"Parar o campeonato por dinheiro e não pela pandemia será mau para o futebol deste nível", defende o presidente do Ases de Santa Eufémia
O presidente do Ases de Santa Eufémia, Carlos Neves, deseja a retoma dos campeonatos da Associação de Futebol de Braga. Numa entrevista ao jornal DESPORTIVO de Guimarães, o dirigente sublinhou a ideia de que a retoma não deve ser condicionada por dinheiro, mas apenas por questões de saúde.
De que forma o Ases de Santa Eufémia tem procurado mitigar os efeitos desta paragem dos campeonatos?: "Há uma mensagem que foi passada internamente, para os nossos jogadores, treinadores e elementos da Direcção: temos de saber viver com isto. Preparámos a época normalmente, mesmo sabendo do momento que estamos a ultrapassar. Arrancámos com a temporada dos seniores, parámos com apenas quatro jogo disputados, o que é um pouco ingrato. Temos consciência do momento em que vivemos, por isso temos de estar preparados para continuar ou finalizar o projecto desportivo desta temporada. Estamos à espera das novidades que possam surgir. Se isto melhorar e os campeonatos forem reactivados, temos de estar preparados. Quanto à formação, tivemos um mês de treinos das equipas de futebol 11, depois parámos por uma questão de segurança. Mantivemos o futebol de base a trabalhar ao fim de semana, com o cumprimento de todas as regras que éramos obrigados a ter. Foi a forma de manter acesa a chama até chegar o mês de Janeiro, com a possibilidade de disputar o campeonato sub-20. Preparámos duas equipas, começámos a treinar, mas fomos obrigados a parar. É um ano ingrato, mas temos de saber viver com isto. Não é o que queríamos, mas dentro do contexto tentamos fazer o nosso melhor".
Que consequências é que acha que este contexto pode deixar para o futuro dos clubes?: "O Ases fez um orçamento muito apertado. O que está a acontecer vai de encontro ao que foi por nós planeado. Sabemos que há muitos clubes que dependem muito dos patrocínios e que esses patrocínios não estão a chegar, tal como acontece connosco. Todos aprendemos com isto. Temos de fazer orçamentos mais realistas em relação ao que podemos ter. Este era um ano que se adivinhava complexo, pelo que teríamos de olhar para as contas de forma mais realista. Não podemos olhar para uma época sempre da mesma maneira e esta já sabíamos que seria diferente de todas as outras porque a maior parte dos nossos patrocinadores estiveram fechados e não iam podiam continuar a apoiar-nos da mesma forma. Quem pensou desta forma, chega a esta fase sem estar muito mal, quem fez o orçamento como sempre fez nesta altura está a passar um mau bocado".
O facto de ter mostrado a sensatez de manter os pés assentes no chão pode tornar o Ases num clube mais forte num futuro em que muitos adversários vão passar dificuldades?: "O Ases sempre foi um clube que viveu a realidade. Gostávamos de ter o Ases numa outra dimensão no futebol sénior, mas temos de viver com a realidade. Isso não nos impediu de ser ambiciosos, porque construímos um grupo para lutar pela subida. Tivemos de construir um grupo em que a parte monetária não fosse a sua principal motivação, porque isso seria irrealista. Os clubes, como as empresas, devem preparar o ano atendendo à realidade em que vivem. Numa temporada atípica, tivemos de nos preparar de uma forma diferente. Ouço comentários de dirigentes que defendem que os campeonatos deviam ser suspensos por uma questão financeira. Isso é muito ingrato. Uma coisa é sermos obrigados a parar por uma pandemia, outra é podermos voltar a jogar em Março, com um campeonato que se possa prolongar até Junho, e aparecer o plano financeiro à frente. Será mau se isso acontecer, ainda para mais na 1.ª Divisão".
E é um cenário ainda mais penalizador para aqueles que fazem um maior esforço para cumprir as suas obrigações?: "Sim, um pouco. Eu não digo que quem investe em jogadores que não é um clube organizado, só lembro que este é um ano diferente. Se procuro alguém que me permite fazer a diferença no plantel, devo fazê-lo de uma forma sustentada. Parar o campeonato por dinheiro e não pela pandemia será mau para o futebol deste nível. Muitas das equipas que estão a competir connosco têm formação e devem dar o valor a isso".
O regresso no mês de Março é um cenário optimista para o regresso do futebol sénior?: "É complicado estar a antecipar cenários, vai depender muito dos números que vão surgir nas próximas semanas. Se tivermos uma situação mais controlada, o que não acontece agora, Março pode ser um bom mês para voltarmos. Acho que o desporto deu um bom exemplo, houve jogadores com Covid-19, mas não conheço casos de transmissão no nosso futebol. Aconteceu-nos a nós e a vários clubes. As empresas continuam a laborar, as pessoas trabalham com as devidas precauções. No futebol era um pouco o mesmo que acontecia, toda a gente tinha todos os cuidados, ninguém colocava o colega em risco. Por isso, se isto estiver mais controlado nos hospitais, como todos desejamos, em Março podem ser reactivados os campeonatos e concluí-los até Junho em Julho. É exactamente isso que espero".
Marcações: Associação de Futebol de Braga, Ases Santa Eufémia