Turismo em baixa preocupa empresários da hotelaria, restauração e do comércio de 'souvenirs'
O desempenho do turismo neste início de verão está a causar apreensão entre os responsáveis ligados ao sector da hotelaria, restauração e comércio em Guimarães.
As taxas de ocupação nas unidades hoteleiras e alojamento local têm sido inferiores ao ano passado, os restaurantes não registam a afluência esperada e o comércio de 'souvenirs' desespera pelo dinamismo que habitualmente permite facturar no verão para aguentar o rigor do inverno.
Contactados pelo nosso jornal, os responsáveis da Associação de Comércio Tradicional de Guimarães (ACTG) e da Associação Vimaranense de Hotelaria (AVH) assumem a preocupação existente, o desânimo que leva os empresários a pedir uma estratégia que alavanque o destino e marca Guimarães, embora reconheçam a repercussão da inflação e dos juros altos.
"Há empresários do sector da hotelaria que nos últimos dois meses tiveram uma procura abaixo dos valores de 2022. Quer a hotelaria quer o alojamento local estão a ressentir-se e apresentam quebras na procura que estão a deixar as pessoas muito apreensivas. Em 2019, o alojamento local estava mais forte do que a hotelaria, mas a hotelaria apresentava níveis de procura elevados, agora, estes dois sectores têm uma procura reduzida, com reservas dos clientes espanhóis quase inexistentes", descreve José Diogo Silva, dirigente da AVH, ao dar conta que a actual situação está na origem de uma reunião realizada esta semana.
"Vamos reunir para perceber qual será o caminho, mas há uma redução na procura e na taxa de ocupação muito grande e que tem defraudado as expectativas dos empresários", aponta, ao justificar que, "no ano passado, por esta altura, a taxa de ocupação seria próxima dos 90 por cento, mas este ano assiste-se a uma descida considerável."
Para o actual cenário, segundo José Diogo Silva, contribui o elevado custo de vida, a inflação e os juros altos, mas há também outros factores a considerar: "Guimarães precisa de uma estratégia de turismo consolidada, um departamento de turismo que faça um maior acompanhamento e uma maior projecção da marca 'turismo em Guimarães'. "Achamos que Guimarães enquanto cidade turística está muito alocada naquilo que é Guimarães enquanto cidade de Cultura e as coisas têm de ser diferenciadas", assinalou, insistindo que "há entre agentes empresariais a percepção da inexistência de um trabalho sólido do departamento de turismo que tem contribuído para aquilo que é Guimarães enquanto marca de turismo. Toda a gente visita o Castelo e o Paço dos Duques de Bragança, mas não estamos a conseguir dar um salto para fixar as pessoas durante mais tempo, prolongando os períodos de permanência", argumenta, mantendo a esperança de que o próximo mês permita uma maior facturação. "Só no final do verão é que conseguiremos perceber", alerta.
A dirigente da ACTG classifica o cenário "dramático" para muitos empresários. "Em relação ao ano passado, pela auscultação que fizemos, a quebra é enorme, entre 30 e 40 por cento. Junho foi mau, julho está a ser péssimo e sente-se uma tendência decrescente em todos os sectores. Quer na restauração, quer nas lojas de roupa, quer nas lojas de souvenirs estão a sentir uma quebra muito grande", assevera Cristina Faria.
"Os nossos associados estão muito desanimados. O Município é responsável por esta inactividade, estou farta de dizer que é preciso organizar iniciativas que mobilizem as pessoas, que atraiam massas, porque os "as coisas que a Câmara têm vindo a fazer são demasiado elitistas, e não se reflectem no comércio em geral, na hotelaria e na restauração. Todos estão a sofrer", lamenta, ao considerar que "está próximo o período em que habitualmente se regista o pico da facturação para as actividades ligadas ao turismo".
Ao lembrar que o fenómeno dos emigrantes que no mês de agosto regressaram a Guimarães e "faziam compras a sério" já não tem o mesmo impacto, Cistina Faria defende no impulso das "actividades de rua, capazes de atrair muitas pessoas, convencendo-as a permanecer um ou dois dias. Queremos os turistas portugueses, porque esses gastam dinheiro, ao contrário dos visitantes que chegam nas excursões que são descarregados no Paço dos Duques de Bragança e são apanhados no Largo República do Brasil. Esses não deixam nada a Guimarães, só nos desgastam os passeios".
Questionado pelo nosso jornal, o Município adiantou que não recebeu qualquer queixa dos comerciantes quanto às quebras de facturação, remetendo a informação sobre a dinâmica da actividade turística para o relatório do primeiro semestre (ver texto abaixo).
Numa ronda efectuada por diversas unidades hoteleiras, João Sampaio, do Santa Luzia Art Hotel, confirmou que esperava uma taxa de ocupação superior à verificada no final de junho e início julho, registando o facto de um Campeonato Mundial de Dança realizado em Braga ter proporcionado "dias muito bons". O responsável não escondeu o optimismo quanto à ocupação no resto do verão, afirmando: "a experiência dis-me que as pessoas deixam as reservas sempre para a última hora. É o que se espera porque Guimarães tem muito para oferecer".
Afluência aos Postos de Turismo de Guimarães aumentou 7,7%
A afluência de visitantes aos Postos de Turismo de Guimarães, um dos indicadores da procura turística do Concelho, cresceu 22,3% no primeiro semestre de 2023, face ao último ano.
O número é revelado num relatório tornado público pelo Município vimaranense, em que são apresentados os dados referentes aos principais indicadores da actividade turística no Concelho. Assim, passaram pelos postos de turismo de Guimarães 25.913 visitantes no primeiro semestre, mais 1.851 do que no mesmo período do ano passado. Números que ficam bem longe dos registados em 2019, quando assinalaram 38.958.
De acordo com o mesmo documento, estes números têm "em consideração que o perfil do turista tem vindo a sofrer uma mutação nos últimos anos, nomeadamente no que respeita à procura de informações no local de destino, pois o viajante de hoje é uma pessoa cada vez mais informada, devido ao estudo/planeamento prévio que realizam dos locais a visitar".
Até ao final de Junho, a ocupação-quarto na hotelaria ficou-se pelos 46%, com uma subida de 1 pontos percentuais na taxa de ocupação da hotelaria face ao ano anterior, mas ainda longe dos 57% registados em 2019.
"Contudo, se considerarmos apenas as taxas médias de ocupação dos hotéis do centro urbano, chegamos a uma curiosa conclusão: a taxa de ocupação-quarto em 2019 e 2023 foi de 59%, ou seja, igual. Atento este facto, poderá concluir-se que, no que concerne ao alojamento na hotelaria, Guimarães tem registado um decréscimo na procura de alojamento fora do centro urbano", esclarece o documento.
Os principais monumentos de Guimarães também estão em recuperação e superaram os números de 2019. Os monumentos, museus e sítios arqueológicos da cidade-berço somaram 482.945 visitas no primeiro semestre de 2023, registando um crescimento de 168.477 entradas em relação ao semestre de 2022 (+53,6%) e 80.829 em relação ao mesmo período de 2019 (+20,1%).
O Teleférico de Guimarães também não fugiu à subida registada no último ano, embora o equipamento exigiu cuidados especiais, pelo que encerra ao público por determinados períodos para manutenção. Desta forma, temos que ter em conta que este equipamento esteve inoperacional no 1º trimestre de 2019 este equipamento esteve inoperacional.
O primeiro semestre deste ano registou 122.586 viagens, superando as 103.494 e 72.112 de 2022 e 2019, respectivamente. Ou seja, os primeiros seis meses do ano superaram em em 18,4% os números de 2022 e em 70% de 2019, quando comparado com os mesmo períodos.
*Texto publicado na edição de 19 de julho de 2023 do jornal O Comércio de Guimarães.
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