Domingos Silva é o presidente da Associação de Apoio aos Deficientes Visuais do Distrito de Braga

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«Gente Feliz...com os olhos nas mãos!», é o lema de Domingos Silva transversal à Associação de Apoio aos Deficientes Visuais do Distrito de Braga (AADVDB), a qual lidera desde 1996.

Domingos Silva é deficiente visual, e nunca conheceu outra realidade, por isso, tem os outros sentidos bastante apurados. Ouve como ninguém e a sensibilidade ao toque é bastante mais intensa, daí dizer que tem os olhos nas mãos. Tem 51 anos e vários sonhos, grande parte deles já os conseguiu concretizar, mas há um que quer realizar logo que possível. E disso, falaremos mais à frente. 

Assim que chegamos às instalações da AADVDB, já estavam à nossa espera. Domingos Silva estava acompanhado da directora técnica do Centro de Atendimento, Acompanhamento e Reabilitação Social para Pessoas com Deficiência ou Incapacidade (CAARPD), Célia Esteves, e receberam-nos de braços abertos. Domingos é bem disposto por natureza e são poucas as coisas que lhe mudam o humor, e Célia, sempre disponível, foi quem nos guiou pelas instalações e nos mostrou com orgulho o que de bom se faz naquela instituição.

 A Associação de Apoio aos Deficientes Visuais do Distrito de Braga foi fundada com o objectivo de apoiar e promover a inclusão social, educativa e profissional das pessoas com deficiência visual na região de Braga. A associação busca proporcionar melhores condições de vida para essas pessoas, através de iniciativas que visam a sua integração na sociedade, o acesso a serviços e recursos adequados, e o desenvolvimento de habilidades que lhes permitam viver de forma mais independente e com mais qualidade de vida. "Naquela época, no distrito de Braga, não havia nenhuma instituição dedicada à deficiência visual. Fui desafiado por um professor, que infelizmente já não está entre nós, a criar essa associação para ajudar as pessoas com deficiência visual. Começamos com férias desportivas através do ensino especial e, a partir daí, a associação cresceu”, explicou Domingos Silva. 

Novo impulso no 16º ano de Associação

Após 15 anos da sua fundação, a AADVDB viu surgiu uma nova fase, marcada por um renovado impulso e expansão das suas actividades. Este período trouxe consigo a implementação de novos projectos e a criação de parcerias estratégicas que reforçaram a capacidade da associação em atender as necessidades dos seus membros. O foco na inovação e na adaptação às novas realidades permitiu à associação ampliar o seu impacto na comunidade, oferecendo mais serviços e apoio especializado para garantir a inclusão e o bem-estar das pessoas com deficiência visual. Já em 2006 uma nova injecção de energia foi administrada com a implementação de um Centro de Atendimento, Acompanhamento e Animação, onde, em instalações arrendadas mas reformuladas para o efeito, os sócios podem usufruir dos serviços de uma equipa técnica multidisciplinar (constituída por uma Técnica Superior de Serviço Social, uma Psicóloga, um Técnico Superior de Reabilitação Psicomotora, Animadora Sociocultural e duas monitoras/motoristas), para além de variadíssimas actividades de socialização, desporto e lazer, permitindo, assim, dar respostas sucessivas e em simultâneo, às inúmeras solicitações resultantes da deficiência visual. 

O CAVI desde 2018

O CAVI - Centro de Apoio à Vida Independente - é outro dos serviços implementados para dar respostas a outras necessidades que existem na Associação e é o responsável pela disponibilização de Assistência Pessoal a pessoas com todo o tipo de deficiência. Iniciou em 2018 e conta com uma equipa técnica composta por 4 elementos (Psicologia, Técnica Superior de Reabilitação Psicomotora e 2 Técnicas Superiores de Serviço Social), sendo que todos os serviços são totalmente gratuitos. "O apoio consiste em dar assistência aos nossos beneficiários, e esse serviço contempla o auxílio em todas as tarefas diárias desde o levantar até ao deitar. O assistente pessoal acompanha o beneficiário e auxilia-o em tudo o que ele necessita, desde o levantar-se da cama, preparar-se para sair, acompanhar em todas as atividades de lazer como ida ao café, cinema, auxiliar na procura de trabalho ou mesmo no local de trabalho, resolver assuntos nas finanças ou outras entidades, entre outros", elucidou a directora técnica Joana Branco.     

A lista de espera por uma vaga destes serviços já vai longa e 50 é o número máximo de beneficiários a que o CAVI consegue dar resposta, porém, pode inscrever-se e aguardar pacientemente. "Tem de ter obrigatoriamente 14 anos e o atestado multiusos que certifique uma incapacidade mínima de 60%", esclareceu. 

Actualmente, a associação emprega 34 pessoas, incluindo 22 assistentes pessoais, 9 técnicos, 1 administrativa e 2 monitoras/motoristas. “Atendemos 50 utentes no CAARPD e 50 beneficiários no CAVI”, referiu Domingos Silva.

«Domingos aos Sábados»

Para além do CAARPD e do CAVI, a Associação dispõe de outras valências, nomeadamente, a Rádio União, que foi implementada há pouco mais de um ano e incluiu uma programação diversificada e inclusiva, através de notícias, programas de entretenimento e podcasts. "Desde jovem que sempre tive o bichinho da rádio e considerei importante criarmos esse projecto para dar voz e amplificar a presença dos deficientes visuais na sociedade", revelou. Com um podcast intitulado «Domingos aos Sábados», trocadilho que achei brilhante, o presidente da AADVDB, vai criando conteúdos expressivos normalmente em formato de entrevista que tem como principal objectivo lembrar às pessoas a importância de existir uma instituição com estas características. 

A grande maioria das pessoas não imagina o que é enfrentar a escuridão diária, e por isso, cada desafio é uma oportunidade de iluminar o caminho. A AADVDB procura oferecer um conjunto de soluções para quem depende da ajuda de outrem. É a pensar neles que diariamente apresentam actividades para entreter, mas também para orientar a vida de quem só vê com as mãos, os ouvidos, o nariz e a boca. “Oferecemos uma variedade de actividades. Começamos o dia com hidroginástica em parceria com a Câmara Municipal. Na parte da tarde, temos actividades de reabilitação, ginástica, actividades artísticas e manuais, além de jogos cognitivos, como dominó e jogos de memória”, contou Célia Esteves.

Muitos utentes são de Guimarães

Esta associação tem as portas abertas a todos os deficientes visuais do distrito de Braga e ainda oferece transporte. Todavia, enfrenta desafios financeiros como qualquer outra instituição que depende de subsídios e da generosidade de beneméritos. Mas Domingos Silva é imparável e em qualquer evento vê uma oportunidade para apresentar a AADVDB. E com o seu espírito empreendedor e altruísta vai conseguindo que a associação seja falada um pouco por todo o País, não é à toa que foram já inúmeras as figuras públicas que por lá passaram e deram o seu contributo. Zé Amaro é o embaixador da instituição, mas foram já vários os ministros, cantores, jogadores, apresentadores e actores nacionais que quiseram conhecer o trabalho da AADVDB. "As angariações de fundos durante festas e eventos são essenciais para manter as operações e financiar melhorias, como a compra recente do edifício da associação”, frisou Domingos Silva.

Mas também fez questão de comentar a necessidade de apoio do Município de Guimarães: “Precisamos de mais apoio da Câmara de Guimarães para fortalecer os nossos serviços, pois apesar de estarmos sediados na Póvoa de Lanhoso temos muitos utentes de Guimarães a quem prestamos auxílio”, sublinhou.

O sonho de Domingos Silva

E voltando ao sonho por realizar de Domingos Silva e falando de projectos futuros, “actualmente, não temos residências ou lares, mas há um projecto em andamento para criar residências autónomas. É um sonho que espero realizar em breve”, reforçou.

Esta associação é um exemplo de dedicação e de esforço contínuo para melhorar a vida das pessoas com deficiência visual no distrito de Braga, destacando a importância do apoio comunitário e das parcerias para o sucesso da associação.

 

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