Dia dos Centros Históricos: o orgulho 'fazer parte' do Património Mundial em Guimarães
O sorriso nos lábios e a alegria expressa no olhar revelam o contentamento de quem vive e trabalha no Centro Histórico de Guimarães.
Neste Dia Nacional dos Centros Históricos, na Rua Egas Moniz, ou melhor, na "Rua Nova" como é frequentemente apelidada numa alusão à anterior denominação toponímica (Rua Nova do Muro), "Quininha" e Margarida Duarte são vizinhas e cúmplices no orgulho de viver e trabalhar num espaço que desperta cada vez mais interesse e atrai visitantes dos quatro cantos do mundo.
Embora não seja residente na área que ostenta o prestígio e reconhecimento da classificação com o título de Património da Humanidade desde 2001, Margarida escolheu este sítio para desenvolver o seu modelo de negócio, com o cruzamento dos labores tradicionais com a modernidade.
No ateliê Perpétua Roxa, a porta está sempre aberta, podendo-se interagir com a designer e criadora de moda enquanto ela corta e cose uma das suas peças de roupa. "A minha ideia foi inovar, valorizando o tradicional bordado de Guimarães, fazendo a sua aplicação ao vestuário. Tenho várias peças, mas o colete branco, com os característicos pontos de bordado a fio vermelho, tem muita procura. Ainda recentemente enviei cinco peças para a Arábia Saudita", revela, acrescentando que o serviço de confecção de peças de vestuário por medida regista assinalável procura, quer de residentes nacionais, quer de estrangeiros, servindo a internet e as redes sociais para atrair e fidelizar novos clientes.
No seu ateliê, Margarida Duarte conta muitas vezes com a presença da vizinha. "Gosto de ajudar naquilo que posso. Somos vizinhas e amigas", refere Joaquina Rosa Silva Pinto Carreira, de 70 anos, aposentada.
As pedras das calçadas das ruas e praças do Centro Histórico de Guimarães conhecem bem os passos da «Quininha», moradora na Rua Egas Moniz, conhecedora da evolução do ambiente, das dinâmicas e ao longo das últimas décadas.
Em cada esquina, acompanhando-a, identifica-se com mais nitidez o que existe e partilha-se a saudade das ausências ditadas pela vontade dos homens e pela força dos momentos.
"Nasci na praceta da Rua de Donães, na casa dos ferreiros; o mestre era meu avô", alinha, depois de, sorridente cantar o nome completo, advertindo: "sou prima direitinha do Gaspar Carreira", o artesão célebre pelas representações em ferro de personagens da Cidade, aplicando os conhecimentos do ofício do avô.
Através do seu olhar, as linhas rectas e geométricas do casario surgem preenchidos de emoções, com dramas e vitórias, de tantas vidas de pessoas que conheceu, amparou e acompanhou ao virem ao mundo, na partida para outras paragens ou até na sua despedida terrena.
No acompanhamento das actividades do Banco da Partilha, na limpeza e asseio da Irmandade de São Crispim e São Crispiniano e na manutenção do passo da Senhora da Guia, a «Quininha» dá sentido ao património que milhares de turistas fotografam quando passam por Guimarães.