Tózé Mendes vai para a Arábia Saudita treinar a equipa sub-17 do Al Nasr

Depois de nove anos na formação do Vitória o jovem treinador acedeu ao convite de Luiz Felipe e parte dentro de pouco dias para a aventura na Arábia Saudita.
Como estão a ser os últimos dias antes da aventura na Arábia Saudita?
Com ansiedade, admito. Já passou o primeiro impacto da notícia, especialmente para a minha esposa e para os meus pais, com um misto de tristeza e de felicidade pela oportunidade que me foi concedida. Agora sinto-me um pouco ansioso, mas estou super motivado para lá chegar e começar a trabalhar. Mas ainda falta uma semana e meia e quero aproveitar ao máximo esta linda cidade, que me vai custar muito deixar, e quero estar próximo das pessoas que me são mais queridas.
Como é que surgiu este convite para treinar a equipa de Sub-17 do Al Nasr?
Eu fui falando com o Luiz Felipe ao longo da última época. Com o sucesso que ele obteve – campeão nacional – foi convidado para ser o coordenador do futebol de formação do Al Nasr, deixando a equipa de Sub-17. Os responsáveis do clube pediram-lhe para contratar outro treinador português e ele decidiu endereçar-me o convite, uma vez que trabalhámos juntos quatro anos seguidos no Vitória.
O Luiz Felipe disse-nos que o Tozé já está identificado com o seu modelo de jogo e que até o ajudou a criá-lo. Esse factor terá sido decisivo na escolha?
É verdade. Criámos um modelo de jogo desde o primeiro ano em que trabalhámos juntos, nos juvenis, em 2006/07. Lembro-me que foi uma época um pouco atípica, porque terminámos a primeira fase, salvo erro, a 11 pontos do Braga e depois lutámos até ao último jogo com o Sporting pelo título. Foi o ano zero desse modelo que foi evoluindo ao longo dos últimos anos. Foi um trabalho muito forte e criámos uma empatia grande, porque identifico-me muito com a maneira dele trabalhar.
Depois, ao passarmos para os juniores, encontrámos uma realidade diferente. Começámos a treinar à tarde e tivemos a oportunidade de explorar um universo enorme de situações novas.

Foram nove anos na formação do Vitória.
Entrei em 2002/03 pela mão do Professor Sérgio Cunha. Tive alguma sorte, porque foi logo depois de ter terminado a faculdade. Estive duas épocas nos infantis. Depois com a entrada do Emídio Magalhães, trabalhei com ele dois anos nos iniciados e atingimos a fase final. Seguiu-se a subida para os juvenis, onde encontrei o Luiz Felipe e onde quase conseguimos ser campeões. Depois o Luiz ficou com os juniores e aí, pela minha indisponibilidade profissional, abracei outro projecto: a análise e observação de jogos e de potenciais reforços e uma equipa das escolinhas. Estive assim dois anos e na última época trabalhei com o Manuel Freitas no projecto do Sandinenses, com a equipa dos juvenis B do Vitória, em que alcançámos a subida aos nacionais.
Que dificuldades espera encontrar na Arábia Saudita?
Eu levo alguma vantagem em relação ao Luiz Felipe e ao Rui Vieira. Já estou minimamente identificado com a realidade que vou encontrar, mas vai ser um choque em algumas situações que o Luiz me foi contando. 
Em relação ao futebol, eu já tive oportunidade ver alguns excertos de jogos. Ao contrário do que se possa pensar é um campeonato positivo. Vi jogadores muito bons tecnicamente, muito rápidos. Se calhar falta-lhes algo mais, ao nível da organização formativa. 
 
Tenho que me adaptar à cultura e à religião, respeitando-os sempre.

Em termos culturais, se calhar, vai ser um pouco mais complicado?
Tenho que me adaptar à cultura e à religião, respeitando-os sempre. Tenho a consciência que vai ser complicado no início. O Luiz contou-me que por vezes param o aquecimento para rezar e que os jogos são marcados mediante os horários das rezas em cada cidade. Mas tudo isso faz parte da nossa capacidade de adaptação. 
Os nove anos que leva de Vitória são uma boa bagagem para esta aventura?
Sem dúvida. Sinto-me preparado. Posso dizer que sou um treinador à Vitória. Este clube tem tido a preocupação de formar treinadores para potenciar-mos ao máximo jovens valores. 
Tenho uma boa experiência, até porque já disputei fases finais em todos os escalões. Sinto-me capaz de abraçar este projecto.
O Luiz Felipe foi campeão na categoria que agora vai orientar. Vai ter uma herança pesada?
Tenho consciência disso.Mas o Luiz nem sequer me falou em ser campeão. Apenas pediu para levar a experiência e empregá-la ao serviço do Al Nassr, para tentar potenciar os jovens valores que o clube tem. 
O meu objectivo principal não é ser campeão nacional. É sim levar para a frente o projecto que o Luiz iniciou. Sei que não vai sem num ano que vamos implementar tudo aquilo que queremos, mas vamos lançar as bases com um trabalho muito forte. 
Quanto ao título e sendo sincero, claro que sonho. Vou trabalhar para alcançar o melhor resultado possível. Se for campeão tanto melhor. Mas não estou obcecado em ganhar de qualquer maneira. O que os dirigentes do Al Nasr querem é que continue a organização do departamento de formação, para quem sabe, daqui a um ou dois anos, estar uma nata de treinadores portugueses, desde os sub-8 até, quem sabe, aos seniores. 
Assinou contrato de apenas um ano, mas como disse aplicar esse projecto leva mais tempo. Espera ver esse contrato prolongado?
Acredito no meu trabalho e, como o Luiz assinou por mais três anos, assumo que gostaria de, pelo menos, ficar por lá também esse tempo. Só assim poderemos implementar o projecto que idealizamos para o clube. E também penso em evoluir para atingir outros patamares. 
Como classifica esta aventura?
A concretização de um objectivo de vida, de um sonho, que é poder dedicar-me ao futebol a 100 por cento.
Aqui em Portugal é complicado fazermos isso no futebol de formação. O Vitória é um grande, mas se calhar para já isso só é possível ao nível de Benfica, Porto ou Sporting. Deus queira que daqui a uns anos o Vitória também se possa profissionalizar na formação.

Marcações: Desporto

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