola de Conde, decidimos reutilizar este espaço, criando um centro de convívio. Há mais de três anos que desenvolvemos actividades lúdicas, de música, canto, actividades manuais de pintura e tecelagem. Eles fazem aquilo que gostam. Não há actividades obrigatórias. Quem quiser participa nas aulas de ginástica, quem quiser aprende a tocar cavaquinho", apontou o autarca, atento e conhecedor da realidade de cada um dos utentes.

"Vêm quando querem e fazem aquilo que desejam no variado leque de ofertas. Temos um espaço condigno, onde podem participar activamente na construção de um projecto de raiz social e de alcance cultural capaz de combater o isolamento que era tão evidente em quem terminou a vida profissional activa, mas que continua a querer aprender", acrescentou, satisfeito com a presença de pessoas dos 60 aos 90 anos.
"São horas gratificantes, porque as pessoas chegam motivadas, com vontade de aprender e de darem o que sabem por uma causa maior que é a de todos – enobrecer a comunidade de Gandarela", destacou, assinalando a forma como os utentes acompanharam durante os meses de Setembro e Outubro o nascimento do mural de autoria do artista vimaranense Nelson Xize, inserido no projecto social  Gandarela+Vida, constituindo uma espécie de inspiração para que a vontade nunca esmoreça no esforço diário exigido pelas múltiplas adversidades e oportunidades da vida.

Exemplos de vitalidade e determinação

Jorge Machado não sabia tocar cavaquinho, mas foi “obrigado a aprender um bocadinho”. Incentivado pelo Presidente da Junta, “por um acaso”, decidiu aceitar o desafio e integra o grupo de sete pessoas que aperfeiçoam constantemente o domínio daquele instrumento musical. “Quem quiser vir para aprender, a porta está sempre aberta”, comentou, ao dar conta do enriquecimento que constituem os encontros semanais. “É um convívio muito bom, porque em casa e no sofá não se vai a lado nenhum”, indicou, sorrindo. Para além da música, está sempre disponível para colaborar no que for necessário para a dinamização do projecto.

“Sou presença assídua e adoro isto. Encontramos aqui os nossos amigos. Passamos umas horas maravilhosas, o que nos faz esquecer todos os problemas. É a melhor coisa que nos poderia ter acontecido”, revelou Glória Salgado.

"Procuro ajudar em tudo, enquanto estou aqui, estou entretida. Os cabelos brancos não nos impedem de fazer coisas bonitas", acrescenta, assinalando que o marido também participa no projecto e integra o grupo de cavaquinhos. “É uma pena não serem mais dias, se fosse todos os dias seria muito bom. Isto até dá saúde a quem participa, foi uma mais-valia para nós, porque damos vida a este edifício que corria o risco de ficar abandonado", apontou, ao realçar que regressou agora "com mais vontade do que quando era pequena e tinha de conciliar as exigências da aprendizagem com o trabalho doméstico”.

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"É um desafio descobrir estes talentos"
Liliana Rocha, professora de artes visuais

O projecto constitui uma espécie de regresso à escola, num modelo bem distinto daquele que os participantes conheceram na infância. A professora de artes visuais Liliana Rocha, desempenha uma função de mediação na dinamização das diferentes actividades.

“Procura-se dar continuidade ao que já fizeram ao longo da vida, gostam de estar ocupados, de praticarem a destreza manual, fazendo trabalhos com materiais reutilizáveis, criando tapeçarias, o que permite que estejam activos fisicamente", elucidou, considerando que "é um desafio descobrir estes talentos". "Eles gostam muito destes momentos, há pessoas que estão mais capacitadas e outras que gostam de vir aqui e, por exemplo, jogar às cartas", comentou, fazendo questão de salientar que "ainda fervilha no sangue esta ligação ao trabalho manual". 

Os trabalhos criativos embelezam o espaço e dão cor ao lugar onde se encontram e dão uma nova vida ao espaço que corria o risco de ficar votado ao abandono.

Marcações: combate ao isolamento social, Gandarela+vida

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