Passivo do Vitória desceu 10 milhões de euros, mas Conselho Fiscal alerta que "está em risco a própria sobrevivência do Vitória SC SAD"
No balanço consolidado apresentado pela Direção de António Miguel Cardoso, eleita em Março deste ano, pode ler-se que o total do passivo ascende agora a 57 milhões e 912 mil euros, quando em Junho de 2021 era de 67 milhões e 505 mil euros. Nas contas reveladas pelo clube, o passivo não corrente passou de 38 milhões e 448 mil euros para 19 milhões e 579 mil euros. Já o passivo corrente passou de 29 milhões de euros para 28 milhões e 332 mil euros.
Os activos do clube também sofreram uma quebra considerável. Há um ano, no Relatório e Contas, o Vitória apresentava activos no valor de 85 milhões e 852 mil euros, enquanto agora estão avaliados em 62 milhões e 217 mil euros.
No mesmo Relatório e Contas, o Vitória revela os valores pagos em alguns dos negócios efectuados nos últimos mercados. Metade do passe de Alfa Semedo custou aos cofres vitorianos 1 milhão e 700 mil euros, enquanto que por 80 por cento do passe de Toni Borevkovik foram gastos 1 milhão e 200 mil euros. Contratado no último defeso, antes do fecho das contas, a 30 de Junho, Matheus Índio custou 250 mil euros (metade do passe).
Segundo o Vitória, no último exercício a SAD efetuou vendas de direitos desportivos no valor total de 13 milhões e 570 mil euros, dos quais geraram mais valias no montante de 9 milhões e 704 mil euros.
As rescisões de contratos resultantes do fim do projecto da equipa sub-23 custaram 233 mil euros.
O parecer do Conselho Fiscal indica que últimos dois anos das contas da SAD “são críticos, pelos resultados negativos que a mesma atingiu”. “Nos primeiros oito anos de atividade, a SAD apresentou um acumulado de resultados positivos quase insignificante (cerca de 55.000 € acumulados), enquanto que, nos últimos dois exercícios (20/21 e 21/22), a mesma teve, em dois anos, um acumulado de quase 22 milhões de euros de resultado negativo. É tempo e urge inverter o rumo, pois está em risco, conforme pareceres do ROC dos últimos dois anos, a própria sobrevivência do Vitória SC SAD. A Vitória SC Futebol SAD apresenta capitais próprios negativos de 17,57 milhões de euros, resultantes de dois últimos exercícios contabilísticos extremamente negativos e penalizadores. Apesar da descida do Passivo ter sido significativa – cerca de 9,57 milhões de euros (15,51%), a descida do Ativo foi muito superior – cerca de 23,3 milhões de euros (40,35%)”, adianta o documento.
Em Junho de 2020, o passivo da SAD era de 23 milhões e 453 mil euros. Em Junho de 2021 subiu para 61 milhões e 690 mil euros e no fim deste exercício passou a ser de 52 milhões e 116 mil euros.
As contas do clube no último ano, que não incluem as da SAD, revelam um prejuízo de 311 mil euros, quando no orçamento estava projectado um lucro de 316 mil euros. O Conselho Fiscal assinala que “nos últimos dez exercícios, os resultados acumulados do Vitória SC, retirando as empresas associadas, resultam num total de prejuízos de 4,11 milhões de euros”. “Isto deve-nos levar a pensar que a parte económica é fundamental na vida do clube. Sem ela, a longo prazo, o futuro pode ser posto em causa. É fundamental o clube, a SAD e todas as participadas estarem economicamente fortes, pois só assim poderemos olhar para o futuro com mais confiança e alcançar os resultados desportivos que todos ansiamos”, acrescenta o documento.
Em suma, o Conselho Fiscal apresenta à Direção de António Miguel Cardoso os seguintes conselhos:
- a Direção deve manter uma gestão rigorosa do orçamento do clube vs. o executado, tendo em vista a manutenção do clube dentro de uma gestão rigorosa, uma vez que ainda se encontra sob a alçada de um PER.
- manter a rota de redução do défice estrutural que a SAD apresentou nos últimos anos, pois é a única forma de, no futuro, gerar resultados desportivos consistentes, sem que tal seja posto em causa pela necessidade urgente de vender ativos.
- a direção deve implementar um programa de recuperação de sócios com quotas em atraso e lançar um ambicioso programa de angariação de novos sócios que possam, no futuro, representar uma mais valia do ponto de vista da bilhética e do merchandising.
- pensamos que a marca VITÓRIA SC pode e deve ser potenciada tendo em vista a melhoria dos resultados operacionais quer do clube, quer da SAD.
-a direção deve ter em conta, na gestão do custo da dívida e das respetivas maturidades, a possibilidade de aumento (que já vem de trás) das taxas de juro, que irão naturalmente ter um impacto significativo sobre o serviço da dívida.
- a direção deve ponderar sobre a validade ou não face à realidade atual do protocolo existente entre o VSC e o Vitória SC SAD.
- a direção deve ter imaginação e criatividade financeira para fazer face aos compromissos que ainda subsistem para a compra da restante participação da Mário Ferreira SGPS, que à data de hoje, ainda se traduz na percentagem de 31,01 % num total de 3,55 milhões de euros.
Marcações: Vitória Sport Clube