Júlio Castro reage à demissão de Júlio Mendes: "Esperamos que não seja uma manobra de diversão"

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Júlio Vieira de Castro, candidato derrotado por Júlio Mendes nas eleições de Março do ano passado, reagiu esta quarta-feira, através de comunicado, à recente demissão da Direcção do Vitória. Num extenso comunicado assinado por todos os elementos que compuseram a sua candidatura, Júlio Vieira de Castro aproveita, nomeadamente, para reagir às críticas de que foi alvo. O comunicado, na íntegra, é o seguinte: 

"Como ponto prévio, os signatários repudiam veementemente todos os comportamentos que ofendam, por qualquer forma, a dignidade e honra dos visados, muito particularmente daqueles que representam o Vitória Sport Clube. Primeiramente, somos todos Vitorianos!  Foi a Nação Vitoriana em geral, e este grupo de sócios em particular, surpreendida com a decisão tornada pública e formalizada pela Direcção do Vitória Sport Clube, no dia 27 de Maio de 2019, de renúncia dos seus membros aos cargos que desempenham no Clube e para os quais foram eleitos no recente sufrágio eleitoral. 

Sem prejuízo de ser entendimento dos signatários que as circunstâncias actuais aconselham moderação e serenidade, tendo sempre como norte o superior interesse do Vitória Sport Clube, não podem todavia deixar de manifestar a sua mais profunda estupefacção e incredulidade perante o teor do comunicado emitido pela Direcção demissionária. E não sem antes lamentarem o tom e modo como surge redigido o comunicado que provoca a presente reacção, indignos de uma instituição com a história e elevação do Vitória Sport Clube, o que é certo é que, de forma expressa ou encapotada, são produzidas afirmações, acusações, insinuações e calúnias que atentam contra o bom-nome de sócios vitorianos, todos com dezenas de anos de filiação ao Clube, que tiveram a ousadia de propor um projecto alternativo para o Vitória Sport Clube, no que aparenta ser uma deplorável tentativa de lhes colar uma imagem de autores morais, ou até materiais, da contestação sofrida pela Direcção no ano transacto, algo que, por tão rotundamente falso, não podia evidentemente passar em claro. Tal tentativa começa logo com a alusão a uma afirmação, de resto não concretizada, que o Sr. Presidente do Vitória Sport Clube imputa ao anterior candidato Júlio Vieira de Castro, alegadamente proferida há mais de um ano, no rescaldo das eleições, e resvala para uma série de insinuações e considerações genéricas e infundadas cujo único objectivo discernível é o achincalhamento pessoal de quem ousou, há mais de um ano e legitimamente, manifestar a sua discordância com a actuação da direcção, num triste exercício de demagogia que é contudo coerente com o discurso de desunião que sempre foi adoptado pela Direcção demissionária e que se manteve até ao comunicado final, o que indicia que quem não aceitou ainda os resultados eleitorais foi o Sr. Presidente do Vitória Sport Clube. 

Quem não se sente não é filho de boa gente, diz o povo na sua avisada voz, e Vitorianos que sacrificaram tanto, de forma genuinamente altruísta, para apresentarem um projecto que visava unicamente o engrandecimento do Vitória Sport Clube não mereciam tão torpes acusações nem ser sujeitos a tão aviltantes insinuações, que embora denotem a falta de coragem de quem as produziu são apenas aptas a enganar os mais distraídos ou incapazes, embora gostassem os signatários de ver o Sr. Presidente do Vitória Sport Clube demonstrar tamanha vitalidade e agressividade na defesa do Clube perante outras instituições e não somente contra os seus próprios Consócios.  

Nunca, em momento algum, qualquer dos signatários ultrapassou os limites da urbanidade, elevação ou educação ao referir-se ao Sr. Presidente do Vitória Sport Clube, restantes elementos da Direcção ou decisões por estes tomadas no exercício dos cargos para os quais foram eleitos, mantendo desde o último acto eleitoral uma postura discreta e responsável, como não podia deixar de ser pois o Sr. Presidente do Vitória Sport Clube é credor de todo o respeito dos signatários, quanto mais não seja institucional, pois é ele quem carrega o símbolo. Nunca, em momento algum, qualquer dos signatários promoveu ou incentivou ataques de natureza pessoal, fomentou insultos ou injúrias, numa lógica de ascensão ao poder, como de forma velada resulta do comunicado emitido pela Direcção. O que anima este grupo de sócios é o amor ao Vitória Sport Clube e não qualquer ambição de poder, por muito estranho que tal possa surgir a alguns. Este projecto, que se extinguiu no dia do acto eleitoral, era verdadeiramente único porquanto corporizava o que genuinamente faz do Vitória Sport Clube um clube grande, um amor desmedido e um desprendimento pessoal em prol dos interesses do Clube, sem politiquices ou agendas escondidas.  

Os signatários não podem ser acusados de provocarem instabilidade unicamente por, num momento difícil da vida do clube, terem personificado o descontentamento de mais de 3000 sócios vitorianos, que se demonstraram preocupados com o rumo que o Clube seguia e confiaram o seu voto num projecto alternativo àquele preconizado pela Direcção ora demissionária. O que constituiria resultado natural da democracia - a salutar divergência de ideias e opiniões - aparenta ter sido perspectivado como uma enorme ingratidão pela Direcção cessante, afinal mais de 3000 vitorianos não estavam assim tão convencidos das virtudes e eficácia da gestão até então protagonizada pela Direcção. O azedume provocado por tão expressiva manifestação de vontade parece não mais ter abandonado a Direcção demissionária, e muito particularmente o Sr. Presidente do Vitória Sport clube, e ao invés de ter sido capitalizada como factor de união (aproveitando alguns contributos trazidos ao debate durante a campanha e colhendo algumas das críticas para ulterior ponderação) foi transformada numa trincheira precisamente por quem tinha como obrigação primeira promover e zelar pela coesão social do clube.

Nesse sentido, este comunicado final é a comprovação da falta de sentido vitoriano que esta Direcção não tem cessado de demonstrar, insultando parte significativa dos sócios vitorianos unicamente por pensarem diferentemente. Se existem culpados pelo clima de instabilidade criado, eles estão bem à vista para o olhar sério e imparcial. Nunca, em momento algum, os signatários arregimentaram vitorianos, como surge implícito em todo aquele argumentário desprovido de qualquer lógica quanto mais apego à verdade dos factos, para contestarem a Direcção demissionária. Para nós não faz sentido existir oposição no contexto do Vitória Sport clube pois, como já frisado, os vitorianos foram chamados às urnas e escolheram democraticamente aqueles que queriam à frente do clube no triénio subsequente. É, aliás, até depreciativo fazer tal sugestão pois os vitorianos pensam pela sua própria cabeça e jamais se deixariam instrumentalizar de tal modo. É calunioso, injurioso e ultrajante que alguém ouse sugerir que existem sócios do Vitória Sport Clube que, indisfarçavelmente, desejam o fracasso do Clube. Tal afirmação somente pode ser proferida por quem não sente, nem entende, o Vitorianismo.

O Sr. Presidente do Vitória Sport Clube parece querer confundir-se com o próprio Clube, numa visão retorcida da realidade, de resto patente naquelas várias páginas do comunicado em que avultam imprecisões históricas para se sustentar a obtenção de recordes que não se verificaram ou omitir aqueles que foram negativos, num exercício de auto-elogio difícil de compreender quanto mais qualificar.  Não foi uma franja de adeptos, e muito menos os signatários, que condenaram o clube à estagnação por não terem votado favoravelmente as propostas oferecidas pela Direcção em 8 de Setembro de 2018. Os sócios do Vitória Sport Clube, reunidos em Assembleia Geral (por definição o expoente máximo da democracia participativa dos sócios no seio do Clube) não votaram em concordância num número suficiente conforme determinam os Estatutos do Clube, as propostas que lhes foram apresentadas, sem qualquer esforço de esclarecimento. Menos ainda constavam do projecto da Direcção que foi sufragado pelos sócios. Os Vitorianos, como demonstraram, não passam cheques em branco a quem quer que seja. E, aparentemente percebendo essa evidência, a Direcção comprometeu-se a promover o esclarecimento dos sócios mas tal compromisso, como outros, não foi respeitado, ficando reservado para uma tirada injuriosa num comunicado em que se apontam a sócios do Vitória Sport Clube características tão infames como “sede de poder”, “clima de ódio pessoal” e “rancor”. Que o Sr. Presidente do Vitória Sport Clube convivia mal com a crítica já era facto conhecido, agora apelidar de forma tão violenta sócios da Instituição que foi eleito para dirigir é realmente demonstrativo da falta de respeito a que vota aqueles que com ele não concordam obedientemente e são muitos. 

Bem vistas as coisas, o Sr. Presidente do Vitória Sport Clube revelou idêntico sentido de responsabilidade ao proferir estas afirmações falsas e divisionistas como a escolher o momento para o anúncio da renúncia ao cargo. Se bem entendem os signatários, analisando os fundamentos propriamente invocados pela Direcção demissionária para esta tomada de posição, eles esgotam-se em duas circunstâncias fundamentais - a contestação de parte dos sócios do Vitória e a impossibilidade de atrair investimento sem alterações estatutárias cirúrgicas. Quanto à primeira, para além da reafirmação do que ficou sublinhado no ponto prévio, seria verdadeiramente surpreendente, para não dizer insólito, que uma Direcção se demitisse unicamente devido à contestação dos sócios, muito particularmente num clube como o Vitória Sport clube, com a massa crítica que sempre o caracterizou.

Quanto à segunda questão competiria, salvo melhor opinião, à Direcção demissionária convencer os Vitorianos da bondade ou inevitabilidade da solução proposta.  O que os signatários estranham, e será certamente prejudicial para o Vitória Sport Clube, é que esta tomada de posição surja mais de 8 meses após a Assembleia Geral que serve de fundamento segundo à renúncia e 15 dias após o jogo de Moreira de Cónegos, em que ocorreram os incidentes que surgem a justificar o seu fundamento primeiro, quando a época que se avizinha deveria estar a ser preparada a todo o vapor até porque se inicia mais cedo este ano. Esperam os signatários que estes fragilíssimos argumentos usados para justificar o abandono de funções por parte da Direcção demissionária, com consequências imprevisíveis para o Vitória Sport Clube, não venham a revelar-se uma manobra de diversão que pretende camuflar outras intenções, o Vitória não merece isso.  

Neste Mundo ao contrário, em que os sócios são culpados de todos os males e a Direcção credora de todos os méritos, há até quem tenha o descaramento de imputar responsabilidades a quem, sem o contributo das máquinas institucionais de propaganda, se apresentou livremente a eleições há mais de um ano mas não consegue divisar a irresponsabilidade de quem abandona o barco após apenas um ano de mandato e hipotecando seriamente as expectativas do Vitória Sport Clube para a próxima época, sabe-se lá por que motivo.

Neste Mundo ao contrário, aqueles que não tiveram coragem de deixarem de ser candidatos proveta ao serviço do status quo vigente ainda se arrogam ao direito de dar lições de moral, numa espécie de delírio egocêntrico, a quem, desprendidamente, partiu para umas eleições unicamente com o apoio e incentivo de milhares de sócios vitorianos e com o singular propósito de agigantar o Vitória Sport Clube.

Neste Mundo ao contrário, os sócios do Vitoria Sport Clube que não se revêem na cartilha dominante são vistos como acéfalos dominados por perigosos populistas que, pasme-se, não são as figuras e personagens usuais destas lides eleitorais. Felizmente pois o Vitória Sport Clube só tem a ganhar se conseguir libertar-se dos grilhões que há muito o limitam e o impedem de atingir o seu potencial.  Tecidas estas considerações, para defesa da honra e reposição da verdade, é da mais elementar responsabilidade que o ambiente em torno do Vitória Sport Clube e preparação de inevitáveis eleições seja sereno e unificador.  

Todos os vitorianos querem, sem excepção, que o clube seja cada vez maior e anseiam ardentemente por verdadeiras conquistas. Isso somente será possível, independentemente de quem governe o clube, se os Vitorianos estiverem unidos e não continuarem a alimentar guerras estéreis que, até por definição, nenhum proveito trazem. Saibamos unir-nos pois essa é a matriz identitária do Vitória Sport clube e seu grande potencial de grandeza. Surgirão certamente candidatos qualificados de entre a massa adepta Vitoriana, disso estamos certos.  É tempo de união e esperança.  Viva o Vitória! "

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